Dias Antes
Maggie
O enterro da minha mãe foi muito triste, eu olhava para o seu corpo no caixão e só lembrava-se da tapa que eu dei nela. O mais triste de se despedir de alguém é quando você não disse tudo ou fez tudo que queria com aquela pessoa, acho que o Eu Te Amo mais verdadeiro e mais doloroso é o dito ao lado do caixão. Um eu te amo que sai lá do fundo, sabe? Quando me avisaram sobre a morte de minha mãe e saíram do meu quarto no hospital psiquiátrico eu fiquei arrasada, as lágrimas por um momento pareciam que não iriam sair, mas logo começaram a escorrer pelo o meu rosto.
Eu não tinha muitas opções de roupas, mas logo uma enfermeira me trouxe um vestido preto, bem básico e todo liso sem nenhum detalhe.
- Como você está? – Perguntou.
- Como eu estou? Vocês estão de brincadeira com a minha cara, só pode. Eu estou presa em um hospital psiquiátrico sem ter o diagnóstico de absolutamente nada enquanto a minha mãe está sendo preparada para ser enterrada. Você acha que eu estou bem?
A enfermeira permanece em silêncio e sai do meu quarto. Eu sento na cama e apoio minhas mãos em meus joelhos e fico pensando em tudo que eu já passei com a minha mãe. É lógico que continuo magoada por ela ter me abandonado aqui, nem passa pela minha cabeça para onde eu irei agora, ainda falta um ano para eu ter a maior idade. Orfanato? Tias distantes? Não importa para onde eu vou agora, tudo o que eu mais quero é paz. E será que algum dia eu vou ter paz? Deito e olho para a luz fraca do meu quarto, choro.
Algumas horas se passam, não sei se dormi ou não. Apenas olho para a roupa preta que está no cantinho da minha cama. Sei que inevitavelmente irei vestir aquela roupa, mas a dor permanece a mesma. É tão boa a sensação, os primeiros minutos depois que você acorda você esquece-se dos seus problemas, das coisas ruins que você não quer fazer no dia, enfim. Você esquece-se de tudo... Aquela sensação de paz momentânea, mas o pior pé quando aos poucos você vai lembrando-se de tudo que você irá ter que fazer no dia e bate o desânimo. Eu não tenho feito muitas coisas ultimamente, mas é péssimo pensar que a primeira vez que eu irei sair desse hospital é para ir até um velório, ainda mais de minha mãe que eu estava brigada.
Na porta do meu quarto há uma pequena portinha e para a passagem de comida, vejo que o almoço foi entregue. MERDA! QUANTO TEMPO EU DORMI?
Comer com o sentimento de angústia é muito ruim, o alimento desce pelo meu esôfago parecendo pedra, me arranha. Eu não consigo nem comer a metade daquela salada com frango. Tomo um pouco de suco e todo o copo de água e volto para a cama para chorar. Está presa nesse local é horrível, acho que eu nunca vou parar de dizer isso. É Horrível ao quadrado. Eu não tenho ninguém para conversar, eu tenho, mas não são conversas do jeito que eu queria, a Senhora Candelária não está em condições de dizer coisas que me conforte. A Psicóloga está em sua obrigação, ela está recebendo para falar comigo... Tudo o que eu queria agora era um abraço de um amigo, sabe? Aquele abraço silencioso que diz muita coisa. Um abraço sincero. Não sei se eu vou encontrar meus amigos lá, mas acredito que sim, a Katie não deixaria de me ver. Percebo que os meus olhos estão cansados novamente e volto a dormir como uma princesa.
A Porta se abre. Acordo.
- Maggie, hora de se arrumar, banho liberado no banheiro 8.
Banheiro 8? Desde quando eu cheguei aqui apenas os que entram no banheiro 8 são os funcionários. Nesse banheiro as águas são quentes, pelo menos eu ouvi boatos. A água dos banheiros que disponibilizam para os internados é extremamente fria, até parece um campo de concentração. Muitas vezes eu pensei que eu estava na segunda guerra mundial.
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KARMA - A Morte Do Seu Lado
Horror+18 Em 1924, Stiller, uma pequena cidade no interior canadense, sofreu uma série de assassinatos não desvendados pela polícia local. Noventa anos se passaram, mas a pequena "Stiller" volta a se aterrorizar com um suposto novo psicopata. Será que tod...