Cap.6- Desbravando o Desconhecido

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Segunda-feira, dia 22 de outubro, são 7h da manhã e cá estamos novamente, no auditório abandonado. Bruna está aqui também, ela veio para nos fornecer o transporte, se é que me entende. Esperamos retornar em breve, afinal, não precisamos de muita coisa, é só um favor e logo estaremos de volta em casa. Há quem diga que vida de adolescente é fácil, mas você já viu a enorme responsabilidade que carregamos todos os dias, além do mais, temos que conciliar a vida de estudante com o trabalho urbano e agora, com essa desgastante jornada de brincar de FBI. Não dá para ficar investigando essas coisas quando você se encontra em um momento de total tensão, saber que seus amigos estão desaparecidos, foragidos, quebrados e angustiados. Já perdi a conta de quantas vezes matei aula bancando o Sherlock Holmes. Dessa vez não era diferente, aqui estamos nós, indo para outro planeta, inventando desculpas para as famílias e justificando faltas na escola. Só não estava tão preocupado porque nossas notas são consideravelmente boas, não seria muito difícil passarmos de ano ainda nesse 3º bimestre. Apesar de tudo, eu me mantenho otimista, acredito que no final das contas, ainda venceremos essa guerra. Lían parece disposta a aceitar que tudo dará errado, já não está mais motivada como no início. Não dá para culpá-la, afinal, passar por tanta desgraça te quebra de maneiras inimagináveis e é quase impossível manter a esperança, mas ainda tento compartilhar a minha com ela, pelo menos como uma forma de amenizar sua dor.

Bruna se preparou, e, com a mão levemente estendida para frente, fez seu trabalho com facilidade. O portal para Drohtinn estava aberto e agora viria um dos momentos mais emocionais de todos: a despedida. Neste mesmo dia, ela estava indo com Ferb para o planeta isolado, conforme eu havia lhe pedido. Nunca se sabe quando nos veremos de novo, porque agora qualquer comunicação entre nós estava sendo cortada, nem mesmo suas emoções eu poderia sentir, para evitar algum tipo de rastreamento inimigo. Ela, por sua vez, também estava abrindo mão de usar seus poderes com o mesmo objetivo, não ser localizada. São muitos os sacrifícios que têm de ser feitos, mas os fins devem valer a pena. É doloroso, pois Bruna é a minha melhor amiga, tê-la por perto é uma motivação a mais para continuar lutando, talvez essa sensação de segurança seja trazida por causa de sua coragem e bravura, é como se fosse um porto seguro; em quem eu posso confiar, desabafar, ouvir e é claro, contar sempre. Saber que pode levar meses ou até mesmo anos para reencontrá-la é algo que mexe comigo. Ela se despediu de Lían com um enorme sorriso no rosto e um abraço apertado, veio até mim, aproximou-se e nos abraçamos bem forte; no pé do meu ouvido ela se aproximou e com a voz serena disse:

-Boa Sorte!

Por fim, segurou minha mão, abriu-a e entregou-me uma pequena caixa, era um dispositivo que usaríamos para abrir o portal de volta para Terra, ao fim da missão. Agradecido, lhe dei um último abraço, e com lágrimas nos olhos, adentramos o portal arrastando sedada a criatura que nos atacou. A fenda se fechou atrás da gente e agora restava seguir em frente, colocar a mão na massa e alinhar novamente o trem em seus trilhos.

[...]

Eis nos aqui, rodeados de altas vegetações nativas que se assemelham às árvores terrestres. Há verde para todos os lados e estamos em uma espécie de floresta. O ar é um pouco desagradável, parece dezenas de vezes mais poluído que a atmosfera da Terra, o que é um pouco irônico em vista da grande quantidade de plantas presentes. Celestiais conseguem se adaptar a qualquer ambiente e acredito que é por esse motivo que ainda estamos vivos. Cresce a ansiedade pelo fim da missão, mal chegamos e não estamos dispostos a ficar muito tempo.

Pedi que Lían vibrasse o solo para termos uma noção mínima do que nos aguardava pela frente. Ao fazê-lo, viu grandes feras e ouviu desbravantes ruídos, destruição e dor; viu um vulto de nuvem negra e assim sua visão cessou. Ela parecia tranquila de mais para alguém que tinha visto algo daquela amplitude. Um estrondoso som surgiu do centro da floresta e acabou acordando o monstrengo que estava sob nossa posse. Era melhor começarmos a andar para evitar que algo indesejado nos encontrasse.

Abrindo caminho pelo matagal avistávamos poucos seres vivos ali residentes, quase nenhum. O grande estrondo tornou a surgir no horizonte, e agora parece estar absurdamente próximo, arrastando o monstro amarrado meus movimentos estão um pouco limitados, mas estou atento caso alguma coisa suspeita se aproxime, além do mais, Lían está bem armada e dependendo da situação, sei que ela pode lidar com isso sozinha.

As altas plantas começaram a se movimentar bruscamente e nossos sentidos ficaram extremamente aguçados, uma incrível sensação de poder e conexão. Minha ligação com Lían estava indicando alguma coisa. Sem mais, surgiu em meio ao mato uma grande fera de dentes afiados e duas grandes presas de marfim em sua assustadora boca, devia ter cerca de 3 metros de altura e ao avançar em cima de Lían se mostrou nada agradável. Usando sua katana, ela movimentou aquelas lâminas com uma potente agilidade e domínio, a criatura usava sua força bruta como principal arma e parecia ter a intenção de nos devorar. Prendendo Lían ao chão, esta o apunhalou no estômago de forma quase fatal, mas a criatura não demonstrava fraqueza e em um ato de resistência, abriu a enorme boca em sua direção enquanto eu a golpeei no pescoço, seguido por um contra-ataque de desespero que me atirou ao chão. Na queda, ouvi um leve barulho vindo do meu bolso, como se algo tivesse quebrado. Ao verificar, percebi a grande merda que ali acontecera: a nossa volta para casa teria que ser adiada!

Voltando- se novamente para Lían, a fera se aproximou e preparou-se para abocanhá-la. Em um ato de força, usei meus poderes para erguer a criatura fazendo que a mesma deixasse de tocar o solo, e quando menos esperava, surgiu por trás de mim uma poderosa rajada de energia negra que instantaneamente consumiu a fera, transformando seu corpo em pequenos estilhaços de matéria morta. Sem o menor espaço de tempo, acompanhada da estranha energia surgiu uma desbravante voz, que se introduziu a nós com uma enigmática proposta:

-Finalmente! -Acredito que temos alguns negócios a tratar!

[...]

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