Foluke levou Jorge para o ginásio. Apenas falou depois que ambos pararam em frente ao altar das espadas.
—Não foi exatamente por saudades de mim que o senhor veio, né, pai?
Jorge ficou sem reação. As palavras da garota foram como faca na sua ferida já aberta.
—Não... foi por algo ainda maior...
Não era a intenção de Foluke criar caso ou ter uma crise de filha rejeitada.
Ela sabia muito bem qual era a situação que sua família impôs a Jorge, e compreendia as dificuldades dele.
Ela apenas precisava de uma introdução para o que iria revelar a ele.
Virou-se e despiu o casaco de moletom, estendendo a ele o pulso direito.
—Me diz o que o senhor vê.
Jorge não precisou de esforço para enxergar a marca no braço de Foluke, o Ponto Riscado energeticamente, formando a figura de uma espada, a principal arma de Ogum.
Ele segurou o braço da filha e delineou a imagem com as pontas dos dedos.
— Isso não é tudo, pai... há outra coisa... consigo ver só uma parte e quando tento usar o espelho, nada aparece nele...
Foluke virou-se de costas. Ela vestira, propositalmente, um top frente-única, deixando as costas nuas.
E nelas, nitidamente marcadas em brasa no corpo espiritual da menina, os sete instrumentos de Ogum.
Foi com horror e fascínio que Jorge percorreu com os olhos as sete figuras unidas sobre um meio círculo e abertas como um leque:
alavanca,
machado,
pá,
enxada,
picareta,
espada
e facão.—Meu Pai! Isso já estava determinado! Quando aconteceu, Foluke?!
A garota virou-se, vestindo novamente o casaco:
— Há três dias, durante um sonho. E desde então, quando durmo, venho recebendo instruções. Vamos enfrentar coisa pesada, sabia, pai?
—Será uma batalha espiritual, mas você não estará sozinha!
Foluke pegou sua katana, desembainhou-a, mostrando a lâmina ao pai.
— Sabia que sou ótima em kenjutsu? Poderia até participar de campeonatos, poderia estar na seleção nacional, se eu quisesse!Também tenho várias condecorações nas olimpíadas das escolas. Sempre tirei o primeiro lugar em todas que participei. Eu que nunca quis ir além disso.
A garota embainhou novamente a espada.
Na cabeça de Jorge passavam mil coisas nas quais ele se via como uma criança ingênua, que não foi capaz de enxergar a grandeza da missão que aguardava a todos.
— Pai... eu sempre senti muita falta do senhor, mas... se não tivéssemos sido separados e eu não tivesse vivido com meu avô, hoje não estaria preparada para enfrentar os Quiumbas.
Jorge puxou a filha para seus braços, agora compreendendo o porquê de tudo ter acontecido como aconteceu.
Filhos não são propriedades dos pais. Filhos são missões.
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Orishás
Horror💥 Completa 💥 Ficção Fantástica Urbana. Terror. História moderna sobre Orixás e Entidades da Umbanda. Foluke é uma jovem de 15 anos que recebeu a missão de seu Pai Ogum para enfrentar a ameaça dos quiumbas materializados, monstros predadores de h...