:(

265 47 90
                                    

Não consegui dormir de maneira alguma. Hyunjin não atendia minhas ligações e eu não podia ligar pro Bang só por causa de um medo bobo. Permaneci encolhida no canto do quarto até minhas pálpebras pesarem e eu adormecer ali mesmo.

O despertador não tocou, mas já não tinha mais sono. Minha barriga roncou e meu medo já havia ido embora. Sai do quarto e fui comer alguma coisa. Algo me dizia para pegar um objeto e usá-lo como arma, só para não me sentir tão ameaçada pelo nada, só pra me sentir mais segura.

Assim que liguei as luzes, deixei a água fervendo no fogão, senti o cheirinho do molho e liguei a tv, senti que havia criado medo de algo inexistente. Eu estava à beira de um ataque nervoso, e a culpa seria toda minha. Que boba, Ângela.

Ri de mim. A tragédia sempre vira piada depois que tudo passa.

Liguei para Christopher, pois precisava saber se era necessário eu ir pra prisão ou delegacia hoje. Ele disse que seria bom eu permanecer em casa, até tudo isso se acertar.

Aproveitei essa "folga" para arrumar a casa. Não que estivesse suja, apenas para gastar tempo e não deixar a sujeira se acumular. Coloquei as roupas do cesto pra lavar, meu coração palpitou ao ver uma das blusas de Hyunjin. Balancei a cabeça afastando qualquer tipo de pensamento negativo e acabei de colocar as roupas na máquina. Tirei o pó, varri o chão, passei pano, limpei tudo na cozinha, organizei tudo mo quarto e por fim, cai cansada no sofá.

Depois de alguns minutinhos ali, decidi tomar um banho e aproveitar a limpeza da casa. Assistir televisão na sala nunca me pareceu tão aconchegante e tentador.

Puxei o cobertor até minha cintura e me aconcheguei no sofá macio. Logo estava confortável vendo um filme muito bom de ação. A falta de Hyunjin era inevitável, mas eu estava me virando bem. Notícias ruins chegam rápido, e até agora nada. Então está tudo bem.

Meu celular tocou, me estiquei o máximo até alcançar o aparelho na mesinha de centro. Era um número desconhecido, talvez Hyunjin com um chip novo.

- Oi? - disse assim que aceitei a ligação. Nada veio.

Encerrei a ligação, nada me aborreceria hoje.

O celular tocou de novo. Impaciente, atendi sem nem ver quem era.

- O que é?! - soltei numa lufada de ar.

- Me desculpe, Ângela. Só pensei que você gostaria de saber sobre as novas do caso de fuga. - era Christopher.

- Ah, não, tudo bem. Eu que lhe peço desculpas, é que me ligaram... enfim, me desculpe. - digo mais calma.

- Descobrimos, depois de examinar todas as celas, que o curto que desestabilizou o sistema de segurança veio da cela do seu paciente. - ele revela e meu coração para por segundos.

- Como? Aquele que não existe? - pergunto me levantando para andar em círculos pela sala.

- Sim. Ele conseguiu abrir uma brecha, da onde conseguiu fazer uma ruptura nos fios e jogou água. O curto esquentou e fez vários componentes desarmarem. - Bang explica.

- Eu não pude prever isso, me desculpa... - digo já sentindo o medo novamente.

- Qualquer coisa eu te ligo. Tente não pensar muito nisso, vamos achá-lo. - Bang diz e encerra a ligação.

Respirei fundo e voltei pro sofá. Está tudo bem, Ângela. Está tudo bem. Tentei prestar atenção no filme, mas meus sentidos estavam todos aguçados, impossível de se relaxar.

Com meu corpo em alerta, levantei e fui beber um copo d'água. Mil pensamentos rondando a minha cabeça.

"Se ele estiver atrás de você, o melhor a se fazer é fugir. Então você pega sua mala, separa suas coisas..."

"Ele já te achou. Ele só está esperando a melhor hora para atacar. Tipo agora, que ele está bem atrás de você."

Me viro e não vejo nada. Meu Deus, que loucura.

"Tomara que ele me mate mesmo. Não aguento mais essa vida cheia de traumas."

"Não! Eu aguento sim! Eu sou uma mulher forte e nada vai me acontecer."

Me forcei a continuar nesse pensamento. Ignorando e reprimindo as outras "vozes". A água me acalmou. Subi para meu quarto, já havia anoitecido e lá eu iria me sentir mais segura.

Não consegui dormir. Achei melhor ligar a televisão do quarto e assim as vozes dos personagens me fariam compainha. Fechei meus olhos e de nada adiantou. Suspirei, me sentei na cama e comecei a assistir à animação que passava.

Adoro o Pernalonga.

Já quase no final do episódio, meu celular tocou. Peguei ele em mãos e atendi.

- Bang? Aconteceu algo? - perguntei já temendo o pior.

Nenhuma resposta. Afastei o celular e vi "Desconhecido" na tela. Ouvi algo e aproximei o aparelho da orelha novamente. Meus pêlos se arrepiaram, minha respiração perdeu o ritmo, meu coração pulou na caixa torácica. Eu conseguia ouvir claramente o som da animação que passava na televisão do meu quarto. Quem me ligou estava ali comigo.

Afastei o celular, ainda estática, e encerrei a ligação. Queria ignorar, mas meus olhos buscavam por quem quer que fosse. Eu queria correr, mas minhas pernas se negavam a mexer.

Um pânico me tomou. O medo era tanto que eu apaguei.

(...)

Acordei no meu quarto, na cama. Em uma posição diferente. Me sentei e passei os olhos pelo quarto, vendo ele ali. Ele estava sentado, despojado, na cadeira perto da janela, me olhando. Tateei a cama à procura do meu celular, e quando o achei ouvi sua risada.

- Não adianta ligar para o seu detetive, delegado... chefe de polícia. Tanto faz, seja lá o que ele seja. - ele diz. Sua voz menos rouca do que a última vez.

- C-como? - questionei. Minha voz trêmula e chorosa.

- Digamos que a delegacia tenha se expandido. Ela virou várias e acho que seu amigo também. - ele sorri.

- O que você está fazendo aqui? - perguntei com mais firmeza, embora o pensamento de Bang morto fez lágrimas escorrerem por toda minha bochecha.

- Eu senti sua falta. E com toda essa bagunça, - ele gesticulou. - eu acho que não iríamos nos ver muito... o tempo é tão curto também, agora eu posso ficar o quanto eu quiser. - ele sorri novamente.

Ele não parecia armado. Mas também não parecia com o meu paciente da prisão.

- Qual o seu nome? - pergunto enquanto saio da cama lentamente.

- Jisung. - ele me responde fazendo uma careta.

Smile :) [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora