0.5 onde há um pirralho

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O primeiro trovão da noite já não era interesse de nenhum dos presentes quando, por aquela hora, já se faziam mais de vinte. Jungkook não os contava, porque não o incomodavam mais. Nada o podia incomodar quando sentia dentro de si a formação de um pequeno girassol em volta do músculo que ainda o mantinha ali, todos os dias.

Jungkook ainda não era bom com flores, não se lembrava de lhes pôr água regularmente, colocá-las ao sol ou retirar consoante a necessidade e tinha em mente, desde criança, que nenhuma flor sobreviveria nas mãos de quem quer que fosse se não lhes cantasse algo calmo e melodioso.

- Bom...

Min Yoongi começou assim a sua saída e embora não estivesse expresso que era isso que faria, ir embora, o tom acabou por denunciá-lo, seguido pelas suas pernas, o fazendo levantar.

- Vai embora, hyung? - Jungkook perguntou-lhe, os lábios encolhidos para dentro e o mais velho acenando com a cabeça.

- Amanhã há trabalho, pirralho. - ele explicou, aproximando-se do moreno e bagunçando-lhe os cabelos longos.

Jungkook lembrou-se de verificar o horário e estava realmente ficando tarde. O tempo em dias como aquele era precioso. Tanto tinha vontade de ver o relógio a toda a hora e verificar que ainda faltava tanto e por isso tudo passaria mais devagar, como, ao mesmo tempo, queria chegar ao fim da noite e se satisfazer ao olhar o relógio e perceber que o tempo passara e ele nem se dera conta, pois estava tão entretido. Jungkook e o tempo tem uma relação complicada.

- Te vejo na festa de Sun-Hee? Traga os seus irmãos.

Por um segundo, Min Yoongi pareceu pensar sobre aquilo, comprimindo os lábios em um, mas assim que Jungkook lhe mostrou um sorriso triste, o mais velho assentiu levemente.

- Eu vou tentar. - assegurou, pousando-lhe a mão no ombro e apertando-o levemente. - Foi bom ver vocês, de verdade.

Jungkook não queria que Min Yoongi fosse embora. Na luta com o tempo, o mais novo estava perdendo e ele odiava perder. Poderia dizer que não se importava de ficar naquela noite para sempre, congelado naquele momento, junto dos amigos, embora não estivessem todos por aquela hora, mas tinha tanto lá fora, o esperando, que não podia sentir tal coisa sem que se culpasse por mil anos.

- Vou te levar até o carro. - de forma rápida Jungkook ficou de pé, enlaçando o braço no de Yoongi, que gargalhou.

- Já está com saudade? - brincou o mais velho, puxando-o levemente. - Até mais. - disse mais uma vez aos outros, seguindo para fora com Jungkook.

Do lado de fora, debaixo do tolde do restaurante, Jungkook sentiu frio, vendo Min Yoongi agasalhado no sobretudo que chegava aos seus joelhos, o guarda-chuva pequeno na mão, ainda fechado, quando, de repente, se chegou à frente e abraçou o tronco do maior, suspirando por um segundo.

- Também tenho saudades, hyung. - Jungkook acabou rindo, o abraçando pelos ombros e sorrindo, a chuva respigando em seus ombros.

- Eu te amo, garoto, você sabe. - resmungou ele, o soltando e o olhando nos olhos, a mão subindo com calma para o ombro dele e depois tocando levemente a sua bochecha.

- Não sou mais um garoto.

- Eu sei, e por isso... - ele acabou balbuciando, a mão apertando o ombro entre os dedos. - Não volte com Jimin.

Jungkook arregalou o olhar, acabando por se afastar sem notar. Não teve tempo para estranhar, porque estava em pânico.

- O q-quê?

- Você tem a sua vida e... Eu não sei, acho que não precisa disso agora.

- Yoon, o que é isso? Jimin e eu... Nós... - ele tentava, sem saber raciocinar, sem entender de onde o amigo tinha tirado aquelas conclusões.

- Não me leve a mal. - pediu com calma. - Eu sei que no fundo, mesmo que você ainda não tenha admitido, você ainda sente algo por ele. E ele é meu amigo, eu o amo tanto quanto a você, mas ele... Jimin está em Busan agora, mas por quanto tempo? Você não quer deixar Busan, quer? Eu só não vejo as coisas indo e eu não quero te ver magoado de novo, afinal você claramente ainda não superou o rompimento.

- Após dez anos, hyung? Claro que eu superei, nós dois somos amigos. - explicava ele, realmente acreditando em suas palavras, mas Min Yoongi não via aquilo e provavelmente não era o único na mesa.

- Espero que tenha razão, pirralho. - ele pareceu ceder, por ali, soltando o amigo e sorrindo, as mãos nos bolsos do sobretudo escuro, olhando a chuva que enfrentaria até o estacionamento e Jungkook se tremendo de frio. - Cuide de você. Mande mensagens.

Jungkook acenou, encolhido e de mãos nos bolsos da frente, enfiando o queixo na gola da camisola e vendo seu hyung correr pela estrada aberta, até o outro lado, sem se dar ao trabalho de abrir o guarda-chuva.

Ficou por ali alguns segundos, mesmo depois de o carro de Min Yoongi ter deixado o parque do restaurante. Tão inerte, Jungkook nem notou quando um trovão rasgou o céu com a luz natural nem a forma como Kim Taehyung estava logo atrás de si, seguindo o rumo dos amigos.

Pertenceria uma parte do seu coração a Park Jimin? Depois de tudo?

Onde há uma casa amarela ]jikook[Onde histórias criam vida. Descubra agora