Meu Recomeço - 2° Edição

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Lucas

A mansão dos meus pais fica no bairro nobre da cidade, construída no final do século XIX por meu tataravô. Depois que meus avós maternos morreram, minha mãe herdou a casa, local onde passei a maior parte da minha infância e começo da adolescência. Com um passado que prefiro não recordar, saio do carro.

Depois que Theo e eu entramos pela porta, minha mãe, me recebe com um abraço apertado.

— Que saudade, meu filho! — Minha mãe é uma linda mulher, com 53 anos, ruiva e com os mesmos olhos azuis que os meus. Podemos nos comunicar apenas através deles.

— Almoçamos domingo, mainha.

— Eu sei, meu filho, mas não é a mesma coisa. Hoje já é quinta. Boa noite, Theo, tudo bem? Você vai jantar conosco?

— Não, obrigada, senhora Rodrigues. Vou ver se Verônica tem um daqueles bolos de milho que só ela sabe fazer. Se permitir, claro, senão Manoel come tudo sem mim, já que ele já correu para ver sua esposa.

— Fique à vontade. Se mudar de ideia, sabe onde nos encontrar. — Ele segue para a cozinha, e minha mãe entrelaça seus braços nos meus.

A mesa já estava posta para três. Fico aliviado por meu pai não estar e mais uma vez vejo que ele se atrasou para mais uma reunião.

— Seu pai já chega, meu filho!

— Sabe que, por mim... — Minha mãe olha para mim, vendo a tristeza que tento esconder. Nessa sociedade, ou você vence ou é vencido. A aparência vale mais que o caráter.

— Você pode achar que é escolha minha tudo que vivo, mas, meu filho, há situações que estão além de nossas vontades. — Coloco suas mãos nas minhas e beijo-as.

— Mas a senhora sabe que, quando decidi, sempre estarei ao seu lado, não importa como, quando ou onde. — Ela me devolve um sorriso triste.

— Boa noite! — Meu pai entra, senta-se à mesa. O silêncio reina, mesmo depois das conversas animadas de antes dele chegar mais uma vez atrasado.

Meu pai é um homem alto, com cabelos cor de cobre e olhos negros, ao contrário dos meus azuis, iguais aos da minha mãe. Além da herança dos seus belos olhos, também tenho orgulho de dizer que tenho seu caráter.

Tenho um passado conturbado que me tornou o homem que sou hoje. Enquanto sou parecido com minha mãe, não puxei nada do meu pai, a não ser a personalidade que todos dizem ser igual à dele.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, minha mãe tenta manter um diálogo, mas prefiro fingir que não está acontecendo. Theo às vezes vem jantar conosco, mas hoje preferiu fugir para evitar mais embates.

— Então já decidiu parar de brincar, meu filho? — Quando chega a sobremesa ele me dirige a palavra, aperto os talheres com força. Não adianta, ele sempre consegue tirar o pior de mim.

— Eu, por acaso, brinco? — Ironizo, jogando os talheres na mesa. — Fazemos o seguinte: daqui a três semanas vou prender seu amigo, que me diz dessa brincadeira?

Não queria isso, por isso evito vir aqui. Essas brigas com meu pai me cansam. Estou cansado dele e desse ambiente.

— Você é insolente mesmo, tenho certeza de que meu amigo vai provar sua inocência. — Não aguento a mentira que sai dele. Solto uma longa e sarcástica gargalhada.

Depois de um tempo, me recupero e me levanto da mesa. Minha mãe me acompanha. Sinto vontade de levá-la daqui, mas sei que essa é uma história que ela precisa enfrentar sozinha. Quando isso acontecer, estarei ao lado dela.

— Pai, o senhor e o Brasil inteiro sabem que esse homem não é inocente. Não adianta gastar meu latim com o senhor, porque todos sabemos a verdade.

— Eu que vou esperar você se desculpar por estar manchando a imagem de um homem de caráter como o Fábio.

— Caráter? O senhor nem sabe o que significa essa palavra. O grande empresário Benedito Rodrigues precisa procurar no dicionário para saber o que está falando. — Deixo meu pai falando atrás de mim.

— Lucas volte aqui, você vai se arrepender! — ele grita, mas suas palavras já não me atingem como antigamente.

Quando ouço falar que a culpa é da minha mãe, sinto uma vontade louca de voltar e mostrar quem é o único culpado.

Mais Théo aparece bem na hora para me levar dali, antes que cometa algo que quero há muito tempo fazer.