KARMA - A Morte Do Seu Lado

II - O Nascimento da Fúria

Katie

Eu não queria ser protagonista, sabe? Eu não queria ser a pessoa que perdeu amigos e encontra pessoas mortas, ou pelo menos quase mortas. Enquanto o Bispo me contava tudo que estava acontecendo na cidade, as lágrimas caíam do meu rosto, fiquei confusa em diversas frases que saiam da bica dele, mas evitei qualquer tipo de pergunta, o dor que ele estava sentindo era enorme. Evitei tentar arrancar as estacas de madeira que estavam cravadas por todo o corpo daquele homem, eu só iria causar ainda mais estrago. O sangue pingava por todo o altar, as escadarias eram banhadas por aquele sangue consistente e vinho.

Meu Pai! Meu pai não estava envolvido com o lado macabro dessa história, e o arrependimento bateu muito forte em meu peito nesse momento. Exorcismo? Seita satânica? Uma religião de diversas pessoas em minha cidade? O Oliver líder? Tudo isso parecia história de filme de terror, mas o escritor deveria ser muito doido para colocar tanta informação desse jeito. É tudo muito histérico.

Enquanto o bispo fala que esses assassinatos acontecem como culto e para evitar que a seita acabe passa pela minha cabeça as pessoas que morreram antes que tudo isso tivesse começado, a Sarah, o que será que ele fez ou descobriu? Será que a família Bates tem alguma coisa haver com a morte das pessoas em 1924? São tantas perguntas, e acho que algumas delas eu nunca vou conseguir responder.

O Bispo fala que o exorcismo deu certo, e antes que o Demônio Belman fosse aprisionado ele foi até a igreja para dar um fim a sua vida. Eu sempre tinha ouvido que os demônios têm forças sobrenaturais, e assim como Deus eles podem interferir sim na vida humana, acho que eles interferiram até de mais na vida das pessoas dessa cidade.

Eu não sei ao certo o que tenho que fazer nesse momento, mas o Bispo me fala o endereço da sede dessa seita, e eu decido ir até lá e dá um fim em tudo isso. Mas tenho que ter paciência e agir com calma, primeiro devo achar meu pai e me desculpar, não tem nada mais amargurante que saber que você praticou injustiça com as pessoas, é massacrante. Eu tenho que encontrar ele. O pior é que ninguém vai acreditar nessa teoria, o novo Xerife está envolvido nisso, eu não posso contar com a polícia, então como eu vou acabar com isso? Uma adolescente que nem tem a maior idade contra diversas pessoas malucas, histéricas e hipócritas? O que eu posso fazer?

Antes que o Bispo me desse novas informações ele dá um leve gemido, tosse e cospe bastante sangue e antes que a morte o levasse ele solta uma conhecida frase:

- Em tuas mãos - Silencia - Eu entrego o meu espírito. - Inclina a cabeça e fecha os olhos, vejo que o corpo relaxa e fica ainda mais inclinado, revelando que as estacas de madeira estão muito bem cravadas e suportando o peso de um homem morto.

Me ajoelho no chão e não contenho as lágrimas, não sei ao certo o motivo do meu choro, mas aceito a missão que me foi dada, eu agora sou peça fundamental para o encerramento desse ciclo massacrante, eu tenho que tomar uma iniciativa. E eu não consigo pensar em nenhuma, e acredito que se alguém tivesse em meu lugar também não conseguiria.

Antes que eu pensasse mais alguma coisa percebo que luzes azuis e vermelhas estão fazendo reflexo no piso e nos vitrais da igreja, escuto barulhos de ambulâncias e da polícia, tudo que eu menos queria agora era ver o Hipócrita do xerife. Enquanto estou me levantando sinto uma mão em meu ombro, penso que é alguma alma penada, mas vejo que é a minha mãe.

- Filha, eu trouxe ajuda! Desculpas por ter saído correndo e ter deixado você aqui. - Fala chorando e olhando para o Bispo morto. - Vamos sair daqui, venha.

Ela me sustenta pelos braços, me levanta com dificuldade. Parece que meus joelhos estão mais pesados que nunca, o chão parece estar colocando o meu joelho como parte dele. Sinto outra mão em meu braço e olho para o lado, vejo que um policial está ajudando minha mãe a me tirar daquele local. Viro de costas para o Bispo morto e vou me retirando daquele igreja.