{6}

273 32 22
                                    

A vida é intrigante. Ela tem a habilidade de nos colocar em para cima mas insiste em nos jogar para baixo.

Eu sempre fui alvo de comentários, de boca em boca sempre sabiam algo de Ruby Gillis, mas não eram ruins, falavam coisas do tipo: "Sabe a filha dos Gillis? Foi eleita pelo terceiro ano consecutivo a melhor atleta de Summerside", "A Ruby Gillis já conseguiu duas bolsas para a faculdade por meio do hockey".

Eu era conhecida na escola, amada pelos professores, apesar de ser uma estudante nota B, além de tudo era estrela do time feminino de hockey no gelo da minha cidade, eu realmente amava a minha vida, mas talvez o amor não fosse recíproco.

Era dia de jogo e logo no começo daquela semana eu estava sem apetite algum, estava fraca e meus olhos estavam aos poucos ganhando uma coloração amarelada, mas eu considerei algo normal pois sempre ficava nervosa antes de um jogo.

Assim que eu posicionei os meus patins sobre o gelo, senti meu corpo todo se estremecer, era o último jogo da temporada, a final que decidiria tudo. Arrastei os meus pés com força enquanto eu escutava o gelo "gritar" pelo contado dos meus patins.

O que eu me lembro é de me deitar no chão, me contorcer com uma dor abdominal terrível, ser levada para o hospital às pressas e enfim acordar.

Summerside sendo uma pequena cidade na ilha do príncipe Eduardo, não tinha estrutura hospitalar o suficiente para o meu caso, então fui encaminhada de helicóptero para Avonlea, uma cidade vizinha.

Ainda sou alvo de comentários na minha cidade, de boca em boca sempre sabem algo sobre a doença de Ruby Gillis, já fui declarada morta 2 vezes pelas fofocas de Summerside.

Estou nesse hospital a 4 meses, pacientes diagnosticados com câncer no pâncreas normalmente tem de 6 meses a 5 anos de vida, ou seja, acordo todas as manhãs como se fossem os meus últimos dias, mas realmente são. Tento aproveitá-los ao máximo, mesmo que seja dentro de um hospital sem cor.

Existe uma frase que diz: "a vida mais doce é não pensar em nada", e é isso que venho fazendo desde que me dei conta de que não sairia daqui tão cedo, e se saísse, estaria desacordada e a caminho do cemitério.

𝐂𝐫𝐨𝐬𝐬𝐢𝐧𝐠 𝐭𝐡𝐞𝐬𝐞 𝐰𝐚𝐥𝐥𝐬 {𝐚 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭 𝐟𝐚𝐧𝐟𝐢𝐜}Onde histórias criam vida. Descubra agora