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Lucas

— Atrapalho? — Estefânia nos interrompe justo no momento. Ao olhar para os olhos fechados de Hannah, vejo lentamente ela os abrir, fazendo-os tremer um pouco antes de finalmente os abrir mais firmemente. Vejo como são grandes, pretos, de uma cor que grita vida e me pede algo.

Minha vontade no momento para decifrar seus pensamentos nesse momento.

Será que ela sabe o que me pede?

Tem consciência de tudo que me implora apenas com um olhar? E quando crio coragem para tocar em seu rosto, o som alto dos saltos de Estefânia me faz desviar nossos olhos, o que me força a perder o contato, colocando a minha máscara de indiferença.

Ao olhar para ela, vejo que ela faz questão de mostrar o seu desagrado da minha proximidade com minha nova assistente.

— Sim, atrapalha. Por quê? — Não me mexo do lugar e nem permito que Hannah saia do meu lado quando move o corpo para se afastar.

Quando Estefânia chegou mais cedo, escutei tudo o que ela falou. Não gostei nada da sua atitude porque nunca fomos namorados. Nossa única relação, se é assim que podemos chamar, sempre foi uma troca de prazer quando era conveniente para ambos.

Ela já estava se intitulando para uma vaga que não é dela. Quando veio me beijar, desvio o rosto novamente, percebo que ela não gosta da minha atitude.

Desperto a sua curiosidade, o que não me agrada em nada.

No começo da manhã, já tinha certeza do que tínhamos não ia para frente. Preciso deixar mais uma vez claro, mais do ainda do que antes.

— Pensei em vir te chamar para sairmos para almoçar, como sempre fazemos — ela se aproxima de nós, olha de mim para a minha mão que está segurando Hannah, demonstrando em seu rosto o quanto isso a enfurece.

Devagar, olho às horas no relógio em meu pulso. Vejo que já são onze e quarenta e quatro e é nesse momento que Hannah consegue se desvencilhar de mim, sentando-se na cadeira à sua frente.

Olho para ela e decido que é melhor eu resolver logo a situação com Estefânia.

— Vamos, Estefânia. — Indico o caminho da saída. Ela me acompanha, colocando as mãos em meus braços. Eu recuso gentilmente mais uma vez, deixando-a frustrada com minha atitude. Seguimos para o elevador.

Passo pelos seguranças e vejo que dois estão nos seguindo.

Ao fechar as portas do elevador, os meus olhos ficam perdidos na linda mulher que, em poucas horas, despertou mais do que muitas que já passaram pela minha vida.

Nossos olhares se cruzam mais uma vez antes da porta se fechar.

...

Chegamos a um restaurante no centro da cidade, um lugar de alto padrão, uma escolha óbvia da minha acompanhante. Eu prefiro lugares simples, com comida caseira, mas como a escolha não foi minha, o jeito é tentar aproveitar o almoço.

Um maître nos cumprimenta assim que entramos. Por conhecer o restaurante por ter vindo com minha mãe algumas vezes, já sou um velho conhecido.

Por isso, somos levados a uma mesa sempre reservada para dona Laura.

Fazemos nossos pedidos ao garçom, depois de não trocarmos nenhuma palavra desde que saímos para almoçar.

Começo a analisar a mulher à minha frente.

Não posso negar que ela é uma linda mulher. Além de sua beleza, sua inteligência também se destaca. Nos damos bem na cama, mas depois de ontem, com as informações sigilosas do processo do ex-governador sendo vazadas, a única suspeita é ela.

Sempre fui alertado por Théo para não me envolver com ela.

Até hoje não entendo os motivos, mas meu sexto sentido diz que ele está certo. E a única solução, depois do que a ouvi falar para as garotas mais cedo, é essa.

— Então, Lucas, como está com sua nova assistente? — ela pergunta, como se estivesse fazendo uma pergunta comum.

Mas, depois do que ouvi mais cedo, vejo que a partir da minha resposta ela vai definir seus próximos passos. Estou jogando com uma jogadora de xadrez, mas o que ela não sabe é que aprendi com o melhor: a única lição boa que meu pai me deu.

— Não posso dizer se bem ou não, Estefânia. Ela começou a trabalhar há exatamente umas horas atrás, eu acho. Mas vamos ver como será daqui para frente. Mas isso só diz respeito a mim. Precisamos falar de nós — um lampejo de felicidade surge em seu rosto. Ela arruma a postura, pega em minhas mãos, mas as soltas imediatamente. A felicidade de poucos instantes atrás se vai como fumaça.

— E posso saber o que é? — ela me analisa enquanto pega seu copo de água, começando a tomar goles com uma calma assustadora. Sinceramente, esperava outra atitude, por já a conhecer, e vejo que ela está mais um passo à minha frente. Isso não pode acontecer.

— No começo, eu deixei clara a minha posição sobre namoro com você. Se recorda do que conversamos? Não quero compromisso. — Ela coloca o copo sobre a mesa e depois os seus braços sobre ela.

— Pensei que, por estarmos mais tempo juntos do que com seus outros casos, você tinha mudado de ideia. Ou estou errada? Você está só comigo?

— Não sei se você sabe ou não, mas nesse tempo juntos, não fiquei só com você. Sempre tentei ser o mais sincero possível. Posso ser muitas coisas, mas sempre deixei claro em meus casos o que esperar e o que não é compromisso. — Você esqueceu? — falo, olhando em seus olhos, não deixando dúvidas da sua parte.

O garçom traz nossos pratos, almoçamos em completo silêncio, analisando sempre um ao outro como adversários declarados.

Na volta para o trabalho, fico perdido em meus pensamentos e ela no dela. Ao entrarmos no prédio, ela se vira para mim e fala com ódio nos olhos.

— Isso não vai ficar assim. Pode esperar, Promotor Rodrigues. — Ela entra no prédio sem olhar para trás.

Não gosto da sua ameaça. Decido alertar Théo, mandando uma mensagem pedindo para ir à minha sala para conversarmos.

Ao entrar no elevador, enquanto ele sobe, desato o nó da gravata. Se pudesse, trabalharia sem esse maldito acessório que só aperta meu pescoço.

Ao chegar ao meu andar, vejo a mesa vazia. Estranho Hannah não estar trabalhando e não ter me avisado. Mas ao olhar as horas, presumo que saiu para almoçar.

— Lucas, resolveu?

— Sim, continue a investigação. Depois de hoje, não confio mais nela, como você disse. Mulher com ciúmes não presta. Ela ficou louca com a nova assistente. — Ele solta uma gargalhada alta, como se falasse eu te avisei.

— Não vou falar a famosa frase, mas se prepare: vem chumbo grosso por aí. E pode ter certeza, quando eu conseguir comprovar tudo o que suspeito, vai ter merda e das grandes.

— O pior é que nada mais me surpreende.

— Não tenha tanta certeza, Lucas. É só o começo.


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Meu Recomeço - 2° EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora