(II) O Plano perfeito

9.5K 1.3K 1.1K
                                    


(POV JEONGGUK)

🐇🐤


— Então, a dor é onde?

— Nas costas — Dito impaciente.

— Ãn?

— Costas, nas costas.

— Então a dor é nas costas? — A enfermeira me pergunta pela milésima vez, e eu me seguro para não dar uma resposta amarga. Velhinhos são divertidos, às vezes, (quase nunca) mas definitivamente não são suportáveis quando estão zoando com a sua cara, diga-se de passagem.

Eu juntei minhas sobrancelhas numa carranca, cruzando os braços na maca da enfermaria, encarando Lisa atrás da senhorinha com um sorriso curto.

— Sim, é nas costas — disse —, eu já não tinha te falado isso antes?

— Não seja mal educado, Jeon. Dona Kanji só quer ajudar. — Lisa disse, num falso moralismo que quase me deu forças para sair dali e nunca mais voltar. Ela ria descaradamente da minha cara quando a enfermeira não estava olhando.

— Pode deixar, meu anjo. — A dona a respondeu, tirando o estetoscópio do meu peito para se virar até a tailandesa. (longa pausa), achei melhor deixar em aspas pois ela realmente demorou para virar-se até Lisa. — Os jovens de hoje em dia são mal educados e sedentários.

— Bota sedentário nisso. — Tive que concordar baixinho para que ninguém ouvisse. Acontece que é difícil se exercitar atrás de um balcão de madeira num posto 24h na saída da cidade, que era nada mais nada menos que meu trabalho depois da escola.

Diferente da maioria vergonhosa daquela colégio eu não tinha pais suficientemente ricos para me bancar, — nem ricos quem dirá "suficientemente" — então, para me manter sem maiores despesas eu pegava esse trabalho depois do almoço. Não era ruim, o movimento sempre estava baixo e eu me surpreendia por ainda não ter sido demitido pela falta de clientela, mas o grande problema não era o uniforme verde e azul com um canarinho de enfeite, não chegava a ser, mas sim, o tempo que eu passava em pé, o que convertia para as minhas costas na manhã seguinte.

— Bom, o que eu posso te receitar agora é um relaxante muscular e exercícios extra curriculares. — Ela deu de ombros.

— Mas eu não posso... — Comecei, coçando a minha nuca num início de monólogo que eu sempre dava para aqueles que não entendiam minhas atuais condições.

— Dona Kanji, Jeongguk não tem tempo para exercícios depois da escola.

— Obrigado, mãe. — respondi para Lisa, continuando com as mãos nos cabelos para a enfermeira não ver a protuberância do meu dedo médio direcionado a minha amiga.

— Não disse que era depois da aula. — A senhora nos trouxe novamente para a conversa. — Tem times de rugby, basquete e futebol americano que ainda dão pontos extras para o participante.

— Espera, espera, espera... o que? — Eu me levantei da maca, apertando os ombros da enfermeira. —A senhora disse "pontos extras"?

Ela me encarou com os olhos pequenos ainda menores e afirmou lentamente com a cabeça, num medo real que eu fosse gritar e sair correndo para a primeira lista de chamada das atividades extracurriculares. Ela só havia se esquecido que eu era um garoto prodígio e bem educado, que passava metade do meu tempo ouvindo mpb no fone de ouvido e revirando os olhos pros dramas individuais dos riquinhos a minha volta. Eu definitivamente, não era de ficar correndo pelos corredores.

Meus pés, inusitadamente, corriam em ótimo estado pelos corredores da escola.

Eu tinha minhas mãos firmes nos cabelos, para que eles não virassem um ninho de pombos, e me mantinha atento na respiração, para não acabar suando demais. Eu só tinha aquele uniforme comigo agora, se eu ficasse fedendo acabaria assim pelo resto da manhã. Senti um estalo no meu tornozelo direito e tive que diminuir o passo, lembrando-me que era por esse motivo que Cássia Eller era mais interessante que o campeonato de rugby.

Disputa Acirrada •Jikook•Onde histórias criam vida. Descubra agora