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Eu tinha quinze anos quando conheci o amor da minha vida.

Sabe quando o tempo para? Quando você vê alguém pela primeira vez e o tempo para?

O tempo parou quando vi Adam pela primeira vez.

O problema da paixão adolescente é que ela é intensa demais.

Ingênua demais.

E, no meu caso, completamente irresponsável.

Eu desisti de muita coisa por causa dessa paixão. E quando decidi ir embora, prometi nunca mais olhar para trás.

Nunca mais.

Parece até ironia estar aqui, parada em frente à imensa varanda que jurei nunca mais colocar os pés.

A verdade é que eu não tenho outro lugar pra ir, nenhum lar que seja aceita e amada. Não quero me fazer de vítima nem sentir pena de mim mesma, odeio isso. No entanto, é difícil evitar a angústia misturada com a frustração que me corroem as entranhas.

O ar dessa cidade tem um cheirinho todo especial: o da mediocridade.

Nasci e cresci em Dayton e, por mais louco que possa parecer, não consigo enxergar através dos olhos medíocres de quem nasceu aqui e nunca pensou em cair fora, mudar de ares, conhecer gente nova, enfim, dar no pé.

Parece até exalar dos poros dos moradores. Pessoas curiosas, interessadas na vida alheia, que transformam as calçadas com as cadeiras de lona em bancadas do telejornal local.

Mas eu sei que ele jamais me procuraria aqui. Dayton seria, no mínimo, o último lugar que Adam colocaria os pés. Medo talvez, já que metade da cidade quer partir a cara dele no meio.

Então eu decidi arriscar.

E sem um puto no bolso, o único jeito de recomeçar seria voltando para a casa que pertenceu aos meus pais.

Se fosse preciso eu aprenderia a amar esta cidade. Era isso mesmo que eu faria. O meu coração estaria fincado nessas terras e essas terras ocupariam todo o meu coração. Não sobraria espaço para sentir.

Se existir é sentir, sentir algo de verdade, então às vezes me sinto morta. Por dias, morta. E, por meses, morta. Sem velório nem enterro.

Quando foi a última vez que o meu tempo parou?

Talvez no momento que olhei para a bunda branca do meu marido, o amor da minha vida, enquanto ele metia em outra mulher em cima da nossa cama.

Eu achei que passaria a vida inteira ao lado dele.

Mas Adam não pareceu se importar com o que eu achava enquanto me olhava em pânico por ser pego em flagrante.

Quando foi que tudo ficou tão complicado?

Não. Eu não tenho a menor condição psicológica de entrar na casa neste momento. A coragem me falta. Talvez eu precise mesmo de um empurrãozinho.

Coragem líquida.

É exatamente isso que me vem à mente quando estaciono o carro em frente ao único bar decente da cidade.

Eu não estou acostumada a beber, tampouco a encher a cara. Na maior parte das vezes, me contento com uma coca gelada ou água mineral. Mas estar de volta nesta cidade me faz querer nadar numa piscina de whisky. Quem sabe eu não morro afogada de uma vez?

O lugar está lotado, e tenho que me acomodar numa banqueta junto ao bar.

Peço a bebida ao barman, e apesar de achar amarga, viro tudo de uma vez. Faço um sinal com a mão, separando os dedos num V de vitória, mas é para ele me trazer mais duas doses.

E esse é só o começo.

Quando me dou conta, mal consigo abrir os olhos de tão bebaça.

Dou uma olhada no relógio de pulso, mas meu braço parece flutuar, tenho que o segurar com a outra mão e firmá-lo para enxergar direito.

Passou da hora e eu, com toda certeza, passei do ponto.

Assim que tento me colocar de pé, perco o equilíbrio e por pouco não dou de cara no chão.

Por pouco.

Completamente alcoolizada, não sou capaz de evitar o choque contra o sujeito que está em pé diante do balcão do bar. Agarro nas costas dele, esmagando os seios contra seu corpo.

Eu me afasto ligeiramente quando ele inclina a cabeça e, apoiando-se na banqueta alta, me olha diretamente nos olhos.

Foi como se a luz do sol iluminasse o bar. Mas não era bem o sol, não podia ser àquela hora da noite, e sim o loiro do cabelo curto dele, os pontos da barba por fazer nos maxilares duros, o queixo quadrado, no ponto para eu morder. A pele clara em contraste com a gola da camisa preta.

Ele estreita os olhos, antes de dizer:

― Antonella.

Aquela voz!

Aquela maldita voz!

Estou tão bêbada que não o reconheci de imediato.

Antes de voltar, já sabia que o encontraria: o vizinho idiota. O cínico e debochado vizinho. O idiota mais idiota do planeta.

Oh, Deus, como odeio Taylor Hanson!

Oh, Deus, como odeio Taylor Hanson!

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Sempre foi você (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora