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Taylor

Encostado na mesa do escritório, depois de mandá-la embora, meu coração doí, pesa toneladas. A cena foi um gatilho, a mesma que se sucedeu anos atrás, quando Antonella foi embora e eu não fiz absolutamente nada para impedi-la.

Mas era isso que eu queria, não era? Matar a fome, a vontade de tê-la, provar a mim mesmo que o amor dentro de mim não passava de um sentimento idealizado, o tipo que morre afogado na concretização da vontade.

A verdade é que eu não queria me arrastar novamente no deserto sedento por Antonella, perdendo pedaços de pele sob o sol escaldante da ausência dela, ainda que ela estivesse tão próxima, tão dentro, tão entranhada que chegava a doer tê-la nas veias e não poder ouvi-la, vê-la e amá-la, me contendo, me arrebentando para tentar manter a dignidade. 

O que eu não contava era com a revolução dos meus sentimentos tão firmemente atados em nós, todo tipo de amarração para não perdê-los de vista e, com isso, também me perder.

Por fim, o que mais me dói é aceitar que eu não passo de um sofredor, de um flagelado, de um homem que ama enlouquecidamente a mesma mulher há anos e que deseja com todas as forças ser feliz ao lado dela.

Torço o canto da boca num esgar de amargura ao considerar a última ideia, só mesmo um idiota para pensar em construir algo para uma mulher que quer juntar dinheiro e partir. No fundo, por mais que eu tivesse proposto aquele "arranjo sexual" entre nós, me sinto usado. Durante anos amei Antonella para, agora, ser largado por ela mais uma vez.

Eu já não aguento mais me sentir como me sinto, uma espécie de angústia, uma ferroada longa e persistente no peito me apertando, dificultando a respiração. Nunca havia perdido alguém para a morte como ela perdeu. Havia sim perdido alguém para a vida, para as circunstâncias da vida, perdi Antonella e o sofrimento foi avassalador.

Pra que, então, passar por isso de novo? 

Ainda confuso, vou atrás dela. Meu coração bate muito rápido enquanto milhões de pensamentos passam pela minha cabeça. Eu não posso perdê-la. Não quero perdê-la. Ela é a parte de mim que não quero abrir mão. Eu quero tudo. Lutar e enfrentar os meus próprios dragões, os adormecidos e os que não me deixam dormir em paz, viver em paz, inclusive.

No momento em que vejo Adam ali, sinto que um leão ruge ferozmente, mas é apenas o meu coração se preparando para guerra. A imagem dos dois juntos queima dentro da minha cabeça de homem loucamente apaixonado. Queima. Arde. Doí. Eu ainda sofro e está na hora de me libertar.

E foi exatamente o que fiz. 

Estive entorpecido por tanto tempo, quase morto por dentro, me importando apenas com o trabalho, tendo casos sem importância com mulheres aleatórias. Eu respeito cada mulher com quem me deitei, mas o nome que eu chamava não era o delas.

Só o que quero agora é ir embora pra casa com a minha mulher e liberar o sentimento que tenho guardado há tantos anos. O problema é que Thamy insiste para que eu fique mais um pouco na festa surpresa que ela e Zac prepararam. E eu não sei falar não pra minha irmã.

Parado ao lado de Zac, observo Any dançando e se divertindo com Thamires. Minha mente viaja para o passado, mas já não é tristeza que sinto, é alívio, uma onda de alívio ao perceber que Antonella é o meu presente. Minha segunda chance.

― Homem apaixonado é um bicho besta, mesmo. A menina vai desaparecer se você continuar a secá-la com os olhos desse jeito. ― A risada de Zac explode no ar, mais alta que a música.

― A gente tá namorando. ― Admito com um sorriso idiota no rosto.

― Eu sabia que vocês acabariam juntos um dia, Tay.

Sempre foi você (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora