c i n c o

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O céu está azul e debochado. Às vezes o tempo fora das pessoas ironiza o tempo dentro das pessoas.

Sentada na rede pendurada na varanda, as pernas espichadas e cruzadas sobre a amurada, tento entender o motivo de sentir vontade de ver Taylor ainda que eu guarde tanta mágoa dele.

Vasculho meus próprios sentimentos, procurando estabelecer um sentido no que parece um tanto contraditório e incoerente.

Desde os dezoito não voltava para casa, ou seja, havia pelo menos quatro anos que não o via.

Quatro anos que ele não fazia parte da minha vida. De certo modo, tinha bloqueado a existência dele da minha mente.

Um tanto confusa e atordoada, este é o terceiro fim de tarde que vou à varanda, à espera da sua chegada, só para vê-lo sair da picape e entrar na casa vizinha. Um curto trajeto feito em poucos passos.

Controlo-me inclusive para não passar no bar que ele vai quase todas as noites, sentar à mesa, pedir qualquer coisa só para vigiá-lo discretamente.

Quase caio da rede ao me levantar num átimo para vê-lo sair da picape, bater a porta e parar, verificando uma mensagem no celular.

Fico com raiva de mim mesma ao sentir o coração acelerar. Talvez seja interessante marcar consulta com um cardiologista, taquicardia é algo sério.

Também acrescentaria outros sintomas como garganta seca, suor nas mãos, ardência no estômago e mamilos eriçados.

Não é possível que eu esteja nesse estado só de bater os olhos em Taylor "mal-humorado" Hanson. Mulher carente é um verdadeiro desastre, trabalha na maior parte das vezes contra si mesma.

É impressionante como depois de tantos anos, os sentimentos antigos, de raiva e ressentimento, ainda se misturam à intensa atração física.

Pela primeira vez, desde que voltei, percebo o quanto Taylor está ainda mais sarado, do tipo esguio e definido, de ombros largos e cintura estreita. Os longos anos como jogador de basquete lhe fizeram um bem danado.

Agora, por exemplo, ele usava uma camiseta branca de algodão sem estampa, decote em V, o jeans gasto, apertado nos lugares certos, deixando à mostra a ponta das botas de couro.

Taylor é tão lindo quanto mentiroso.

E eu preciso parar de pensar nele.

Apesar da tentativa, não consigo dormir. Impaciente, andando de um cômodo para o outro, percebo o quanto é estranho que não me sinta confortável dentro da casa que pertenceu aos meus pais. O lugar que passei os melhores anos da minha vida. No fundo, sei que o arrependimento e a culpa se alternam, provocando uma briga interna que facilmente me leva à nocaute.

Entendo o que tenho que fazer. Ainda que me doa.

Já passa das nove da manhã quando eu finalmente tomo coragem. No bolso do jeans, pego o papel amassado com o número do celular de Taylor. Era melhor telefonar antes de aparecer na casa dele. O ego do homem é tão inflado que é capaz de achar que estou usando a venda do meu terreno como desculpa para vê-lo.

― Oi, bom dia. Eu decidi escutar a proposta que você quer fazer pela casa. Mas já vou logo avisando que vou te arrancar até as calças! Se quiser se livrar de mim, vai pagar caro por isso... ― Mantive um tom frio na voz.

― Como? Vai arrancar as calças de quem?

Hmm... interessante. Ou Taylor mudou de sexo da noite pro dia, ou...

― Esse é o telefone do Taylor, não é?

― Sim, sim. Ele está no banho.

― Quem está falando?

Sempre foi você (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora