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Lucas

– Seu moleque! – a voz raivosa de Fábio Antunes ecoou pela sala, sobrepondo-se aos protestos de seus advogados.

O juiz Almeida bateu com força o martelo, tentando conter o tumulto. Ignorei a cena e me concentrei nos documentos espalhados sobre a mesa. Havia passado noites em claro analisando cada detalhe, construindo um caso sólido contra o ex-governador.

Aquele homem, que um dia havia sido reverenciado, agora se revelava um corrupto sem escrúpulos.

Lembro-me de quando, ainda no início da minha carreira, tive acesso aos primeiros indícios da corrupção de Fábio Antunes. Na época, a falta de experiência me impediu de agir.

Mas agora, com a autoridade do meu cargo, eu estava determinado a fazer justiça. Fábio Antunes, percebendo minha calma, avança em minha direção.

Théo, meu chefe de segurança, intervém, mas o ex-governador era forte e o empurra com violência.

A sala explode em caos.

– Isso porque apenas começamos! – falo para somente ele escutar, seus olhos faíscam de ódio em minha direção.

Um sorriso irônico surge em meus lábios, aquele era apenas o primeiro round. Eu estava só preparando o terreno para guerra que ele nem sabia que já estava perdida claro que por ele.

....

Olho pela janela a paisagem do centro de Boa Viagem, onde o barulho das buzinas e a pressa dos motoristas no trânsito caótico me fazem lembrar de tudo o que me espera. Dirigindo o carro, Manoel, meu motorista e confidente de tantos anos, observa a cidade com a mesma tranquilidade de sempre, aguarda o sinal abrir.

Olho novamente a paisagem, o barulho das buzinas e a pressa dos motoristas no trânsito caótico me fazem lembrar de tudo o que me espera estamos a caminho daquela mansão, onde a pessoa que me causa tantas dores de cabeça reside.

Fecho os olhos, tentando aliviar a tensão que cresce a cada quilômetro.

Théo no banco do passageiro ao lado de Manoel me olha preocupado.

– Você está bem, Lucas? – Ele, um homem imponente, de quase dois metros, é meu amigo e chefe da minha segurança há anos. Nos conhecemos após um atentado sofrido durante um caso em que defendia a esposa do renomado neurocirurgião no estado.

O médico espancava a esposa, que, por medo de ameaças físicas e psicológicas, não o denunciava. Após 12 anos de sofrimento, a violência escalou durante uma festa, culminando em agressões físicas dentro e fora do carro. O filho do casal, ao defender a mãe, foi agredido pelo pai. Desesperada, a mulher reagiu, matando o marido com uma faca de cozinha.

O caso teve grande repercussão, pois julgaram ela sem conhecer sua versão da história, apesar das evidências de agressão em ambos.

Os policiais a condenaram, presumindo que, por ser 15 anos mais nova, ela teria interesse na herança do marido. No decorrer do julgamento, a verdade veio à tona, revelando a verdadeira face do médico, um homem violento e manipulador.

Após ganharmos o julgamento, fomos atacados pelo irmão do médico. Théo me salvou nesse dia junto ao seu irmão Adam, desarmando o agressor.

Decidi, então, que precisava de proteção e, por coincidência, a empresa de segurança indicada para minha mãe era a de Théo e seu irmão.

Nossa amizade se fortaleceu desde então.

Balanço a cabeça em resposta, nós dois sabemos que não estou bem. Sinto-me obrigado a enfrentar essa situação, tudo por aquela única pessoa que me importa no mundo inteiro.

Sempre compareço ao jantar na mansão onde nasci, praticamente obrigado a conviver com a única pessoa que me importa, mesmo que isso me cause sofrimento e faz suportar algumas horas de tortura ao lado do meu progenitor.

– Sinceramente, Théo, já podemos ir para minha casa?

– Infelizmente não. Precisamos conversar urgentemente de novo sobre os vazamentos de hoje. – Dou um sorriso sem humor. Já sei de quem ele desconfia. Essa informação só pode ter vindo da pessoa que ele suspeita desde o começo, e ele está certo. Mas agora não é o momento de falarmos sobre isso.

Meu celular toca, interrompendo nossa conversa.

É minha mãe. Explico a ela que estou a caminho e que chegarei em breve. Ela me fala que mandou preparar meu prato favorito. Desligo o telefone, com um nó na garganta. Antigamente, eu era muito mais próximo dela, mas como o tempo tudo mudou.

Volto a olhar para o trânsito.

Théo pergunta se minha mãe está bem.

Confirmo, mas admito que ambos estamos preocupados com essa situação. Ele sugere que precisamos reforçar nossa segurança, já que o caso está ficando cada vez mais perigoso. Concordo com ele, mas confesso que a ideia de me isolar não me agrada.

Finalmente chegamos à mansão.

Ao entrar, sinto um peso no peito.

Essa casa guarda muitas lembranças, algumas boas, outras nem tanto. Quando Manoel estaciona corre para ver sua esposa que está há anos trabalhando com minha mãe como cozinheira.

Enrolo para sair do carro mais sinto em meu íntimo ao perceber que estou sozinho o peso do mundo nas minhas costas, se pudesse escolher não estaria aqui.


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Meu Recomeço - 2° EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora