- Benícia...- começa Sônia, enquanto seguia meus passos rápidos. - Você...
- Convermos em casa. - interrompo, abrindo a porta da sala.
A professora de artes deveria estar sentada em sua cadeira, ainda em seu horário de trabalho, apesar de restar apenas 20 minutos para acabar. Mas o meu mestre/professor é quem estava lá.
- Desculpa. Entrei na sala errada.
- Não entrou, não. A professora me pediu para pegar os trabalhos, enquanto almoçava.
Sua voz estava mais robusta e grossa. Um tom que nunca tinha ouvido na vida, vindo dele. E a estranha falta do sorriso, que aparecia quando sempre me via, estava me causando paranoias.
Me aproximo mais da mesa e lhe entrego os trabalhos em suas mãos.
Estava ainda tão pilhada com a conversa/briga de Melissa que meus pés e mãos não paravam de bater em algo com ritmo.
...respira devagar...
A sala de aula parece um pouco mais escura do que o normal. E o silêncio, por estar com as janelas fechadas, me traz um desconforto.
- Os dois são seus? - pergunta o mestre, me tirando dos devaneios.
- Não, esse é o de Hana.
- Ok. - pega uma folha e começa a escrever. - Vou anotar os seus nomes para a Sr. Colin.
- Tá bom. - me distancio em direção a porta. - Tenha uma boa tarde...
- Benícia, volte por favor. - chama, com um tom firme.
O jeito autoritário de sua voz me assusta. E o modo inexpressivo me relata de que algo tinha acontecido.
- O senhor precisa de alguma coisa? - me aproximo da mesa novamente.
De relance, eu olho para Sônia em pé na frente da porta, que desvia o olhar de mim com uma expressão que não consigo identificar de primeira. Ainda estava preocupada com o que e como seria a nossa conversa em casa. Porém, volto a minha atenção, rapidamente para o professor.
- Sim. - responde, enquanto retira um pendrive preto de sua pasta e coloca sobre a mesa.
...Mas que merda, Benícia...
- Preciso que pense mais, antes de tomar uma atitude e que não se deixe levar pela fama de certos alunos.
Pego o pendrive e o fecho em minha mão com força na tentativa de sumir com aquilo.
Quero que esse dia acabe.
Derrepente, a raiva some e sou consumida pela decepção.
Tinha esquecido o pendrive na estante ao lado do computador das câmeras no domingo. E se não fosse pelo professor, eu não estaria aqui, agora.
Mas o que eu esperava?! Que tudo o que tinha feito ia ser escondido e que só as pessoas que eu queria que soubessem, para esfregar na cara delas, não iriam fazer uma algazarra sobre mim?!
Realmente tinha achado que as consequências não seriam tão grandes. E talvez não eram...até ele chamar minha atenção.
- Sabe que se o diretor encontrasse essa fita, você iria se encrencar muito, não sabe?!
- Sei. - respondo com a única coisa que consegue sair da minha boca.
Meu corpo pedia para ir embora. Não porque, não queria ser chamada atenção, mas porque tudo aquilo estava me fazendo afundar na minha tristeza.
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A Essência Perfeita
RomanceBenícia. Com certeza não é um nome normal e muito menos a adolescente/idosa que a história se retrata. Sua personalidade e comportamento é de uma adulta chegando a menopausa apesar de ter só 19 anos. O auge de sua vida está sendo a faculdade e nel...