V - Onde estou?

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Katie

Confesso que não me recordo de já ter seguido alguém em minha vida, mas dessa vez foi necessário. Seguir meu próprio pai? Quem diria. Isso foi fruto da minha ânsia por respostas. Tudo na minha cidade é muito perto, então ao saber que meu pai iria prestar depoimento nessa manhã eu fui direto para frente da delegacia e me escondi em um lugar estratégico. Uma lixeira de lixo, alta e verde estava no lado aposto ao estacionamento, encostada na janela esquerda da delegacia, fiquei sentada ao lado, impossibilitando que qualquer pessoa que saísse ou entrasse no local me visse. Entretanto, cada vez que eu escutava um barulho de um carro ou a porta da delegacia abrir eu tinha que me levantar e olhar. Não demorou muito, na terceira vez já era o carro do meu pai. Percebo que ele está tranquilo, quando ele entra eu volta a me abaixar. Não sei se irá demorar muito, mas quero saber e descobrir qual os passos do meu pai durante todo o dia. Escuto depois de uns minutos que mais um carro está parando no estacionamento, decido não me levantar pois meu pai já está lá dentro mas a curiosidade foi maior que minha decisão. Vejo o Pai do Carlos, O Oliver, saindo do carro acompanhado de um homem alto, com farda de policial, com um chapéu de Xerife.

Oi? Como assim?

Vejo que os dois conversam por alguns segundos no lado de fora, Oliver tira uma foto do bolso e mostra ao homem misterioso. Oliver parece está dando instruções ao grandalhão. Isso é muito estranho.

Não demorou muito e meu pai sai da delegacia brigando com o Oliver. Eu sabia! Eu sabia que meu pai estava escondendo algo com esse homem desde o dia que vi aquela maleta estranha e quando minha mãe começou a desconfiar do meu pai. Vejo que meu pai está extremamente abalado, mas o Oliver mantém a postura séria e às vezes até dá umas risadinhas. Enquanto os dois estão brigando, o Policial Jeff sai da delegacia carregando alguns caixotes, percebo que dentro de um caixote há um livro parecido com os que eu e o Carlos vimos na biblioteca quando invadimos. O policial Jeff está com uma aparência abalada, mal olha para meu pai. Guarda os caixotes no carro e vai embora.

O que está acontecendo nesse local? Por qual motivo o policial foi embora? Qual o assunto que meu pai está discutindo com o pai do Oliver?

Minha cabeça estava uma explosão de sensações e ideias. Agora eu sei como a cabeça das pessoas que criam teorias da conspiração funciona.

Meu pai entra no carro, coloca a cabeça no volante. Oi? Pensativo? E liga o carro. Eu rapidamente corro e pego uma bicicleta que estava ali próximo de mim. Meus pais me educaram direitinho, eu não sou uma ladra, foi impulso. Apenas isso. Tento não perder meu pai de vista, mas está ficando cada vez mais difícil conforme ele acelera, mas também não posso chegar muito próxima ele veria. Percebo que ele não está indo para casa, está na direção oposta, então uma mistura de alegria e medo vem à tona. Estava alegre por saber que eu iria descobrir mais alguma coisa, mas com medo com o conteúdo dessa descoberta. 

Ele para o carro na igreja. Oi? Igreja? Meu pai nunca foi muito religioso, não que eu me lembre. Sempre íamos nas missas, mas apenas aquelas mais festivas ou de uma data comemorativa especial. Entro logo atrás dele, e percebo que é muito bonito usando a igreja está quase vazia, exceto por umas idosas que estão ali presentes e alguns jovens. Meu pai senta em um banco do meio, eu permaneço no fundão atrás de uma coluna de mármore. Que ninguém chegue perto de mim nesse momento, vão pensar que eu sou uma ladra, tento negar o roubo da bicicleta.

Meu pai conversa com uma senhora, deixa ela falando sozinha e vai em direção à uma porta lateral. Eu não sei se é a entrada para o banheiro, ou se ele irá voltar logo. Então demoro uns minutinhos para continuar seguindo ele. Vou lentamente em direção da porta, com muito medo que ele decida voltar e dê de cara comigo. Vejo que há uma idosa sentada próximo a porta.

- Senhora, Bom dia. - Ela está com o terço na mão, não me responde, continua rezando, mas faz sinal de positivo com a cabeça. - Você poderia me dá uma informação? - Prossigo a pergunta. - Você sabe o que está acontecendo lá? - Aponto na direção que meu pai foi.

- O Bispo está em confissão filha. Aconselho você a ir se confessar também, não é sempre que temos a honra de receber o nosso bispo Josué em nossa paróquia, é uma alegria muito grande. São tempos sombrios para nossa cidade, todo mundo mais perto de Deus seria a solução para todo esse medo e esse massacre...

- Obrigado senhora. Vou lá! - Interrompo a mulher, ou se não ela iria iniciar uma missa de tanto que estava falando.

Vejo que meu pai entra em uma fila. Me escondo atrás de uma árvore, as pessoas estão tipo em um jardim, com uma salinha pequena.

Meu coração quase pulou quando olhei para meu pai e ele estava olhando para a árvore. Eu fechei meu olhos, segurei firme no tronco da árvore e fiquei torcendo para ele não vim até aqui. Demorei alguns minutos para olhar novamente, tremendo de medo e vejo que meu pai entrou na sala. Não demorou muito para ele sair, mas vi que estava abatido, carregando uma cruz enorme na mão, um frasco de água benta. O bispo dá um abraço íntimo em meu pai, como se eles se conhecessem a algum tempo. Foi estranho. Espero um pouco para ir embora. Quando estou saindo do local sinto uma mão tocar no meu ombro, olha para trás e não há ninguém. Corro.

Tudo o que eu não precisava naquele momento era começar a ver coisas novamente. Não mesmo. Deixo a bicicleta que peguei emprestada nas escadarias da igreja, com esperança que mais ninguém irá roubar e o verdadeiro dono ou dona irá encontrar, e vou para casa caminhando.

KARMA - A Morte Do Seu Lado Onde histórias criam vida. Descubra agora