Perdida

Dia 23

3.45
Cheguei a casa à cerca de dez minutos.
Sentada no sofá com a televisão ligada nos desenhos animados.
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Há alguma coisa que não me cheira bem e não é por ainda estar com a roupa de ontem.
Voltei ao bar onde perdi a carteira, o Pérola, e vi o tal "psicólogo barato" encostado ao balcão.

Não me atrevi a tirar o casaco num lugar daqueles, ainda não tinha chegado a esse ponto.

Ele olhou para mim e chamou-me para me sentar no lugar ao pé dele. Não sei porquê, mas obedeci.

Porque é que estás aqui? Vieste ver-me?
Não sei. Apeteceu.
O que é que queres , garota? Quantos anos tens? 18? 20?
19 e, como eu disse no outro dia, continuo tão perdida como qualquer outro que aqui esteja.
És tão jovem... Até tenho um pouco de pena de ti. Tens uma grande diferença para com toda a gente te aqui está. Não és tão perdida como nós, embora acredites que sejas.
E qual é essa "grande diferença"?
Ainda podes encontrar-te. É essa a diferença.
Não acredito.
Não és tão estúpida como queres que te vejam. Tenho um concelho para ti : vai te embora. Mas eu sei que não vais fazer isso. É melhor ficares perto de alguém para não fazeres coisas que te vás arrepender.

Ele largou a garrafa que estava a beber e penteou o cabelo para trás. Quantos anos teria? Não sei. Pegou numa nota e pagou no balcão, vestiu um casaco e estava para se ir embora quando eu agarrei no braço dele e ele suspirou.

O que é que queres?
Eu não quero estar sozinha. Sei que está é a última coisa que eu devia fazer, mas estou a pedir boleia a um perfeito desconhecido.

Ele tirou a chave do bolso.
O meu é o preto encostado à esquina. Não devias fazer o que está a fazer. Imagina que eu te tento assaltar ou violar ou mesmo matar? Já pensaste nisso?
Não tenho dinheiro comigo.
Isso não exclui as outras duas opções.

Ele tinha razão.
Chamou-me até ao carro e eu e ele ficámos um pouco no exterior, ele com um cigarro nos dedos.

Entrámos no carro preto dele e seguimos até minha casa.

E eu sem saber o nome dele...