10. Lágrimas de cura

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Capítulo 10 | O Silêncio das Flores


Lana não teve nenhuma reação quando Zoey, sem perceber, respondeu a pergunta verbalmente. Seu maior medo diante da possibilidade de falar com alguém que sabia de suas condições era da reação de surpresa exagerada. Com Lana, foi como se aquilo não tivesse tanta importância. Fora a primeira vez, desde os três anos, que falara com alguém fora de seu círculo familiar – mesmo que tivesse sido apenas um sim quase inaudível. Zoey se surpreendeu consigo mesma. Não ficou envergonhada – foi tão natural quanto respirar. Pelo menos com Lana, que em pouco tempo havia passado tanta segurança.

Ela contou-lhe o que a própria Zoey podia fazer para que, aos poucos, conseguisse se superar. Apesar de tudo, ela não excluiu a possibilidade de arranjar-lhe um psicólogo que entendia do assunto. Zoey concordou, anotando mentalmente os próximos passos que poderia dar: sair sozinha e ir ao mercado. Comprar algo e agradecer a pessoa que lhe atender no caixa. Apenas um Obrigada. Depois, aos poucos, algo mais elaborado; como pedir alguma informação a um desconhecido. Lana explicou que ela se sentiria mais confortável fazendo isso sozinha, sem interferência dos pais ou qualquer outra pessoa - aquilo só provocaria mais ansiedade, havendo mais chances de fracasso no exercício.

- No começo será muito difícil – Lana explicou. – Quase impossível. Mas lembre-se: é uma pessoa desconhecida, não sabe nada sobre você. Não a jugará, não ficará surpresa. Você será para ela como uma pessoa qualquer.

Lana também recomendou que gravasse áudios para si mesma e, quando se sentisse segura, poderia mandar para alguém – para a própria Lana, para Liam, para quem Zoey quisesse. A moça nunca havia parado para pensar o quanto odiava a sua voz. Achava-a feia, tinha medo que as pessoas rissem dela. E Lana parecia entender bem isso, e garantiu que o exercício do áudio iria ajudá-la.

Após as orientações, elas saíram do escritório e sentaram-se à mesa retangular na sala, onde quatro pratos estavam dispostos sobre jogos americanos vermelhos. Liam organizava os talheres e Marcela trazia a lasanha. O estômago de Zoey roncou, e ela percebeu que estava faminta.

Geralmente, era um pouco desconfortável comer na frente de outras pessoas – era pior na infância – mas, por algum motivo que ela ainda não sabia explicar, sentiu-se muito bem com aquela família. Os três começaram a contar sobre uma viagem que fizera meses atrás, na qual passaram por situações um tanto engraçadas. Liam ria baixinho enquanto Marcela relatava o que havia acontecido:

- Lana quase correu atrás do caminhão para bater no homem – ela contou após um gole de suco. – É engraçado agora, mas fiquei preocupada.

- Ele ficou com medo de mim, isso sim – Lana murmurou. – Espero que ele tenha aprendido a não mexer com mulher dos outros.

Zoey riu baixinho, descontraída, e percebeu o olhar de Liam sobre ela em alguns instantes. Fisicamente ele ainda parecia abatido, mas havia um brilho a mais nele. Talvez estivesse realmente melhor.

Ela mal havia visto a hora passar após o almoço, por isso, assustou-se quando o pai chegou para buscá-la. Ela se despediu de todos com um aceno e voltou para casa. Durante o percurso, o pai nada perguntou. Zoey estava pensativa e, ao mesmo tempo, um pouco atordoada. Lembrava-se a todo o momento da conversa com Lana. Para muitos, aquilo poderia ser apenas uma simples história de superação, mas para Zoey fora como se tudo ficasse claro de repente. Era como se a moça estivesse vivido a vida inteira debaixo de uma tempestade, onde os dias eram escuros e nebulosos. Escutar Lana foi como se finalmente o sol raiasse e tudo fizesse sentido. Pela primeira vez em sua vida, tudo se encaixava.

O Silêncio das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora