Depois de ter passado horas na emergência do hospital, Foluke ganhou o resto da semana em casa, a única coisa boa depois da injeção e dos comprimidos que deveria tomar por quase um mês!
E com suas noites de sonhos perturbados e dias inteiros livres, a garota se refugiava no galpão que tinha anexo a casa.
Foluke entrou no galpão e, ao acender as luzes, o ambiente era impressionante.
Era um verdadeiro ginásio para a prática de artes marciais, que era das paixões de Mitsuo.
Ao fundo, havia um altar e à frente dele dois cavaletes que ostentavam duas katanas embainhadas: uma pertencente a Mitsuo e a outra à garota, a de bainha vermelha e dourada.
Nas paredes laterais havia outras espadas, as de treino, e algumas espadas de bambu, para o Kendo .
Desde garoto, Mitsuo adorava ouvir as histórias do Japão feudal e dos samurais.
E desde cedo se versou na arte da espada e artes marciais.
Não abandonou suas práticas nem quando imigrou para o Brasil com a esposa Azami, então recém casados.
Somente depois de se aposentar, há dez anos, que conseguiu realizar o seu sonho de construir o seu próprio templo de treinamento, que era o ginásio do galpão.
Foluke também gostava de kenjutsu .
E era uma ótima velocista e ginasta, que sempre rendeu troféus e medalhas nos campeonatos da escola.
Esse gosto pelos esportes era o ponto forte no relacionamento entre avô e neta.
Ela entrou e se sentou diante dos cavaletes com as duas katanas, e ficou muito tempo apenas observando a bainha vermelha que tinha labaredas estilizadas em fios de metal dourado como adornos.
Sentiu a mão direita formigar, sentindo uma ondulação subir e descer de seu braço.
Movimentou os dedos, abrindo e fechando.
Percebeu, então, que no ponto onde ardeu na outra noite, que ia do pulso à parte interna do cotovelo, uma marca como fosse uma queimadura, começava a surgir ali e, nitidamente, se via tratar de uma espada.
Piscou os olhos em profusão, achando que estava delirando, mas a imagem em seu pulso direito não desapareceu, pelo contrário, estava cada vez mais nítida, como se estivesse se forjando a ferro.
E as mesmas ondulações que sentiu no antebraço, começava a sentir em suas costas.
O mais estranho é que nada daquilo a assustava.
Foluke fechou a mão no meio da sua katana e, solenemente, retirou-a do cavalete, desembainhando-a como se fizesse isso pela primeira vez em sua vida.
Viu o seu reflexo na lâmina e a sua mente foi transbordada por cenas de lutas e guerras travadas em sertões e matas.
E uma enorme onda de saudade a dominou.
Saudades de séculos passados em batalhas.
Foluke estremeceu e as imagens mentais se dispersaram.
Ela voltou-se rapidamente às suas costas, ao sentir uma vibração que fez os pêlos de sua nuca se eriçarem.
Olhou e o que viu foi um homem mulato, alto e de constituição forte, vestido de túnica e calça de algodão branco, com um turbante branco envolta dos cabelos de tranças finíssimas.
— Pai?!
Foluke levantou-se num salto e correu até o homem.
Embora não o visse há sete anos, estava tal qual se lembrava dele, exceto pela expressão entristecida, que era estranha ao rosto que sempre foi sorridente.
Mas havia algo errado e a garota estacou antes de chegar até a aparição, que se dissolveu no ar.
Foluke ficou paralisada.
A respiração entrecortada era de alguém que tivesse corrido quilômetros.
E foi dessa forma que Mitsuo encontrou a neta: parada, em pé no centro do pequeno ginásio, com a espada na mão, olhando como que hipnotizada para a parede à frente.
Foi necessário chamar por três vezes o nome dela para que ela despertasse do transe.
O velho colocou-se diante da garota, estudando sua feição e expressão.
— Você tem visita, Foruke.
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Orishás
Horror💥 Completa 💥 Ficção Fantástica Urbana. Terror. História moderna sobre Orixás e Entidades da Umbanda. Foluke é uma jovem de 15 anos que recebeu a missão de seu Pai Ogum para enfrentar a ameaça dos quiumbas materializados, monstros predadores de h...