Parte 6

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Depois de ter passado horas na emergência do hospital, Foluke ganhou o resto da semana em casa, a única coisa boa depois da injeção e dos comprimidos que deveria tomar por quase um mês!

E com suas noites de sonhos perturbados e dias inteiros livres, a garota se refugiava no galpão que tinha anexo a casa.

Foluke entrou no galpão e, ao acender as luzes, o ambiente era impressionante.

Era um verdadeiro ginásio para a prática de artes marciais, que era das paixões de Mitsuo.

Ao fundo, havia um altar e à frente dele dois cavaletes que ostentavam duas katanas  embainhadas: uma pertencente a Mitsuo e a outra à garota, a de bainha vermelha e dourada.

Nas paredes laterais havia outras espadas, as de treino, e algumas espadas de bambu, para o Kendo .

Desde garoto, Mitsuo adorava ouvir as histórias do Japão feudal e dos samurais.

E desde cedo se versou na arte da espada e artes marciais.

Não abandonou suas práticas nem quando imigrou para o Brasil com a esposa Azami, então recém casados.

Somente depois de se aposentar, há dez anos, que conseguiu realizar o seu sonho de construir o seu próprio templo de treinamento, que era o ginásio do galpão.

Foluke também gostava de kenjutsu .

E era uma ótima velocista e ginasta, que sempre rendeu troféus e medalhas nos campeonatos da escola.

Esse gosto pelos esportes era o ponto forte no relacionamento entre avô e neta.

Ela entrou e se sentou diante dos cavaletes com as duas katanas, e ficou muito tempo apenas observando a bainha vermelha que tinha labaredas estilizadas em fios de metal dourado como adornos.

Sentiu a mão direita formigar, sentindo uma ondulação subir e descer de seu braço.

Movimentou os dedos, abrindo e fechando.

Percebeu, então, que no ponto onde ardeu na outra noite, que ia do pulso à parte interna do cotovelo, uma marca como fosse uma queimadura, começava a surgir ali e, nitidamente, se via tratar de uma espada.

Piscou os olhos em profusão, achando que estava delirando, mas a imagem em seu pulso direito não desapareceu, pelo contrário, estava cada vez mais nítida, como se estivesse se forjando a ferro.

E as mesmas ondulações que sentiu no antebraço, começava a sentir em suas costas.

O mais estranho é que nada daquilo a assustava.

Foluke fechou a mão no meio da sua katana e, solenemente, retirou-a do cavalete, desembainhando-a como se fizesse isso pela primeira vez em sua vida.

Viu o seu reflexo na lâmina e a sua mente foi transbordada por cenas de lutas e guerras travadas em sertões e matas.

E uma enorme onda de saudade a dominou.

Saudades de séculos passados em batalhas.

Foluke estremeceu e as imagens mentais se dispersaram.

Ela voltou-se rapidamente às suas costas, ao sentir uma vibração que fez os pêlos de sua nuca se eriçarem.

Olhou e o que viu foi um homem mulato, alto e de constituição forte, vestido de túnica e calça de algodão branco, com um turbante branco envolta dos cabelos de tranças finíssimas.

— Pai?!

Foluke levantou-se num salto e correu até o homem.

Embora não o visse há sete anos, estava tal qual se lembrava dele, exceto pela expressão entristecida, que era estranha ao rosto que sempre foi sorridente.

Mas havia algo errado e a garota estacou antes de chegar até a aparição, que se dissolveu no ar.

Foluke ficou paralisada.

A respiração entrecortada era de alguém que tivesse corrido quilômetros.

E foi dessa forma que Mitsuo encontrou a neta: parada, em pé no centro do pequeno ginásio, com a espada na mão, olhando como que hipnotizada para a parede à frente.

Foi necessário chamar por três vezes o nome dela para que ela despertasse do transe.

O velho colocou-se diante da garota, estudando sua feição e expressão.

— Você tem visita, Foruke.

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