Dia 17

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Onze e meia da noite
O meu quarto.
Está escuro e lá fora está a começar a chover.
Tenho frio.

Hoje fui ao cemitério. Sei que não costuma ser o lugar para um adolescente comum ir mas é um dos meus lugares favoritos.
Gosto de lá ir

Dá-me paz...

Talvez seja egoísmo, mas pelo menos eu sei que lá ninguém se vai embora.
Prefiro ir quando não lá está ninguém vivo e nos dias cinzentos.
Sento-me nos caminhos que cruzam as campas e fico a observar.
Noutras vezes vou até aquelas casinhas onde as famílias são enterradas.
Noutras vou até à secção de crianças onde as campas são mais pequenas; outras ainda vou até aos heróis de guerra.
Gosto de pensar que todos tiveram uma vida, amores e desamores, dívidas, dúvidas e medos. Que fizeram parte de uma família ou que construíram uma.
Pessoas que nunca se conheceram em vida agora vêm-se sepultadas perto de um perfeito desconhecido.

É engraçado pensar nisso.

E estar em silêncio enquanto continuo a olhar para as flores de plástico e para as velinhas que algumas pessoas poem .

Entes queridos...

É assim que se chamam, certo?
Todos os que lá estão são entes queridos de alguém que esperou pela herança, ou não.

Não estive muito tempo lá , estava relativamente frio e eu ainda tenho vida, acho.

Quando vou até aos cemitérios descubro que tudo na vida é irrelevante.

Estou a ouvir música no meu quarto.
É a minha droga e o meu vicio.
Estou viva graças a isto.

O mundo é um lugar triste

PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora