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Anoitecerá, e até agora nenhuma notícia de Selene, ou de onde ela poderia estar, nem mesmo Andy, que era sua companheira fiel, sabia onde ela poderia ter ido. Isso fazia o tipo dela, planejar algo e não contar ao menos a sua sombra.

Quíron sugeriu que ela voltou pra casa, mas era uma suposição sem sentido, já que ela poderia ter avisado, e há um risco grande de monstros no caminho.

Isso me deixou com certeza muito aflito, eu não estava no acampamento a muito tempo, mas sabia o quão perigosos os monstros poderiam ser a um semideus, e principalmente depois das duas últimas guerras, eram poucos os campistas que participaram delas e sobreviveram.

Algo me dizia que eu tinha que ir atrás de Selene, ela estava correndo muito perigo. Apesar de não saber que utilidade um simples filho de Apolo teria para uma filha de Nyx. Mas era muito além disso.

Um impulso tomou conta de mim, decidi que iria atrás dela. Mas é claro que Quíron nunca aprovaria isso, e eu teria que sair do acampamento escondido. Decidi que o melhor horário para ir seria a noite, e esperei pacientemente por ela, juntei uma mochila com algumas coisas que seriam úteis, tentei fazer isso o mais discretamente possível, depois escondi a mochila embaixo da minha cama no chalé de Apolo.

Quando a última canção de ninar cantada com a ajuda de um ukulele cessou, eu soube que estava na hora de ir, refreei uma vontade de contar a Will onde iria esta noite, se ele soubesse tentaria me impedir com certeza. Peguei a minha mochila escondida e fui até a porta silenciosamente, dei uma última olhada para saber se ninguém havia me visto, e parti.

Ainda não tinha certeza de como sairia do acampamento, as harpias geralmente voam por aí bicando o traseiro de qualquer um que esteja fora da cama depois do toque de recolher, mas me esgueirei da melhor forma possível até a colina meio-sangue, era a saída mais segura, entre árvores e construções, estava chegando aos pés da imponente Atena Partenos, me arrepiei um pouco, a estátua emanava um poder quase eletrizante, como se soubesse que eu estava quebrando as regras.

Contornei as pernas da Atena, já estava quase descendo a colina, e fui impedindo por uma puxada brusca na minha mochila, por um momento achei que Atena Partenos estava mesmo tentando me impedir de ir embora, mas alguém me agarrou pelo pulso e me puxou para trás de Aegis o escudo de bronze da estátua.

Instantaneamente saquei a adaga do cinto, sempre fui péssimo com armas de curta distância ou corpo a corpo, talvez por isso fui desarmado em menos de três segundos e vi minha adaga ser chutada para longe, só quando meus olhos se ajustaram a escuridão que consegui ver que não era a Atena que estava tentando me impedir, pior, era a Andy.

Abri a boca para falar e ela me calou colocando sua mão na minha boca, delicada do jeito que era, fez sinal para que eu ficasse em silêncio e olhou para o céu apreensiva. Alguns minutos depois olhou pra mim exasperada.

- Tá fazendo o quê, idiota?! Quer que as harpias nos rasguem aqui mesmo? - ela disse em sussurros urgentes e balançou os braços com indignação.

Ela comecou a andar de um lado para o outro. Minha visão se ajustou a pouca luminosidade e pude ver melhor o local em que estávamos, em um canto, perto do pé da Atena estava uma mochila e uma espada.

- Espera... aonde você vai? - claro que sabiamos onde ela iria, mas a percepção da situação me pegou de surpresa.

- Não é da sua conta, raio de sol! - ela se abaixou, pegou a mochila e colocou nas costas, embainhou a espada em seguida. - E você, aonde pensa que vai?

Pensei em responder que não era da conta dela, mas eu preferi preservar todos os dentes na minha boca, e eu sabia que tinha a chance de incidência de morte de 80%.

- Eu vou atrás da Selene! - respondi com mais convicção do que sentia. - e, bem, já que estamos aqui, você sabe, poderiamos fazer isso juntos, não adianta você negar eu sei que também quer procurá-la...

Ela me calou com um aceno de mão e recomeçou a andar de um lado para o outro, talvez por estar pensando ou por causa do TDAH, acho que a última opção.

- Eu odeio dizer isso, mas talvez você esteja certo. Dois pares de olhos procuram melhor que um. - ela suspirou e baixou os ombros, só então pude ver o quão preocupada ela estava - Mas já vou avisando! Se você atrapalhar ao invés de ajudar, eu quebro seu pescoço.

Levei esse comentário como um "bem vindo ao time!", e não uma ameaça, mas saber que eu não estaria sozinho foi meio que tranquilizador, uma preocupação a menos. Afinal, se eu morresse teria alguém para levar meu corpo de volta.

- Valeu. - respeirei fundo e voltei a me concentrar na missão, já que a incidência de morte caiu para 75% - mas, como vamos sair? As harpias estão por toda parte.

Andy deu um sorriso diabólico, o que me fez pensar em nunca estar no seu time rival.

-  Bom, meu chamariz vai ser acionado... - ela olhou para o relógio no seu pulso e girou o botão de ajustar os ponteiros - agora!

Ouvi um som de explosão, e vi uma colunade fumaça subir da direção da arena de treinamento, labaredas esverdeadas subiam da lateral de pedra do prédio, na mesma hora todas as harpias voaram naquela direção, alarmadas. O chamariz aparententemente funcionou, não pude deixar de dar um sorriso.

- Maneiro, mas me lembre de não perguntar as horas. - comentei observando as harpias voarem ao redor da arena, provavelmente procurando o engraçadinho, ou sonâmbulo, que deixou cair fogo grego por aí. (Acreditem, isso acontece com bastante frequência)

- Ok, vamos logo, antes que descubram que não estamos em nossa cama sonhando com sátiros saltitantes.

Tive pesadelos com sátiros saltitantes por um mês depois disso. Descemos a colina meio-sangue em direção a estrada.


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