Capítulo 62 - A Bênção Do Mar

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A cama do castelo é tão aconchegante quanto a da casa da Tzu'ka, mas algo aqui é diferente, não me sinto tão confortável quanto dormindo na casa da minha... É... Madastra? Honestamente não sei como chamar a esposa do meu pai que não é minha mãe se todas eram casadas ao mesmo tempo.

Acabei levando Goetia pro meu próprio quarto mais cedo por não conhecer o castelo, mas felizmente a cama é grande o suficiente e ela pequena suficiente para caber nós duas com folga. Olhando com mais calma agora, pelo menos enquanto tá dormindo e não me xingando, ela me lembra um anjo. Como aqueles que vi tempos atrás, no dia que encontramos os asura, só que com um rosto menos sofrido.

Hoje foi um dia cansativo, não só pela batalha. Eu silenciosamente desejo boa noite para Goetia, fecho meus olhos e tento relaxar.
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[ Entrando em contato com entidade superior dentro da Zona Onírica ]
[ Todas as defesas mágicas estão desligadas ]

Que estranho, ouvi a voz do Análise falando coisas novas. Bem, não importa, de volta a jogar videogame, comer meu lanche e... Eh?!

"Quem é você?!"
"Nós já nos conhecemos."

É uma mulher alta, com pele negra, olhos azuis brilhantes e cabelos longos e ondulados, suas roupas são azul marinho com figuras de peixes e outros animais se mexendo. Subitamente meu videogame, salgadinhos e guaraná desaparecem e me vejo em terceira pessoa flutuando no fundo do mar com ela.

"Eu te avisei, tentei te impedir e você me convenceu de que seria diferente, mas o que você fez foi justamente entrar em contato com aquela pirata e pegar os tesouros do maldito e insolente rei demônio!"

Ela tá furiosa, tudo treme em correntes marítimas fortíssimas enquanto ela fala! Eu não consigo nem controlar meu corpo!

"Mas... Você libertou o guardião, um presente do antigo deus dos mares para o mundo, corrompido pelo poder de Kein."
"Quem? Desculpa, eu só tô entendendo metade do que você está falando..."

A mulher se aproxima com um olhar curioso, mais de perto vejo que dentro de seus olhos as pupilas azuis brilhantes giram como dois redemoinhos e então com um gesto de mão como se desse um peteleco sem chegar a me tocar ela desfaz meu corpo! Minha pele verde voa para fora como petulas ao vento e minha visão embaça em relação ao que está longe, olho meu corpo novamente e vejo que sou humana de novo, minha copa agora é um cabelo escuro e minha visão aprimorada de kintra deu lugar a miopia e astigmatismo de olhos humanos que precisam de óculos.

"Então essa é sua forma verdadeira..."
"É... Mais ou menos. Eu acho que me sinto melhor com quem sou agora do que como eu era na minha vida passada."
"Mu Art Zad Rah At Rael Thort dos Grandes Cósmicos Primordiais, eu Alkina dos Mares de Naestria convoco sua presença."

E então senti um calafrio atrás de mim, como se minha sombra se levantasse para me pegar e senti aquela presença perto do meu ombro direito, como se estivesse se aproximado para sussurrar horrores em minha orelha. Logo em seguida vi ele novamente, talvez pela terceira vez, contando com que sinto que o vi quando fui atropelada, mas não consigo me lembrar. O homem alto, magro, pálido, vestindo roupas amarelas esverdeadas com um cabelo negro e flutuante independente de estar na água ou não.

"Olá novamente mocinha. Saudações milady Alkina. O que é tão importante que exige minha presença pessoalmente?"
"Ela."
"A Escolhida né sr.Morte?"

Ele riu e foi como se várias vozes roucas rissem junto.

"Ela é a próxima a se sentar no Trono de Obsidiana?"
"Talvez. Quem sabe minha sombra não se projete sobre ela primeiro?"

Eu tô bem aqui sabiam?

"Nós sabemos minha jovem mortal."
"Nossa, vocês podem ler mentes!"
"Nós ESTAMOS na sua mente. Agora pare de interromper criança tola!"

O ambiente se agitou outra vez, o Morte fez menção de tocar a deusa para ela se acalmar, mas ele parou antes por algum motivo.

"Diga-me, Mu dos Grandes Cósmicos, o que é essa criança e porque uma alma foi transferida para o corpo nascido da semente perdida de Szalbar Bhalzarf?"
"Ela veio para onde deveria estar. Uma alma sem corpo para um corpo sem alma. O ciclo de minha irmã e eu."

Ah... Faz sentido, eu acho.

"Grande Cósmico, diga-me como ela veio?"
"De carro."

Como pode a personificação da morte ser tão debochada?
Ele olhou para mim e riu levemente do meu comentário.

"As carruagens sem animais não é isso?"
"Isso mesmo."
"Foi um daqueles veículos de carga não foi?"
"Veículo de carga?"
"Um caminhão, jovem. Clássico."
"Por que tantos renascidos vem pra esse mundo após serem atropelados por um desses... Caminhão?"
"Meu trabalho é bem ativo no trânsito."

A deusa suspira e senti como uma brisa do mar me atingisse com carinho e com um toque de melancolia.

"Lhe agradeço eternamente pelas respostas, Mu dos Grandes Cósmicos."
"Não há de que milady. Até a próxima, ou a quase próxima, vez, Mag*****"

De alguma forma não consegui ouvir o resto do nome que ele falou antes de desaparecer. Acho que era meu nome original, aquilo que ele tomou pra me dar essa segunda chance.

"Você é, no mínimo, interessante. Você nos fez um grande favor libertando a alma de uma criatura amaldiçoada que prejudicava meu domínio e pelo que pude ver, Aquele que Observa tem grandes planos para você."
"É..."
"Ainda assim, o sangue de Szalbar Bhalzarf corre em suas veias. Eu espero que seja menos tola que Dália."
"Minha mãe não era tola!"

Eu não sei porque, mas sinto mais afeto por essas pessoas que nunca conheci do que os pais que me criaram como humana tão distantes e ocupados. Eu me concentro e minha forma muda novamente, volto a ser a dríade que sou agora.

"Oh... Pois bem. Você não terá minha bênção, mas ainda assim lhe devo um presente. Cuide bem de minha criança também."

Ela se aproximou e tocou minhas mãos, então fechou minha mão e eu foi como se o mundo inteiro desaparecesse em uma luz azul.

"WOAH!!"

Eu acordei respirando pesadamente, Goetia se moveu na cama incomodada sem realmente acordar, um guarda entrou pela porta e logo viu que eu estava aflita, porém sem sinal de perigo. Mesmo assim ele resolveu investigar meu quarto em silêncio.

"Desculpa. Foi um pesadelo."

Eu senti algo pressionando contra minha palma esquerda, então vi que estava com a mão fechada e lentamente abri na minha frente, revelando uma gema azul que parecia uma pérola do tamanho de uma bola de gude. De alguma forma sei que não devo tentar vender ou dar isso para alguém, mesmo que não iria mesmo fazer isso. Assim que amanhecer, eu vejo com Zefferi se ele sabe algo sobre isso.
É... Apesar de tudo, obrigado deusa Alkina.

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