O GUARDIÃO DE CORAÇÕES

LUAN, O CULPADO

LUAN

- Não se abate meu filho, não perde a fé.
- Já se passaram meses, pai.
- Lembra que da primeira vez, ela passou muito tempo fora.
- Mas ela dava notícias. E agora que a gente é mais que conhecidos, ela deveria dar um sinal de vida.
- Talvez não permitam.
- Tô cansado pai, cansado de ficar alerta 24 horas por dia, de ter que mentir para meus fãs, de ter que aguentar os pesadelos de Nick e ficar sozinho, sem saber notícias dela.
- Sei, não está sendo fácil. Mas a gente está aqui, Maia e Rita tem ajudado com as crianças.
- Mas não é o suficiente, sinto falta dela e medo, medo de nunca mais poder encontrar com ela, beija-la, ama-la, dizer que a amo.
- Filho, sei que é difícil o que vou dizer, mas você tem que levantar a cabeça e pensar em sua carreira, já devia estar gravando um novo cd.
- Como, pai?
- Eu sei que ela não se foi porque quis, acha que ela não está batalhando para voltar? Tem que fazer o mesmo. Batalhar contra essa dor.
- Tem razão.
Tento focar no trabalho, com isso até consigo esquecer tudo por uns minutos. Rita é quem ganha mais espaço a cada dia. Com Bruna morando na Califórnia, ela se tornou a tia querida de Nick.
- Ma-mãe.
- Tá fazendo o que, amor? – pergunto a Nick.
- Ensinando ele a falar mamãe, ela vai gostar de escutar quando voltar.

***
Ninguém tinha notado, Breno já tinha mais que um ano, um vocabulário até variado pra uma criança da idade dele, mas ele não sabia falar mamãe. Quando aprendeu, não teve a quem chamar. Era algo abstrato para ele.

Com o tempo ele achou uma pessoa pra chamar assim, aquela que todos os dias estava com ele e colocava ele pra dormir, Rita.
Eu estava bem abatido. Foi o dia mais doloroso para mim.
1 ano. Hoje faz exatamente um ano que não escuto a voz dela, depois de amanhã fará 1 ano que ela simplesmente sumiu.
- Não tem notícias? – não me canso de perguntar a Rita.
- Infelizmente não.
- Como pode ninguém falar mais nada, nem com você.
A proximidade entre nós era cada dia maior. A mídia e os fãs começaram a achar que Bianca e eu tínhamos nos separados e que Rita era o novo affair, mas no meu coração e na minha vida só existia espaço para uma mulher, Bianca.
- Ainda tem esperança? – ela pergunta cautelosa.
- Por que fala isso? É claro que tenho.
- Não sei. Ela sumiu.
- Mas qualquer dia ela aparece.
Eu não tinha muita convicção, mas não podia perder minha fé.

No primeiro mês que ela sumiu, levei Nick e Breno para aonde eu fosse, não podia desmarcar tudo nem, deixá-los sozinhos. Para me ajudar Maia, Rita e minha mãe me acompanharam. Depois conseguiu passar um tempo de férias, assim as crianças puderam ter sua rotina de volta. Mas como passou muito tempo eu tive que aprender a conciliar. Eu já confiava bastante em Rita, então comecei a deixar as crianças na casa dos meus pais com Maia e Rita. Sem eu perceber Rita tinha criado um laço muito forte com as crianças, principalmente Breno, outra afinidade estava cada vez maior, eu e Rita, apesar de vê-la como amiga, ela era a mulher que eu fazia confidências, ela oferecia o ombro amigo, fazia massagem quando eu estava tenso.
E em uma dessas noites que as crianças já dormiam e nós confidenciávamos nossas carências após assistirem um filme, um clima pintou.
Fico meio sem jeito, ela também demonstrou se incomodar um pouco. Estávamos sentados lado a lado e um simples movimento de mão fez nossas peles se tocarem, isso já tinha acontecido diversas vezes, mas dessa vez saiu faísca.
- É melhor eu ir.
- Tá de madrugada.
Ela olha nos meus olhos e vê talvez o que seja desejo, ela sente o mesmo mas também culpa por ter se apaixonado pelo marido da amiga que estava a acolhendo.
Ela se levantou e eu pego em seu braço.
- Por favor, não vá, se algo acontecer com você não vou me perdoar.
Falo isso, não porque sentia algo por ela, mas sim porque já me sentia culpado por não ter protegido Bianca.
Só que ela entendeu tudo errado, se virou para mim, declinou o corpo e fez menção a me beijar. Esperei por um beijo no rosto por gratidão de estar sendo seu guardião, mas ela beijou minha boca.
Antes de tudo, do amor que sento por Bianca, sou homem, homem esse que não se entregava aos prazeres da carne a mais de um ano. Não resisti.
Quando amanheceu ela ficou com vergonha da situação, eu me senti muito arrependido, não tinha feito amor, foi apenas sexo, mesmo assim uma traição.
Ela foi embora antes mesmo que as crianças acordassem.
- Papai cadê a tia Rita? – Nick me perguntou.
- Teve que resolver umas coisas dela.
- Mas ela volta?
- Acho que sim.
Nick abaixa a cabeça, fica triste por achar que perdeu mais uma pessoa que tinha se tornado importante em sua vida. Breno é que não se conformava, ele ainda era um bebê e era a segunda "mãe" que ele perdia.
O que foi que eu fiz? – penso.
A minha rotina fica toda bagunçada, eu não podia contar mais com a ajuda de Rita. Por ter que ir viajar por muito tempo e não poder levar, principalmente Nick, para não perder as aulas, penso em ir atrás dela.
- Não te esperava aqui.
- Desculpa, aquilo não devia ter acontecido.
Eu estava muito envergonhado, mal conseguia olhar nos olhos dela, então fui direto ao ponto.
- Eu vou viajar e as crianças sentem sua falta. Não pode ir ficar com elas? Pelo menos uma visita de poucas horas por dia.
- Já que não vai estar em casa, se não se importar eu posso dormir lá. Tenho que sair desse apartamento e seria uma boa ter onde ficar pelo menos por uns dias. Ficava com as crianças e procurava com calma um lugar pra morar.
- Tudo bem, fico até mais tranquilo. Qualquer coisa me liga. Eu viajo amanhã, a amanhã à tarde pode ir.
Eu ligava todos os dias para Nick e falava com Maia para saber de Breno. Ela colocava no viva voz, fazia vídeos... tudo como era de costume para Breno não sentir tanta falta de mim. Já com Rita, eu nunca falava.