The Himmlisch

Cap.7- Reflexos

AI MERDA! Alguns segundos de distração foram suficientes para que o maldito lacaio do Lício escapasse floresta a fora. E tinha essa espécie de E.T. que acabara de nos salvar do enorme e assustador monstro que havia nos atacado. Ei, ele tinha características muito marcantes: sua pele pálida em contraste com a iluminação transitava em tons de rosa pálido e branco. A cor de seus olhos era ao mesmo tempo leve e vibrante, um azul cristal que contrastava com seu olhar sério e fatal. Quando Lían e eu tivemos aquela poderosa sensação de conexão na floresta à princípio não entendemos o motivo, mas agora estava claro que havia outro de nós no local, e era esse ser que tinha se aproximado, aguçando nossos sentidos. Ele disse que tínhamos negócios a tratar, o que era? Não sei, mas isso não importa agora. Só estou preocupado porque acabamos de perder um monstro arte-marcialista em território desconhecido e nossa única forma de voltar pra casa foi pro saco.

Ignorando sua misteriosa introdução, Lían foi bem direta ao perguntar quem era e o que queria conosco, o motivo de ter nos ajudado.

-Meu nome é Deaken- respondeu com firmeza -É o seguinte: estamos nessa situação de merda e agora eu preciso de vocês para resolver alguns assuntos e em troca eu lhes ajudo a voltar para o seu mundinho, ou seja lá o que for; sem complicações. Além do mais, são vocês que vieram me procurar.

Ah pronto! Aquele projeto de justiceiro arrogante era o Himmlisch que procurávamos, para nossa triste infelicidade. Agora não há nada que podemos fazer, ou cooperamos com ele, ou podemos nos contentar com uma nova vida neste planeta ainda mais poluído do que a Terra. Vamos pela primeira opção.

Deaken decidiu nos guiar por um atalho até um local seguro, próximo à civilização. O tempo aqui funciona de maneira incomum e parece que o dia é um pouco mais curto, então é melhor que nos acomodemos ao ambiente para começarmos a trabalhar nos negócios dele amanhã, e logo em seguida, resolveremos nossos próprios assuntos. Ele disse que o caminho era longo e como já estava anoitecendo devíamos nos aconchegar ali mesmo, não era difícil dar um jeito. Eu tinha algumas roupas reservas na mochila e dava pra usar seu tecido e transformá-las em cabanas e sacos de dormir, manipular materiais é algo que eu não faço com frequência, mas é necessário exercitar os dons de vez em quando. Lían e Deaken foram pegar 'lenha' enquanto eu protejo o perímetro com meu campo de força, alguns invasores podem ser uma pedra no sapato. São impressionantes as semelhanças desse planeta com a Terra, a biologia aqui funciona de forma bem similar.

[...]

Eles estão de volta, para falar a verdade não demoraram muito, algo próximo de uns 20 minutos terrestres. Preparamos tudo de forma simples e dinâmica, fizemos uma pequena fogueira e colocamos alguns tocos ao redor para nos sentarmos, pode se dizer que estávamos acampando. Deaken nos surpreendeu ao originar algumas pequenas criaturas mortas e espetá-las na fogueira, perguntado se estávamos com fome. Por mais que eu tenha aprendido a não aceitar nada de estranhos, sabíamos seu nome, ele não era mais um estranho certo? A fome é maior então não vou hesitar em provar um pouco daquele petisco que nem sei dizer o que é.

[...]

Com todos satisfeitos, abriu-se um clima bastante tranquilo que nos deixou confortáveis o suficiente para socializar e conversar. Tomei a liberdade de fazer a Deaken alguns questionamentos que agora estão matutando em minha mente. Começando pelo nosso primeiro contato, onde ele mostrou nos conhecer e ainda completou de forma que ficasse implícito que ele precisava da gente de alguma forma.

Deaken respirou fundo e disse que precisávamos entender o que aconteceu para lidarmos com o que estava vindo. Por isso, foi bastante cauteloso e, com calma, começou a noticiar os fatos:

-Como vocês sabem, cada um de nós foi devidamente criado com habilidades específicas que variam de acordo com nossas respectivas áreas de atuação. Mas já pararam para pensar que alguns celestiais possuem poderes que transcendem grandes leis do universo e que com estes poderiam facilmente exterminar ou construir nações inteiras? Acontece que devido ao meu duradouro tempo de vida aqui eu percebi que este planeta está preso em um ciclo incessante que o impede de progredir. Eu tenho lutado por todos esses anos e vejo que, assim como uma onda oscila entre subidas e descidas, Drohtinn tem passado por constantes quedas e ascensões, mas nunca alcançou um nível de estabilidade. Algo necessita de ser mudado aqui, pois minha missão não tem fim e, se continuar assim, nunca terá. Nosso objetivo inclui preservar o equilíbrio das nações mantendo-as seguras e sobretudo, prósperas; mas não há como preservar algo que nem sequer existe.

-Tudo bem, deu pra entender que tudo está fora do lugar aqui e que e existe um ciclo contínuo, mas ainda não entendi em que ponto você quer chegar e onde eu e Lían nos encaixamos nessa história. -Retruquei, interrompendo-o.

Então ele deu continuidade ao seu raciocínio:

-Seja paciente, estamos quase lá. Certo, como eu estava dizendo, existem celestiais com poderes extraordinários. O que aconteceria se um deles se rebelasse e decidisse fazer o que quisesse com suas habilidades? Não é preciso pensar muito para concluir que isso poderia causar catástrofes irreversíveis. Vocês com certeza sabem que nada é feito sem que se haja um preparo, uma receita, um manual. É como se as coisas sempre precisassem de uma teoria para serem devidamente colocadas em prática, e é claro, pensar em possíveis falhas e trabalhar em soluções para as mesmas é algo fundamental nesse processo. Com os Himmlisches não é diferente, eu estudei a vida inteira a respeito da nossa criação e nossas peculiaridades, e mesmo que não há em nenhum material do C.U.P. alguma informação precisa sobre o assunto, as evidências e dados devidamente conectados me levam a crer que cada celestial possui um outro celestial espelhado, com habilidades semelhantes mas que se completam entre si. O objetivo desse ser-espelho seria eliminar o outro caso fosse necessário, pois com seus poderes equiparados, haveria chances maiores de derrotar o causador de problemas.

-Pode ir direto ao ponto Deaken, você acredita que um de nós seja um celestial-espelho? Se é que esse conceito existe mesmo, não é? -Indagou Lían curiosa.

-É como eu disse, minha crença a respeito de celestiais espelhados tem base em pesquisas e raciocínio lógico, e sim, acredito que um de vocês seja um espelho, mais precisamente ele; - completou, dirigindo-se a mim.

-Hmm... Certo. Essa conversa está tomando um rumo um pouco, digamos, peculiar. O que o leva a acreditar que minhas habilidades são espelhadas nas suas? Ou melhor, porque EU seria espelhado em VOCÊ? E, supondo que esse conceito dos celestiais espelhados seja real e que eu realmente faça parte disso, exatamente em que eu poderia ajudar? -Questionei com interesse no assunto.

-Esse é o ponto! Uma de minhas habilidades é a onipresença visual. Eu posso ver o que está acontecendo em qualquer lugar do universo, desde que eu conheça o local ou que exista outro Himmlisch próximo dali. A energia que nossa espécie radia é facilmente rastreável entre nós mesmos. A prova disso foi que eu pude sentir a sua presença antes mesmo de chegarem, daí me posicionei na mata pois sabia que corriam risco com os monstros que estão à solta. Voltando ao foco, foi assim que conheci ambos, junto com outros vários celestiais eu observei sua rotina, o uso de seus poderes e inclusive sei de todas as tragédias que têm passado, sinto muito por isso, a propósito.

-É sério, era pra nós estarmos achando normal o fato de que você tem nos espionado e invadido nossa privacidade sem nosso consentimento por todo esse tempo? Aliás, há quanto tempo tem feito isso mesmo? – Questionou Lían levemente indignada.

-Não há nada para se preocupar, não invadi a privacidade de ninguém. Bem, não muito. O que importa aqui é que eu percebi o quão burra você é e o quão insuportável ele é. Simples. Ah, e a resposta é a vida toda, já que perguntou.

-Você me chamou de burra? G., você ouviu isso? Ele me chamou de burra. Nem sei se devo perguntar o motivo do insulto, melhor evitar intrigas.

-Bem, vou fingir que eu nem ouvi essas ofensas, até porque precisamos de você agora, então é melhor não entrarmos em discordância para que todos consigamos o que queremos. Mas e aí, o que te trouxe até mim? -Confesso que contornei o clima com sabedoria, ao manter o foco no que se fazia realmente necessário, mesmo com uma vontade imensa de meter um socão nele.

-Seus poderes, eles são bem parecidos com os meus, mas de certa forma, opostos. Sozinho eu nunca quebrei o looping que Drohtinn vive, mas acredito que com sua ajuda, conseguiremos acabar com isso.

-Se você explicasse as semelhanças entre nossos poderes seria mais fácil para a minha compreensão, ao invés de enrolar e nunca chegar a lugar nenhum. -Intervi, de forma objetiva.

-É complicado, vamos descansar pois amanhã o dia será corrido. Prometo explicar as coisas melhor no decorrer da missão.

E assim, fomos dormir, cheios de dúvidas na cabeça, Deaken tinha um segredo e suas intenções eram questionáveis, preciso descobrir o que ele realmente quer conosco. Quem era ele? Quais eram as suas verdadeiras intenções? De uma coisa eu sei: ele não me parece nada confiável, então já até sei o que devo fazer...