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Ouvimos uma voz estridente que parecia furar nossos tímpanos, não enxergamos ninguém, fora da luz da fogueira estava uma escuridão sem fim na floresta, nem meus olhos conseguiram ver através dela. Todos sacamos nossas armas imediatamente, Kai estava sem seu arco, mas tinha uma adaga na mão assim como Andy, no momento que toquei meu colar ele se transformou em uma lança, e eu nunca usei uma lança! Seria pura sorte eu sobreviver  a essa missão, sério.

Depois de um tempo em silêncio não ouvimos nada. Andy embainhou sua adaga, e disse:
- Pareciam pássaros famintos, melhor levantarmos acampamento e dar o fora, JUNTOS - ela soletrou a palavra 'juntos' como uma ordem - Vampira você vigia.

Ela me olhou de cara feia e eu baixei a cabeça, meu coração estava do tamanho de uma noz, eu daria minha vida pra proteger aqueles dois, eram meus únicos amigos, eu não aceitaria que saíssem machucados dessa loucura que eu estava fazendo.
Kai se aproximou e apertou de leve meu ombro, não consegui olhar em seus olhos.

Após estarmos prontos para viagem e bem longe de onde ouvimoso grito, perto de um riacho que serpenteia entre as árvores, percebi que meus amigos estavam em silêncio me olhando. É, eles queriam que a semideusa menos experiente liderasse a missão. Por esse lado não fazia sentido, mas eu era uma das únicas capazes de localizar o tridente, depois de resgatar os filhos de Hécate.

- Gente, me desculpa por não ter um plano adequado e detalhado pra tudo isso, eu fui pega de surpresa. Mas eu sei onde devemos ir primeiro, se vocês concordarem é claro. Posso estar agindo mais com a emoção do que com a razão dessa vez. Bem,vocês vão entender, eu preciso fazer isso.

Eles se olharam por um instante e depois concordaram com a cabeça.

- Selene, seria bom não perder tempo, mas se você diz que é preciso, vamos te apoiar.- disse Kai.

- Sim, diz logo qual vai ser nossa primeira parada! - Andy me olhava suplicante.

- Vamos ver o papai.



●●●



Não demorou muito para chegarmos ao pequeno conjunto de casas pequenas, a minha antiga vizinhança era composta principalmente por idosos que moravam sozinhos, era o lugar onde passavam os últimos anos de suas vidas. A vista era ótima, os parques eram verdes e floridos, ainda lembro de quando caminhava por eles sem me preocupar com monstros mitológicos sedentos por um pedaço da minha carne. Bom, isso é passado, agora eu estou aqui principalmente pelos meus instintos, a parada de semideus me dizia que encontraria respostas ali, eu só não sabia como.

Assim que paramos em frente à minha antiga casa, pedi que meus amigos esperassem na entrada, não queria assustar meu pai com sujeitos armados no seu jardim. Atravessei o gramado e meu olho foi para a clarabóia acima da casa, onde ficava meu quarto. Tudo parecia igual como na última vez que eu estive aqui, apesar de eu não saber que seria a última vez.

Lá estava meu pai, de pé na varanda, como se estivesse me esperando daquele jeito todos os dias, e não me conti. Me aproximei dele, quando seus braços me envolveram eu me deixei chorar, esse era o principal motivo dos meus amigos terem ficado lá fora. Eu me permiti sentir medo, por que sabia que nada me alcançaria enquanto ele estivesse comigo.

- Pai, senti sua falta. - fungei tentando me recompor. O medo passou tão rápido quanto veio, papai enxugou meu rosto e me beijou na testa como sempre fazia.

- Tudo bem meu amor, eu sei. Também senti a sua. - ele me abraçou levemente desta vez e me olhou ternamente.

- Eu vim aqui por que tenho uma missão, meus amigos estão me esperando.

- Então, me vejo na obrigação de chama-los para um chá, quero conhecer seus primeiros amigos Selly.

Depois de apresentar Kai e Andy para meu pai, e Andy ter ficado da cor de um tomate quando meu pai elogiou seus cabelos. Nos sentamos na sala de estar como pessoas normais, e não como fugitivos místicos e tomamos o chá da tarde a moda da rainha Elizabeth.

Tentei contar uma história meia boca sobre a missão ao meu pai, cortando todas as partes perigosas, me doía pensar que além da solidão ele teria que lidar com a preocupação com a filha.

- Nossa, isso é tão...- meu pai juntou as sobrancelhas.

- E isso nem é tudo, Doutor. - quase ri com a intimidade de Andy com meu pai.

- A verdadeira missão ainda não começou, temos muito o que fazer. - Kai disse, e eu fiquei nervosa. Ele estava certo, essa tranquilidade até agora era um milagre.

Até então eu não havia entendido por que não vi nenhum monstro desde que sai do acampamento, estava agradecida por ter meus amigos comigo quando fosse enfrentar o primeiro.

O que me deixou tão surpresa quando isso, foi a tranquilidade com a qual meu pai lidou com as informações que eu dei a ele, como se pra ele fosse normal essa coisa de deuses e tudo o mais. Pelo que eu percebi até agora,  o Dr. sabe muito mais sobre esse universo do que deixa transparecer.

- Vocês fizeram bem em vir aqui, eu acho que posso ajudar vocês.- ele se levantou - Vamos até o escritório.

A mesa do meu pai estava uma bagunça de papéis livros e mapas, como sempre esteve, ele se sentou de um lado e Andy, Kai e eu ficamos de pé do outro lado.

- Eu andei observando alguns eventos estranhos acontecendo, sabia que tinha algo de errado. Sabe, a natureza age de forma perfeita, sempre sincronizada, pode ser cruel para os humanos as vezes, mas tudo sempre acontece em ordem na natureza. Porém, quando há forças maiores em ação, principalmente magia, a natureza perde o timer, e é daí que vem esses eventos estranhos. - Dr. Olhava atentamente pra nós, como se estivesse em uma sala de aula.

- Os humanos são iludidos pela névoa, mas não dá pra enganar a natureza. - disse Kai e meu pai assentiu.

- Exato, eu venho observando comportamentos estranhos em alguns lugares, alguns, podemos dizer que são de praxe considerando a ação humana sobre eles, outros, como o que vou mostrar a vocês, são nada menos do que efeitos da magia.

Ele apontou o lugar no mapa, nos mostrou as evidências, e ele estava certo, coisas estranhas no céu, animais se comportando diferente, como se alguém tivesse bagunçado todo o continente. E a magia, eu sentia como uma sensação na boca do estômago, uma ansiedade, um puxão no umbigo.

- Mas por que lá? É tão distante, e tão pouco provável... Eu sinto a magia, mas quem garante que é o que estamos procurando? - perguntei ao meu pai.

- Filha, pense comigo, é muito além do domínio dos deuses olimpianos, é uma área vasta e de difícil acesso, e tem outra coisa... Você sabe, aprendeu isso comigo.

- Eu lembro pouco, você não me contou histórias muito populares... O que há lá pai?

- São forças que vão além do que conhecemos, são desconhecidos por nós. Escute, não mexam com elas, isso é muito importante, não é pra vocês, nada tem a ver com vocês, apenas fiquem longe! - ele estava completamente sério desta vez.

- Calma gente, eu não estou entendendo isso tudo. - disse Andy - O que tem de tão mal assim no...











Ela olhou pro mapa novamente para confirmar o nome do lugar do qual estávamos falando, franziu o cenho mais uma vez e repetiu:













- No Brasil?

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⏰ Última atualização: Mar 05, 2021 ⏰

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