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"Quarto número 131, bloco A

Querida(o) destinatário,

Sou Gilbert Blythe, algo que você provavelmente deve ter notado pelo envelope. Não sei quem você é, e não sei se você sabe quem eu sou, mas provavelmente você deve estar a par do projeto que estão desenvolvendo aqui nesse hospício, digo, hospital. Se você não sabe a respeito é o seguinte: trocar cartas com alguém aleatório da área de risco que não podem interagir com os outros residentes do hospital, só isso mesmo. As minhas perguntas de hoje são: qual o seu nome e o que você mais gostava de fazer antes de ser internado(a)?

Espero que você me responda (fui obrigado a escrever isso por minha enfermeira). Aguardarei por sua resposta.

                         Atenciosamente, Gilbert Blythe".

Gilbert Blythe. Esse nome não a soava estranho.  Não sabia de já haviam se conhecido antes de passarem pelo câncer ou se teria ouvido alguma enfermeira comentando a respeito, Anne forçou a sua mente a lembrar, mas no final não conseguiu memória alguma que tivesse relação com o nome. Rapidamente pegou uma folha de papel que havia sido deixada mais cedo por sua enfermeira, juntamente com uma caneta e um envelope. Com dificuldade segurou a caneta entre os dedos posicionando delicadamente sob a mão, então começou a escrever.

"Quarto 446, bloco B

Querido Gilbert Blythe,

Ao receber sua carta não hesitei em responder, acho que seria essencial conversar com alguém que sabe o que estou passando sem ter algum risco de eu morrer saindo desse quarto.

E respondendo suas perguntas: me chamo Anne Shirley-Cuthbert, eu gostava de ir à praia, correr contra o vento e sentir novos cheiros e sabores. Agora o único cheiro que eu sinto são dos produtos de limpeza que eles são permitidos de usar no meu quarto e dos meus medicamentos.

Minhas perguntas para você são: qual o seu tipo de câncer, qual é ou era a cor do seu cabelo e o que você pensa sobre questões climáticas?

         
          Cordialmente, Anne Shirley-Cuthbert".

Após terminar de escrever encarou seriamente o papel, observando a forma como sua letra estava repleta de garranchos, parecia que a cada duas palavras acontecia um terremoto dentro do quarto da garota provocando erosões naquela folha de papel. Mesmo sem ter sido agradada por sua carta a dobrou e colocou no envelope, escreveu as informações necessárias e o fechou.

Um poucos mais tarde daquele dia entregou sua carta para a sua enfermeira que ficou bastante contente pela garota ter respondido.

Já Anne por outro lado, não estava contente. Só conseguia lembrar de como ela costumava escrever, lembrava-se de sua caligrafia impecável que era sempre elogiada, também não conseguia parar de pensar no quão fraca ela estava se tornando, chorando escondida por coisas bobas e sendo fragilizada cada dia mais por sua doença.

𝐂𝐫𝐨𝐬𝐬𝐢𝐧𝐠 𝐭𝐡𝐞𝐬𝐞 𝐰𝐚𝐥𝐥𝐬 {𝐚 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭 𝐟𝐚𝐧𝐟𝐢𝐜}Onde histórias criam vida. Descubra agora