As palavras do amor

Capítulo 1

02/04/2020 (sexta) - por volta de oito da noite

-Já vou!
  Exclamo para quem quer que esteja batendo à porta de meu apartamento. Vou correndo abrir com minhas roupas na mão.
  Abro e me deparo com duas figuras arrumadas na minha porta. Uma delas uma modelo loira de vestido preto e um moreno de camisa social. Esses são meus dois melhores amigos.
-Onde você vai com essas roupas criatura?
  Pergunta o Guilherme, abro caminho para os dois passarem.
-Eu vou passar um tempo na casa da minha avó. A editora está me apertando para lançar algo novo e eu estou sem idéias. Considerem um retiro inspirador.
  Respondo rindo.
-Faz anos que você não vai lá certo?
  Pergunta a Júlia sem entender.
-Desde que mamãe se mudou para Lient.
  Minha mãe era fotógrafa, e era difícil imaginar um futuro como fotógrafa em uma cidade de interior como aquela, então ela se mudou para a capital
-Quando você vai? E quanto tempo vai passar lá?
  A Júlia pergunta com semblante triste.
-Vou amanhã, mas pretendo ficar apenas um mês.
  Respondo sorrindo.
-Vou sentir sua falta.
  Ela fala e me abraça.
-Chega de melação vocês duas. Já que esse é o último dia da Ana aqui vamos farrear.
  Guilherme grita. Eu sabia que eles não tinham vindo para nada.
-Ok, vocês me ajudam a acabar de arrumar as coisas?
 
  Quarenta minutos depois nós três estamos entrando na balada.
-Eu realmente agradeço pela fama de vocês duas às vezes.
  O Gui comenta depois de termos entrado pela entrada VIP. Reviro os olhos e digo:
-Eu nem sou famosa.
  A Júlia me olha incrédula.
-Pelo amor de Deus Ana. Você tem cinco milhões de seguidores, vive aparecendo em revistas e programas de entrevista. Quer mais o que?
  Nego com a cabeça mas sorrio mesmo assim. A música toca alto o suficiente para eu não ouvir o que a Ju e o Gui comentam.
-Ana, eu espero que não se importe mas eu convidei o resto da galera pra vir também. Tem problema pra você?
  O resto da galera consiste no rolinho da Júlia, os amigos do Guilherme e uma menina que eu fico de vez em quando e acha que temos algo sério. E é exatamente por ela que ele pergunta.
-Problema nenhum Gui, eu vou aproveitar hoje.
  Sorrio compreensiva para ele. E vou buscar bebidas para nós três. Tento passar pela maré de pessoas e acabo sem querer esbarrando em uma garçonete.
  Ela derruba um copo de vinho em mim e me olha de olhos arregalados. Ela é bonita, tem o cabelo curto e o rosto angelical.
-Moça, me desculpa.
  Ela começa a chorar desesperada.
-Ei, tá tudo bem. Eu vou lá no banheiro limpar e não tem problema nenhum.
  Sorrio para tentar tranquilizar ela.
-Eu te ajudo. Vem.
  Ela diz para tentar melhorar a situação. Ela anda até uma porta que diz "acesso restrito a funcionários".
-Eu tenho uma camisa reserva no meu armário e um tira manchas no banheiro.
  Ela explica. Sigo ela até o banheiro para ela procurar o anti manchas.
-Desculpa pela minha reação exagerada, eu realmente preciso desse emprego. Minha mãe está desempregada e eu preciso desse dinheiro para ajudar.
  Ela fala limpando as lágrimas.
-Ei, tá tudo bem eu juro.
  Ela acha o produto no armário e vem até mim. Ela abaixa e começa a passar na camisa branca. O que fica um pouco complicado por ela ainda estar sendo usada.
-Quer que eu tire?
  Pergunto.
-Realmente seria mais fácil. Eu vou trancar a porta para ninguém entrar e pensar besteira.
  Ela fala com as bochechas vermelhas. Tiro a blusa enquanto ela está trancando a porta.
  Ela vira e leva um susto. E tenta sem sucesso não olhar para os meus peitos. Eu sorrio achando a situação muito engraçada e entrego a blusa pra ela.
  Ela consegue tirar a mancha quase completamente e depois seca a blusa com o ferro.
-Me desculpa mais uma vez.
  Ela diz sorrindo e me entrega a blusa. Eu visto e sigo ela até a porta. No momento em que ela vai destrancar a porta ela vira como que para falar alguma coisa e eu a beijo.

  Sorrio mais uma vez para a Rafa saindo pela porta dos funcionários. Volto para a mesa onde todos estão.
-Demorou né Ana, e cadê as bebidas?
  O Guilherme me pergunta com um olhar malicioso. Apenas pisco em resposta.
-Isso é cara de quem transou.
  Diz a Júlia do colo da menina que ela é apaixonada. As duas são muito enroladas, mas a Júlia é absolutamente apaixonada pela garota.
  A Karolina levanta e sai da mesa.
-Eu realmente não entendo essa garota, ela acha que a gente tem alguma coisa sendo que eu sempre deixei claro que não gostava dela desse jeito.
  Falo indignada.
-Daqui a pouco ela volta com o rabinho entre as pernas amiga.
  E ela realmente voltou uma hora depois, a gente ficou e ela disse que tinha que ir pra casa. Apenas dei de ombros e falei para ela se cuidar.
  O resto da noite passou sem mais problemas ou surpresas comigo e o Gui bebendo de nos acabarmos, e a Júlia nos deixando de vela. Os amigos dele ficaram na deles dançando e curtindo também.
  Por volta de uma da manhã nós três fomos para o meu apartamento, os dois prometeram acordar cedo para me levar até a estação de trem.
  Dormi um sonho tranquilo, sonhei que estava em um campo de girassóis.

03/04/2020 (sábado) - 7:00 da manhã

  O despertador toca um som insurdescente. Acordando a mim e meus melhores amigos.
-Por favor Ana Clara desliga essa porcaria de despertador antes que eu jogue ele pela janela.
  A Júlia odeia mais que tudo acordar cedo, ela costuma dizer que precisa do sono de beleza dela.
-Eu tenho que levantar Ju, vou pra casa da minha avó lembra?
  Ela senta na cama com cara feia. O Guilherme nem está mais no quarto.
-Cadê o Gui?
  Pergunto estranhando. No exato momento que eu pergunto o Gui entra pela porta trazendo bandejas de comida.
-Fui comprar o café da manhã.
  A Júlia pula nele animada.
-Ah você é muito fofo, eu te amo.
  Depois de a Ju tirar uma foto com a câmera instantânea dela e me dar dizendo que é pra lembrar desse momento e dos dois nós comemos e arrumamos as coisas.
  Eles me ajudam a colocar as malas e caixas no carro do Gui e me levam até a estação de trem.
-Nós vamos sentir muito a sua falta Ana. Vamos fazer chamada em grupo toda semana ok?
  A Júlia fala e eles me abraçam. Entro no trem e sento na janela, até a casa da minha avó são quatro horas.
  Aproveito para conferir minhas redes sociais. Vejo que a menina de ontem a noite me seguiu no instagram e dou um sorriso, elas sempre dão um jeito de achar. Sigo ela de volta. Respondo meus amigos no grupo, eles tinham enviado uma reportagem sobre a Júlia que saiu em uma revista.
  Pego um livro qualquer que trouxe para me distrair e me perco nas palavras.