Capítulo 3

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Eu decidi colocar tudo em ordem começando pela minha casa, eu não vejo necessidade de manter as coisas da minha mãe aqui, eu sei que a casa era dela, mas ela não vai mais voltar, ela não vai mais usar as roupas, os sapatos, as jóias. Faz apenas uma semana que ela morreu, mais ela sempre irá viver no meu coração e nas minhas lembranças, mas não a necessidade de manter as coisas dela aqui como se fosse um santuário, ao contrário da minha mãe eu não me importo com bens materiais, então decidi doar tudo que tivesse utilidade e jogar fora tudo que não tivesse, detalhe apenas algumas coisas porque se eu for doar tudo dela eu fico sem nada, não éramos ricas mas por incrível que pareça a dona Ashley se virava bem com o salário de gerente, eu diria que bem até demais, nossa casa é uma das melhores do bairro, e o bairro é um dia melhores da cidade, nunca perguntei como ela conseguiu comprar essa casa e ela também nunca se importou em dizer, enfim, Até que não foi tão difícil, a pior parte foi tentar conter as lágrimas quando abri o guarda roupas, a cada vestido que eu botava na caixa uma lembrança vinha me fazendo chorar, o vestido que ela usou na minha formatura do ensino médio, um outro que ela usou no dia que eu ganhei um prêmio insignificante da escola, e o melhor de tudo as roupas de mendigo que ela usava em casa, ela sempre falava que o conforto vem antes da moda... confesso que fiquei com algumas coisas dela, alguns sapatos que eu sempre pedia para usar e ela nunca deixava, dois vestidos que ela amava esses serão para guardar mesmo porque os dois estão bem velhinhos e são muito chamativos e antiquado para a moda atual, não tinha muitas fotos nas paredes então eu peguei todas as fotos nossa que encontrei coloquei em porta retratos e espalhei pela casa inteira tive que tirar alguns santos do lugar mas espero que eles me perdoe, ela era aquela mãe tradicional, aquela que sempre que via uma planta ou uma roseira tirava uma foto perto sorrindo e era lindo o sorriso dela, eu guardei também um livro que ela sempre lia para mim quando eu era criança, no final do capítulo do livro eu sempre dava minha opinião mesmo que não tivesse sentido, e ela sempre dizia que a minha ousadia um dia me faria defender as pessoas, aí eu fui crescendo e e ela parou de ler para mim, talvez eu leia ele novamente algum dia. Meu celular começou a tocar me tirando do mar de lembrança e de pensamentos.
Era uma ligação da direção da faculdade avisando que se eu não retomar as aulas imediatamente minha bolsa será cortada devido ao número de faltas, que não foi só depois que minha mãe faleceu mais sim por causa que eu tenho faltado bastante desde o começo das aulas esse ano, motivo ? Meu namorado e algumas más influências, além da preguiça constante que bate quando eu lembro que irei passar mais de quatro anos para ganhar um diploma, tentei me explicar dizendo que faltei as aulas por causa da morte da minha mãe mas a única coisa que ele disse foi meus pêsames Layla, estude um pouco você tem prova na segunda... A insensibilidade do ser humano me surpreende cada vez mais, eu odeio estudar e sei que muita gente não gosta mais sempre foi o meu sonho entrar para faculdade e o da minha mãe também então por ela eu vou fazer um esforço, um esforço bem grande.
Antes de largar o celular em cima da cama eu liguei para o padre da igreja que a minha mãe frequentava e falei para ele que tinha umas coisas para caridade e ele me disse que seria melhor levar daqui a algumas semanas pois terá uma feira beneficente que eles fazem todo ano para arrecadar doações e ajudar os menos favorecidos falo assim porque não gosto de chamar alguém de pobre mesmo que a sociedade seja dividida em duas partes o lado rico e o lado pobre, em relação a doação eu achei uma ótima idéia já que todo ano minha mãe me acordava cedo como sempre e me obrigava a passar o dia no galpão da igreja distribuindo kits com roupas e produtos de higiene para os sem teto.
A nossa casa não é muito grande apesar de ser bem confortável, tem dois quartos,um banheiro, sala, cozinha, lavanderia e um porão segundo antigo dono ele guardava as armas dele lá, a minha mãe achava que ele era traficante, o nosso porão não é como os de filmes de terror ou das casas dos estados unidos, é bastante Claro, e organizado. mas pelo fato de ser embaixo da casa é bastante úmido, a minha mãe era uma acumuladora compulsiva organizada o porão é cheio de caixas a maioria delas estavam vazia ela sempre dizia " guarda o que não precisa para quando precisar ter" não acho que ela fosse precisar de tantas caixas, algumas com fotos minhas quando eu era bebê, ela realmente gostava de tirar fotos, tem dezenas de nudes meus aqui quando era criança, tinha outra caixa com roupas que ela sempre falava que ia doar e nunca doava, tinha também uma caixa grande que com certeza tem algum rato morto dentro porque o cheiro tá horrível e um pequeno baú no canto da parede coberto com um pano. O pequeno baú me chamou atenção pois ao contrário de todas as outras caixas ele não estava empoeirado e mesmo que o pano tenha protegido, parecia ter sido colocado lá pouco tempo ou alguns dias, o que com certeza não foi eu já que Ashley Ada trancava a porta do porão quando eu estava em casa. O baú não era como aqueles de pirata dos filmes esse era um pouco mais sofisticado era quadrado e o cadeado parecia ser antigo, porém, com tecnologia moderna pois não era a chave e sim a senha. Eu tentei abrir logo com a minha habilidade infalível de abrir cadeado sem precisar de chave apenas com um grampo de cabelo, mas esse era diferente ou colocava a senha ou quebrava então eu usei a força para abri-lo mas também foi em vão, depois de pensar por alguns minutos e colocar algumas senhas erradas, tentei me colocar no lugar da minha mãe e imaginar qual senha eu colocaria se estivesse no lugar dela, com a idade dela, aí então, coloquei os únicos números que me veio a cabeça, a minha data de aniversário.

18/07/1999

Quando eu coloquei o último número pude ouvir o barulho do cadeado abrindo, Só velho mesmo para colocar uma senha tão fácil como essa, por um minuto eu pensei que acharia tesouro dentro dele, vários diamantes e muito ouro mas eram apenas papéis, exames médicos, fotos que por incrível que pareça não eram minhas, dois papéis assinados pela minha mãe, e uma declaração judicial na qual dizia...

"Eu Ashley Ada Mackenzie declaro devolver o projeto assim que ele(a) completar 20 anos, e não vou reivindicar os direitos da maternidade por essa criança, assumo o total risco e deveres do procedimento até o fim do ciclo de 240 meses, pelo valor proposto a mim."

Valor do documento - $100.000 + benefícios sociais.

Agora eu estou em um misto de muito confusa e muito chocada, o que a minha mãe era na realidade, e ela ainda foi paga por gerar esse tal projeto. Espera aí eu sou esse projeto ??? E como assim devolver o projeto quando completar 20 anos ?

Se eu sou esse projeto para quem ela iria me devolver daqui a três meses que é quando eu completo 20 anos. ?

Peguei os exames e não tinha nomes nele apenas números, e uma frase intrigante. "Projeto 36".

Eu estou muito confusa, não sei o que está acontecendo aqui porque minha mãe guardou esse segredo de mim ou será que isso é só uma brincadeira de muito mal gosto de alguém que quer me assustar, eu realmente não sei o que é, mas segundo o que o cara que me procurou no cemitério disse para mim faz muito sentido agora, a verdade está na caixa, ou seria no baú, eu não consigo acreditar no fato de minha própria mãe ter mentido para mim a minha vida toda, nossa isso explica muita coisa, ela sempre me tratou como objeto, a super proteção dela em cuidar da minha saúde era mentira, e novamente eu estou chorando, mas dessa vez não é de tristeza, eu estou chorando de raiva, o que eu sou, quem eu sou, será que no mínimo sou um ser humano ???

Essa pergunta ecoava na minha cabeça, eu peguei o baú que não era muito pesado e o levei para cima, eu precisa de respostas e sabia que não vou consegui-las sentada aqui chorando, então vou revirar essa casa ao averso e descobri o que mais a Ashley escondia. Ao passar com o baú pelo corredor que dar em direção a sala eu não esitei em quebrar todos os portas retratos que estavam nas paredes, eu os coloquei lá para lembrar que éramos uma família feliz, mais na verdade nem família éramos, e muito menos feliz, depois da tristeza só me restou o ódio agora.

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