12 - Marie.

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Meus pensamentos são muitos. Muitos, até mesmo, para uma pessoa apenas. Mas não tenho ninguém para dividi-los, agora não mais. Meus passos definem o que estou sentido – e como estou sentido.

 

 Eles. Os pés. Pedem por descanso desesperadamente, clamam por misericórdia. Mas não posso atender suas súplicas agora. Tenho que fugir desse mal. Do mal. Daquele mal. O mal que me fez sofrer, que me fez chorar e ao mesmo tempo... Ser mais forte. Minha luta é contra alguém, esse alguém está me perseguindo. E eu corro para me livrar dele. Me livrar de suas palavras enganadoras. De um mentiroso! Que apenas me enganou.

  

   Nunca vou tirar essa dor que eu sinto. Nunca vou arrancar de meu peito esse ódio. Não quero vê-lo. Não quero ouvir sua voz. O que eu queria era ver seu sangue fluindo de seu corpo, em um corte profundo sem voltas! Sem arrependimentos! Sem volta... só à sua morte vai me aliviar... Só a sua morte.

 Estou correndo sem direção. Meus olhos procuram no relento uma saída, porém, não há alguma sequer. Estou sozinha. Estou perdida, estou perdida de mim mesma! Pouco sei, depois do que aconteceu. Parece que estou ficando louca, mas não estou bem desde muito tempo atrás, dessa vez é diferente. Meus pensamentos me corroem, apenas por pensar sinto uma enorme dor. Muitas vozes estão falando em minha cabeça, que não há tempo para pensar. Não posso nem ao menos pensar?

    "Assassina!", "Sua assassina!" "Marie, sua assassina!", "Você vai pagar caro, Marie!". São muitas às vozes em minha cabeça. Muitas almas. Muitos me condenam, outros lamentam! Sei do que eu fiz, sei que isso não vai ficar por assim dizer. Vou pagar caro, sei bem. Mas o que às almas não sabem é que me sinto livre. Matei. Me libertei. Sou uma assassina. Mas à muito tempo me mataram, mataram-me, me vendendo como prostituta. Mataram-me, me enganando. Miseráveis. Eu sou uma miserável também, por me deixar acreditar no que era impossível. Mas agora não sou mais aquela Marie Ames, sou uma nova. Essa nova não é tão frágil. Essa, que, desde minha primeira morte, mudou. Senti como é bom matar e se deixar levar por isso.

Mais cá estou, com minha boca seca a muito tempo. Estou muito ofegante. Olho pra trás frequentemente. O que acabo de fazer? Por que fiz isso? Não sei. Apenas sei que foi bom, e não sinto remorso por isso. Provei mais uma vez o gosto da morte. O prazer que tem em matar. Sim, acabo de fazer isso.

Agora estou sem rumo. Ando. Corro. Não sei pra onde vou. E nem pra onde irei. Não posso ir pra casa de amigos, porque não tenho, nem me lembro dos últimos que tive. A família que eu tinha, era minha mãe, mas ela morreu a dois anos atrás. Foi na época em que conheci Édis Lorenzo, meu agora falecido marido. Ele morreu não muito tempo...  Eu, o matei.

   

Minha vida anda sem rumo ao um bom tempo. Um dia roubaram minha pouca felicidade. Ele roubou... John Vadlet, esse que está atrás de mim.

  

 Meus pés estão cansados, mas não posso parar.  Não quero que ele me acompanhe. Estou em uma boa distância dele.

Corro nas ruas de Nova York, ás pessoas me olham com espanto. Mas não fazem nada além de olhar. Fico feliz por isso e com um enorme ódio também. Uns tentam me parar pra ver o que me acontece, mas não deixo, empurro-os pra longe. Não quero ninguém tocando em mim. Não quero uma só mão tocando em meu corpo – uma vez tocaram no meu corpo sem minha permissão... Aquele velho asqueroso. Maldito seja ele, onde quer que esteja, mas sei bem o lugar onde pessoas como ele vão... Para o inferno!

 Corro mais ainda. Meu coração vai explodir, tampouco consigo respirar. "Preciso me esconder", penso. Entro em um beco. Mas para meu azar me dou conta que estou sem saída. Olho pra esquerda - apenas latas de lixo. Olho pra direita - há uma porta, mas está fechada, frço minha entrada mas de nada adianta. Estou presa. Sem saída. Ele vai me pegar. Ele quem ? John! Aquele miserável. E não demora muito para isso acontecer – ele para, põe uma das mãos no peito e a outra no joelho, recupera suas forças. Até que ele levanta sua vista, e, me mira  com seus olhos. Aqueles olhos... Os mesmos de quando ele era mais novo. Ele deve me achar uma ratinha encolhida aqui nesse chão. Estou com medo. Como não teria medo? Ele me causou muita dor, e muito sofrimento! Ele também é a grande razão porque tenho ódio das pessoas. É a grande razão por minha vida ser infeliz. Mas ele, foi a grande razão na qual eu precisei matar aquele velho. Quando matei meu marido, não foi por sua culpa, foi minha. Matei por ódio, ódio de quem me engana. Meu marido ousou fazer isso. Azar o dele. Nem dei tempo dele se explicar, se ele quiser se explicar que, se explique para os muitos demônios no inferno. Sou fria... Me fizeram ser assim. Que culpa eu tenho? Sou apenas uma criança nesse mundo de terror.

 

  Mas estou perdida agora, não tenho saída. O grande causador de minhas mágoas está à metros de mim. Não sei o que vai acontecer. Apenas sei que,  não vou sair chorando...

   

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