9. Inefável

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❀ Capítulo 9 | O Silêncio das Flores


Chegara o momento em que Zoey teria que juntar forças para ajudar-se. Alguém poderia mostrar-lhe o melhor caminho, mas ninguém tinha o poder de tirá-la daquela situação. Após finalmente voltar para casa, exausta e triste, ela pensou. Ignorando suas inseguranças e o medo, perguntou ao próprio coração o que ele desejava e o que era melhor para ela. Foi assim que ela por fim percebeu que queria ajuda; mas a ajuda certa. E ela sabia o tempo todo onde teria essa ajuda. Era Zoey, porém, que teria que tomar aquela atitude. Naquela mesma tarde, ela mandou uma mensagem para Lana perguntando se Liam precisava de alguns cadernos para anotar as matérias perdidas. Seria uma boa desculpa para que os pais a levassem na casa do colega – algo que ela evitava ao máximo.

Eles ficaram surpresos, mas concordaram em levar Zoey na segunda-feira de manhã, que seria feriado na cidade. A garota separou os cadernos antes de se deitar. Custou a pegar no sono, pensando no que poderia acontecer no dia seguinte. Não havia mais como voltar atrás, entretanto. E Zoey não queria. A possibilidade de ver Liam depois de mais de uma semana sem vê-lo a deixava estranhamente eufórica, com uma coragem que nunca havia sentido antes. Ao mesmo tempo, estava ansiosa – e ela não sabia dizer se era bom ou ruim.

Quando amanheceu, Zoey praticamente engoliu o café da manhã e trocou de roupa. Uma leve garoa descia pelo céu cinzento, e um vento gelado cortava seu rosto e a jaqueta jeans que usava. O pai de Zoey colocou o endereço no GPS do carro e eles partiram.

Liam morava em um condomínio. As casas eram grandes e rústicas, com enormes jardins cobertos de árvores e rodeadas de áreas verdes. Logo na entrada, Zoey viu um pequeno riacho e um lago à distância. As ruas eram estreitas e feitas de pedra, e o único som que se ouvia era o cantar dos pássaros e o vento balançando o topo das árvores.

O carro parou frente a um portão de madeira e o pai conferiu o endereço.

- É aqui. – ele disse.

Zoey pegou os cadernos e saiu do veículo desajeitadamente, procurando uma campainha. Mas, antes que pudesse se aproximar para tocá-la, o portão se abriu. Liam estava lá, com a cabeça e parte do corpo do lado de fora, enquanto um cachorro cor de caramelo enfiava a cabeça por entre suas pernas. Não teve tempo de Zoey ficar sem graça com a presença do garoto – ela assustou-se com seu estado. Os cabelos estavam bagunçados e ele vestia uma calça de moletom e uma blusa de frio branca e larga, o que o fez parecer ainda mais magro. Seu rosto estava inchado e suas bolsas de olheiras cobriam a parte baixa de seus olhos. O olhar estava cabisbaixo, mas ele deu um sorrisinho conforme puxava o cachorro para trás.

- Oi – ele disse, abrindo mais o portão. Ele se voltou para o pai de Zoey. – Olá, senhor...

- Jonas – o pai de Zoey acenou com uma das mãos.

- Senhor Jonas, a Zoey pode ficar até o almoço? – ele olhou para a colega. – Bem, se ela quiser...

Zoey assentiu, concordando. O convite a surpreendeu, pois nunca havia almoçado na casa de um colega de escola antes.

- Tudo bem. Me liga quando acabar, Zoey. – disse o pai. A moça assentiu e entrou na casa de Liam. Ele ainda segurava o cachorro caramelo, provavelmente um vira-lata, que insistia em querer cheirá-la.

- Laila! Fique quieta – o garoto ralhou, limpando a manga da blusa branca. – Não liga para ela, Zoey. Ela é uma peste.

Zoey riu, passando a mão na cabeça da cadela e permitindo que a cheirasse. Enquanto andavam até a casa de madeira de dois andares, Zoey observou o jardim a sua volta. Nunca vira nada tão bonito antes. Havia árvores de todos os tipos, flores, pequenas hortas e uma fonte, onde pássaros da rua tomavam banho. Laila corria pela grama assustando pombos cinzentos, desengonçada. Grilos cantavam em árvores e pássaros amarelos caçavam pequenos animais.

O Silêncio das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora