VI - A Verdade Revelada

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Majon

20 anos atrás...

Recém casado, com uma casa, com uma esposa linda, maravilhosa. Meu Deus, eu nunca pensei que um dia eu conquistaria coisas assim. Tudo que temos no presente um dia foi muito difícil acreditar que teríamos, tudo que almejamos há um grau de dificuldade, que muitas vezes aumentamos. Sempre quis estar estabilizado para pensar em ter filhos, e acho que talvez seja a hora... Mas tenho muito medo, muito medo mesmo, minha família guarda segredos aterrorizantes e eu não sei se estou preparado para submeter um filho a esses riscos. Minha Avó, Meus tios, e meus pais falecidos, faziam parte de uma espécie de religião muito estranha. Lembro que quando eu era pequeno meus pais me davam livros muito estranhos para eu ler, as vezes eu dormia com muito medo. Lembro que na minha antiga casa tinha um quarto que meus pais não deixava eu e meus irmãos entrarem, uma vez eu vi pelo buraco da chave o que tinha dentro, meus pais estavam com uma túnica preta, sentados no centro de um círculo com velas e bebendo uma espécie de líquido vermelho que eu não quero nem imaginar que seja sangue. Aquilo foi aterrorizante para eu e meus irmãos. Assim que completaram a maior idade, todos meus irmãos foram embora da cidade e hoje não tenho nenhum contato com eles, esse fato deixou minha família muito magoada e começaram a apostar todas as fichas em mim, sempre em reuniões de família eles declaravam que eu sou o próximo líder da Seita do Belman. Eu nem sei o que isso significa, só sei que falaram. (Risos).

Trim

O telefone toca e eu vou atender.

- Alô! É o senhor Wodson?

- Sim! Quem fala?

- É da recepção do Hospital Municipal. - Minha Vó têm extraordinários 97 anos e está internada no hospital municipal, por mais que eu tenha um medonho dela e das coisas que ela fala, eu gostava dela, e receber uma ligação assim não poderia ser coisa boa. - Alguns membros de sua família estão chamando você e sua esposa, sua Avó não está bem e querem a família reunida.

Nó na garganta.

- Está bem! Obrigado pela informação... - Desligo.

Abaixo a cabeça e fico olhando para o telefone. Toda a minha infância vem à tona e fico imaginando se é agora a hora de assumir tudo que eles falavam que eu iria assumir. Me arrepiei, só de imaginar minha avó falando que muito sangue tem que ser derramado na cidade para as almas dormirem em paz. Um copo caí na cozinha nesse exato momento.

- Amor? É você? - Grito, mas confesso que não vi minha esposa descendo às escadas para ir até a cozinha. Então, vou em passos lentos até a cozinha, vejo o armário com a porta onde fica os copos aberta. Estranho, mais estranho ainda foi uma cadeira arrastando atrás de mim, e quando viro rapidamente não havia ninguém.

- Aconteceu algo? - É minha esposa em pé na porta da cozinha, ainda com camisola. - Amor, você está pálido...

- Eu imagino. - Dou um abraço nela, e a tenção que eu estava sentindo em meu corpo, pelo menos uma parte, vai embora.

- Recebi uma ligação do hospital, minha avó está nas últimas e minha família quer que eu vá para lá. - Minha esposa nunca soube o motivo de eu sempre evitar minha família, ligações, festas, reuniões. Ela sempre respeitou, mas é muito difícil ela perguntar o motivo e você não saber explicar.

- Você tem certeza que vai? - Ela me dá um selinho. Dá às costas, lava um copo que estava na pia e bebe água. Fico admirando a beleza dela enquanto penso. Ela olha para mim e levanta as sobrancelhas. - E aí?

- Eu vou! Não quero que pensem que eu sou um ingrato.

- Mas você é!

Sempre que falamos de minha família ela fala isso, fala que com família não se brinca, muito menos abandona igual eu fiz. Ela está certa, mas família que faz coisas absurdas como a minha é digna de consideração? Queria colocar isso pra fora, mas ela me chamaria de louco.

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