Janeiro; 2019

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▪ Portland, OR

Era inverno. Era domingo. Ou seja, eu estava mais desanimada que o normal.
E aquela notícia não colaborou em nada com a minha situação.

Eu estava no meu quarto, desenhando e curtindo a minha fossa do fim de domingo, quando a minha mãe entrou sem nem avisar.

-Mãe? O que você tá fazendo aqui à essa hora?

-Millie, meu amor... Eu preciso falar com você.

Ela sentou na minha cama e fez sinal para que eu me juntasse a ela.

-Você tá me assustando.

Saí da minha escrivaninha e migrei para o lado dela.

-Filha, você provavelmente percebeu que de uns tempos pra cá, eu e seu pai andamos tendo alguns desentendimentos.

Ao ouvir a menção ao meu pai e a palavra "desentendimentos" na mesma frase me deu a sensação de que uma bomba estava prestes a explodir bem debaixo do meu nariz.
Senti meus olhos marejarem e minhas mãos começarem a tremer.

-Eu preciso que você entenda que isso é pro bem de todos nós, certo?

Minha cabeça começou a latejar enquanto aquelas lágrimas lutavam para sair.

-Tudo vai ficar bem, filha. No final, vai dar tudo certo.

Interrompi seu discursinho usando as últimas forças que eu tinha naquele momento pra falar.
Mesmo assim, minha voz saiu trêmula e fraca, acompanhada por pequenas gotas salgadas escorrendo por minhas bochechas.

-Vocês... Vão se separar, não é? Pode falar, eu não tenho mais cinco anos.

Ela me encarou e logo depois olhou pra baixo, fingindo estar muito interessada na minha colcha amarela.
Respirou fundo e voltou a olhar pra mim.

-Sim, Millie. Eu sei muito bem que você não é mais uma criança, mas é uma situação complicada até pra alguém da sua idade, então pode contar comigo, tá?

Não consegui responder. Acho que eu cheguei em um ponto no qual nem conseguia mais respirar.

No fundo, eu já sabia. Só estava mentindo pra mim mesma, dizendo que "é só uma crise" ou que "eles vão se resolver".
Eu estava realmente perdendo tudo aos poucos.
Primeiro, meu melhor amigo. Agora, meus pais iam se separar. E pra melhorar, minhas notas estavam caindo.

Eu estava no fundo do poço e parecia que todos ao meu redor estavam o deixando mais fundo ainda.

Após alguns minutos sem obter uma resposta, minha mãe percebeu que eu precisava ficar sozinha e foi embora.
Eu não sabia o que fazer, à quem recorrer ou pra onde ir.
De repente, lembrei dele. Da pessoa que sempre me entendeu e me ajudou nos piores momentos.
Finn.

Millie
Oi. Você tá aí?

Desliguei o celular e me joguei pra trás, caindo no meu travesseiro.
As lágrimas continuavam a cair, e eu ficava cada vez mais impaciente.
De repente, uma notificação surgiu na tela do meu telefone.

Finnie💛
Oi, Mills! Tô sim, você tá bem?

Cansei de dizer que estava bem, quando na verdade eu estava destruída.

Millie
Pra ser bem honesta, nem um pouco.

Finnie💛
O quê houve?

Millie
Meus pais vão se separar, eu tô indo muito mal na escola e a gente nem conversa mais. Eu sinto a sua falta, Finn.

Finnie💛
Mills, eu sinto muito mesmo. Pra começar, fica calma, tá bom?
Tudo isso vai passar e eu vou estar aqui se você precisar, ok?
E eu também sinto muito a sua falta.
Mas você precisa que eu vá pra Portland?

unbroken; fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora