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- Como você se sente hoje? - pergunto ao homem à minha frente.

Certifiquei-me de que estava tudo em ordem, meu cabelo preso em um coque perfeito, sem nenhum fio fora do lugar, meu jaleco branco alinhado como deveria e meus óculos posicionados e limpos.

Tiro alguns materiais da minha bolsa, os colocando alinhados, lado a lado, sobre a mesa. Um suspiro sai da minha boca, ao perceber que não estavam em ordem crescente. Enquanto os arrumava, esperava por sua resposta.

Peguei também minha prancheta e caneta para anotar minhas observações sobre meu cliente. Ele não parecia ter avanços. Seus olhos negros, olhar vazio, fitando o chão ou o nada com olheiras que ressaltavam sua imagem cansada. Seu rosto fino, atraente, lábios carnudos e sem cor, assim como sua face.

Ele não mexeu nenhum músculo sequer diante da minha pergunta nada simples. Para muitos, essa pergunta é simples, afinal a resposta é sim para quem está bem e não para quem não está bem. Porém, para outros, como meu paciente, é extremamente difícil. O que seria estar bem? Por que o planeta gira? Ou por que hoje é quinta-feira?

Complexo. E foi pra isso que eu estudei por tanto tempo.

Fecho meu dia com nenhuma informação relevante. Ele não falava, não se movia, não me olhava, não esboçava nenhuma reação, sempre imóvel sem expressão.

Guardo meus pertences e saio da sala extremamente protegida por seguranças altamente armados, câmeras bem posicionadas e portas de aço. Meus saltos faziam barulho a cada passo firme dado, isso ecoava. Os demais presidiários assobiavam e gritavam gracinhas para mim, eu fingia não ouvir e seguia meu caminho para fora daquele lugar imundo.

Ao chegar em casa, solto meus cabelos e tiro meus saltos. E em pensar que meus pais queriam que eu fosse policial... o último pedido de meu pai no meu último ano da faculdade. Me tornei psicóloga da polícia, auxiliando na leitura corporal, me colocando no lugar do criminoso para entendê-lo melhor e descobrir coisas importantes para a resolução dos casos.

Cansativo. Mas um bom emprego.

Tirei o resto da minha roupa e tomei um banho. Esperava relaxar sob a água quente, mas nada mudou. Lavei meus cabelos e sai do box. Agora, sem gel no cabelo, sem salto, sem maquiagem. Olhei bem meu reflexo, utilizando os meus ensinamentos em mim mesma.

- Que mulher linda, tenho muito orgulho de ser você. - digo séria e logo um sorriso brota em meus lábios.

Saí do banheiro, coloquei meu pijama e fui arrumar as coisas para amanhã, antes de dormir.

Pelo visto esse lance de perfeccionismo não o chamou a atenção. Como vou fazê-lo falar?

Risquei perfeccionista da lista.

Eu precisaria estudar suas fichas e rever minhas anotações. Ele vai acabar me deixando louca.

Meu despertador tocou. 5hrs.

Respirei fundo antes de começar de novo. Tomar banho enquanto o café se apronta, fazer um coque digno, vestir uma roupa respeitável por debaixo do longo jaleco branco, comer algo e tomar o café. Tudo antes dás 6hrs.

Peguei um táxi, chequei meu relógio e estava tudo certo. Aproveitei o sinal vermelho para passar meu batom de mesma cor. O motorista me olhou pelo retrovisor, ajeitei meus óculos delicadamente com a ponta do meu dedo mediano e o encarei por poucos segundos antes de ele voltar a atenção á estrada.

Paguei o valor da corrida e desci do carro. A grande prisão de segurança máxima à minha frente. Por que todos fizeram o que fizeram? Eu precisava descobrir isso.

Smile :) [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora