Perdida

Dia 15

A casa do tal gajo que falou comigo. Não tenho coragem para lhe perguntar o nome.

Só sei que ele me levou para casa dele depois de eu me ter embebedado ontem.
Das duas uma, ou ele quer proteger-me ou ele quer alguma coisa de mim.
Estou indecisa.
Até agora não fez nada.
Que eu saiba.

Acordaste?

Ele estava encostado à porta e eu estava deitada na cama com a minha roupa vestida. O quarto não cheirava a nada.

Quem és tu?
Um gajo que te salvou a vida.
Porque é que fazes isso?

Ele entrou no quarto e sentou-se em cima da cama. Por favor não sejas previsível.

Não devias odiar-te tanto. A sério.
E tu podias parar de me chatear. O que é que queres?!
Tenho pena de ti. Se me vais perguntar se eu tentei alguma coisa contigo, podes ver que ainda tens a tua roupa contigo e que eu nunca iria fazer alguma coisa com uma criança em tão mau estado como tu estavas. Eu ofereço-te o pequeno almoço e depois vais para onde quiseres.
Eu não preciso de si.

Só nessa altura reparei que estava a tratar um gajo desconhecido de 40 anos por tu.

Não precisas de me tratar como se eu fosse um velho.
É um velho. Não é mais do que isso. Um velho maluco que leva raparigas para a sua casa!
Eu salvei-te a vida. Alguém podia tentar aproveitar-se de ti no estado em que estavas. Eu só te ofereci um copo de água e depois desapareceste. E quando te voltei a encontrar estavas a dançar e a cantar em cima de uma mesa e eu tive de te tirar de lá.
Como é que eu sei que não fez nada comigo?
Eu dormi no sofá. Ele deve cheirar a água de colônia. A cama, não.

Ele tinha razão, a cama não cheirava a nada.

Quero ir para casa.
Vives com alguém?
Não... Vivo sozinha. Leva-me para casa.
Não devias ficar sozinha. A sério. Não estás bem. Não tens amigos? Alguém?
Não...

Ele inspirou fundo. Se eu fosse a ele já me tinha atirado para o meio da rua.
Não me daria ao trabalho de levar uma bêbada para casa.

Porque é que ele tinha de se preocupar?

Está bem. Come qualquer coisa e eu levo-te para casa.