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― Está tudo bem! Você está segura na minha cama.

Foi o que ouvi, assim que abri os olhos e percebi a claridade do dia através da cortina.

― Essas duas frases não combinam. ― Sussurro, louca de dor de cabeça e a garganta seca.

Sento na cama, satisfeita por estar vestida.

Olho ao redor. Minha mente roda, tentando entender o que diabos eu fazia ali.

O quarto de Taylor está diferente, mas ainda é tipicamente masculino, com poucos móveis e um discreto papel de parede.

O silêncio é pesado.

O tipo desconfortável.

E eu não consigo pensar em nada porque ainda estou tentando processar o fato de ter dormido na cama dele.

― Eu não reconheci o seu quarto. ― Fitei-o, me controlando pra não grudar os olhos no volume contra a toalha.

O safado tinha acabado de sair do banho.

― Redecorei a suíte.

― Por quê? Muito cupim? ― Provoco.

― Muita lembrança desnecessária. ― Ele enfatiza a última palavra.

Eu não sei lidar.

― Como eu vim parar aqui? ― Desconverso.

― Você encheu a cara e depois tentou me seduzir.

― Na próxima vida, quem sabe, bonitão.

Queria ter a certeza de que ele está mentindo, mas a verdade é que não me recordo mesmo.

― Não se preocupe. Eu tenho alergia à mulher que não sabe beber.

Evito olhar para ele. Detesto o sorriso  convencido e muitas vezes sarcástico que enfeita o seu rosto. Ao invés disso, observo ao redor, em busca da minha bolsa.

― Merda! Cadê a chave do meu carro? Preciso voltar naquela espelunca para buscá-lo.

― Calma, Any, tomei a liberdade de trazer o seu carro.

Ele pisca o olho com charme, o que me deixa mais irritada.

― Não me chama de Any. A gente não é íntimo um do outro.

― Como, não? Você dormiu na minha cama. ― Ele sorri antes de virar de costas.

― Dormi, não é mesmo? Só dormi. ― Levanto a barra do lençol até o queixo. ― Abusou de mim?

― Como o seu marido fez?

Ignoro a provocação e as palavras apenas saem.

Ex-marido.

É a primeira vez que digo em voz alta.

Taylor para de se movimentar por um momento para em seguida vestir o shorts por baixo da toalha, deixando-a cair no chão.

Ele olha diretamente pra mim e penso que está tendo um derrame, o rosto se congelou numa expressão de surpresa.

Os dedos deslizam pelo cabelo úmido enquanto ele continua.

― Não se preocupe. Cumpri apenas minha obrigação de amigo de longa data.

― Vizinho, quer dizer.

― Esqueceu que eu te ensinei equação do segundo grau? Você tinha vergonha de perguntar pra professora e, nas férias, teve aula particular comigo. Isso não é coisa de vizinho.

Sempre foi você (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora