d o i s

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— Não acredito que você está aqui.

A voz cínica, depois de anos, permanece a mesma.

Pego o copo que havia deixado sobre o balcão e tomo mais um gole. O whisky queima a garganta e é por isso, por causa da queimadura, que eu ouço claramente a rispidez na voz do loiro que me encara desconfiado.

— Decidiu aceitar minha proposta?

Inacreditável!

Ele é simplesmente o homem mais babaca que já conheci.

Um canalha, insensível, que não respeitou nem mesmo a morte dos meus pais e, na primeira oportunidade que teve, me propôs negócio.

― Você precisa consultar um psicólogo pra curar essa obsessão que tem comigo.

Minha voz sai esganiçada e alta demais. Acho que demorei quase um minuto para conseguir pronunciar todas as palavras.

Não tenho certeza.

O álcool faz isso mesmo.

Faz a gente perder completamente a noção.

Taylor gesticula para o barman. Minha visão está embaçada, o que me impede de identificar o que o homem lhe entregou.

Sinto que vou vomitar a qualquer momento.

Ou desmaiar.

Por que fui beber tanto, meu Deus?

― Fique com o meu número. Vamos conversar outra hora como pessoas perfeitamente civilizadas e... sóbrias.

Pego o papel das mãos dele observando a letra firme e redonda.

― Ótimo saber qual é o seu número, assim posso desligar na sua cara.

Não sei de onde tiro forças pra me manter em pé, mas para provocá-lo eu as encontro rapidinho.

― Sugiro que pense duas vezes antes disso.

Ele tem lindos olhos azuis, sérios e, de certo modo, frios

― É mesmo? Que tipo de ameaça fará dessa vez?

― Você está tentando me empurrar o papel de vilão da história, o que é injusto.

― Certamente você não é o herói.

Ele está sentado de forma desleixada na cadeira com um sorriso estampado em seu rosto e a unha do dedo indicador rasgando o rótulo da garrafa de cerveja. Os olhos azuis, no entanto, são rapidamente atraídos pela bunda de uma loira quando ela passa praticamente rebolando.

Taylor sempre foi conhecido por ser um mulherengo irrecuperável.

O corpo atlético alcança 1,85 de altura, e os ombros largos sugerem uma personalidade firme e autoconfiante. Embora, a bem da verdade, ele seja mais do que isso.

O homem malvisto em Dayton é um quebrador de regras que desafia as convenções.

Eu não sei lidar.

— Você não presta, Taylor.

— Não.

— É um canalha.

— Sim.

— Não tem um pingo de consideração por ninguém.

— Por acaso me conheceu ontem?

Noto um esboço de sorriso no rosto claro, a barba por fazer, o cabelo loiro e curto, fios em desalinho.

A expressão muda de repente.

Sempre foi você (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora