18 - O Sonho. Parte I

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   Frio. É  o que sinto. Não sei onde estou. Tudo está muito escuro... Minhas mãos vão nas paredes de pedras do local — local que ainda é um mistério —, tentando identificar o percurso que me levará a algo. Ainda tudo está frio e escuro, sem nenhum sinal de luz. O que posso escutar no local, é apenas uns ruídos fracos que vem de longe, e as malditas gotas d'água que por muito tempo teimam em cair. Os meus pés molhados, meu corpo cansado, o suor que cai em minha testa... São um bons exemplos de como estou farto desse lugar. Caminho por um longo tempo; sem saída, sem respostas.

   Será apenas mais um sonho? Não sei. Talvez seja aquele mostro, coisa, criatura ou qualquer idéia de terror que ele seja me fazendo passar por mais uma coisa Paranormal. O que ele quer de mim eu não sei, mas que isso está me deixando louco e assustado, está...

   Parece que estou andando em círculos. O pior é que não tenho como saber, estou praticamente cego nessa escuridão. Estou farto disso. Não entendo, porque logo eu? ... Logo eu! Miserável... Talvez seja um castigo pelas coisas ruins que fiz no decorrer desse 35 anos, o que ele não sabe é que não me arrependo. Não mesmo. Não sei, não pareço ser alguém mau e egoísta... Mas algo em mim tende a ser o mau, em outras palavras: "O vilão". Mas vilão de quê? Isso tudo parece um filme, cujo o ator principal sou eu. Péssimo filme...

   Cansei disso. Isso não é um sonho! Isso nunca é um sonho. Isso é muito real, como da última vez... Isso é tudo real, posso sentir tudo o que faço. Não entendo direito como vim parar aqui, apenas me lembro de uma noite boa com minha esposa e do escuro. Não sei o sentindo disso. Não sei o que ele quer de mim. Talvez esteja se divertindo comigo, e, esperando o melhor momento pra me matar!  Talvez seja isso.

   Sinto uma respiração forte de algo que vem atrás de mim. Não é nenhuma respiração normal, e sim, de algo que mais me parece respirar como um búfalo. O que posso garantir é que não é humana. Meu coração esfria, meus pelos se levantam em um piscar de olhos. O medo me invade por completo. Não sei o que está por vir, mas sei que não é boa coisa. Apresso meus passos. Minhas mãos vão quase rasgando na parede, mas minha pressa é maior que esse simples problema. Olho para trás, mas não vejo nada alem da escuridão. Continuo. Posso ouvir seus passos lentos vindo... Posso sentir que algo de mau está aqui. Continuo, o medo me diz pra não parar e é exatamente o que faço.

   Vejo uma luz que vem de baixo de uma porta. Uma luz amarela e fraca. Vou em direção à porta. Ouço a respiração forte da criatura que me persegue, meu coração está à mil. Tenho que sair daqui o quanto antes! A coisa que me persegue da um enorme grito, e percebo o quanto ela deve ser horripilante. O medo me faz correr sem saber por onde ando. Péssima idéia, acabo caindo no chão depois de tropeçar em uma pedra. Levanto-me rapidamente, mas com uma dor enorme no pé. Com um enorme esforço chego na porta. Ouço passos apressados vindo em minha direção. Entro rapidamente no local. Olho para a tranca: nada de fechadura. Parece que algo destruiu...  O que me resta é correr. Corro e agora com a luz dos candelabros que iluminam o local, posso ir mais seguro, porém com uma dor no pé por conta da pancada.

   Posso ver mais uma porta adiante. É pra lá que corro. Me aproximo da porta já limpando o suor que descia em minha testa. Tento entrar na porta, mas ela está emperrada. Não posso perder tempo. Dou alguns passos rápidos pra trás,  e corro com o ombro na frente me jogando fortemente na porta que se abre me levando ao chão. Levanto, limpo minhas mãos e continuo à correr.

   Já estou quase sem ar. Paro por um minuto. Coloco as mãos no joelho, e respiro rapidamente, como se aquilo fosse a última vez que pudesse respirar — dependendo do que está atrás de mim, talvez seja. Posso ver minhas gotas de suor que caem no chão sujo do local. Respiro fundo, continuo meu trajeto naquele lugar que não sei onde vai me levar, apenas corro.

    Chego em um local amplo. Mesas e cadeiras velhas empoeiradas, juntos com os muitos papéis sujos e rasgados jogados ao chão. Caminho lentamente analisando o local, pisando nos papéis que estão no chão. Me abaixo, pego um que me parece conter alguma informação. O papel está muito sujo e as letras estão desbotadas. Consigo ler algumas coisas:

"Projeto realizado com sucesso. O soro V4B funcionou..."

   Não consigo ler o resto. Está ilegível. Tento ler outros mais então ainda pior. Seja o que for... Isso parece ser algum projeto científico.

    Mais adiante existe uma enorme porta de ferro. O que me parece ser uma porta bem resistente. Me aproximo da mesma. Algo me diz pra não entrar, mas não tenho escolha. Não quero ficar aqui esperando aquela coisa vir me matar. Tento entrar, mas está trancada. Olho em volta procurando a suposta chave da porta.

— Muito óbvio... — a chave estava no lado superior da porta em um prego.

   Enfio a chave na fechadura que faz com que a porta se abra com um ranger de dar arrepios. O local me parece uma prisão — uma mini prisão com algumas celas —, bem reforçada, 6 celas ao todo, e uma última bem maior e mais reforçada do que as outras. Tento ver alguma coisa no interior delas, porém, só vejo correntes e seringas jogadas no chão. Vou em direção a maior, talvez lá possa encontrar respostas...

   O que encontro é apenas mais uma cela vazia, porém, essa parece de algo muito pior do habitava nas outras... Esqueletos de animais estão espalhados no chão, não apenas de animais...  De humanos também! Enormes correntes estão despedaçadas no chão. Algo que estava preso com certeza se soltou. Talvez seja a mesma que está vindo atrás de mim.

   Vejo fotos nas paredes. Fotos velhas e antigas. Me aproximo. Pego uma das fotos. A foto é de uma criança. O que essas fotos estariam fazendo em um lugar como esse?

   Passos rápidos estão vindo. Ele está próximo. Rugidos, gritos desesperados da criatura me fazem tremer como nunca tremi antes, e o pior é que eestou sem saída. A criatura está bem perto, posso ouvir sua respiração, sua forte respiração. Meu coração acelera, minha boca está seca a muito tempo, minha respiração aumenta a cada passo que ele dar se aproximando do local. Péssima escolha entrar no quarto da criatura!

   Ele se aproxima lentamente, analisando o local... Entra devagar. Estou diante de algo tenebroso. Me parece um demônio mandado por Lúcifer. A criatura na qual está na minha frente me encarando, tem uns olhos brancos profundos, os cabelos grandes caidos nas costas, um buraco onde deveria ser o nariz, as orelhas pontuadas e grandes, sua boca larga com seus dentes pequenos e afiados, com uma língua que não para na boca, braços grandes  com unhas enormes, sua pele parece estar podre, pois o cheiro é muito ruim. Ele dar seus passos lentos pra perto de mim. Ele abre sua boca em um sorriso maligno e levanta seus dois braços em minha direção. Agora que eu morro...

   Ele está cada vez mais perto de mim. Meu coração podia parar e eu morrer ali, com uma parada cardíaca, porém não tenho tanta sorte. Fecho os olhos. Espero meu fim...

— John, John, John...! — escuto uma voz muito grave — o que aprendeu hoje, John?

 

    Abro lentamente meus olhos. É ele, a coisa. Seus olhos de fogo me encaram...

— Aprendi o quê?!  — digo quase chorando.

— Talvez isso não seja o bastante... — diz. — logo descobrirá.

— O quê?!

    Ele não responde, apenas aponta para atrás de mim. Me viro, vejo pessoas em seus jalecos brancos, eles estão próximos a muitos corpos... Espera! Esse... Esse é meu sonho, o mesmo local, as mesmas pessoas de jalecos brancos, a seringa com um líquido vermelho... Tudo!

Você tem medo?Onde histórias criam vida. Descubra agora