CAPÍTULO 06

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— Nem louca! — Profiro num tom alto, afastando a caixinha para longe de mim.

— Mas Ni...

Meu celular começa a tocar, estorvindo a voz de Kaique. Procuro o meu celular pela cama. Levanto um de meus travesseiros de pena e sorrio ao perceber que o celular estava lá. Vejo pela tela que era Amatheu, meus dentes começam a atroar e eu não conseguia disfarçar o nervosismo. Isso fez com que Kaique percebesse de cara.

— Que houve baby? — Indaga pegando o celular de minhas mãos. Ele começa a analisar o número, mas parece não reconhecer de nenhum lugar. — Não vai atender? Pergunta me entregando de volta.

— Preciso de privacidade.

— Você não precisa de privacidade. O que foi? Está com medo? — Me fita com os olhos, colocando uma de suas mãos em minha cama.

— Medo? Eu não tenho nada para te esconder. Aliás, não temos nada! — Profiro atendendo a chamada. — Alô? Como vai? Não, ontem não aconteceu nada... Você acabou dormindo, depois que me deu o dinheiro... — Olho para Kaique e vejo que o próprio estava com expressão de ódio. — Se podemos nos ver novamente? Podemos ten... — Meu celular é tirado de minhas mãos bruscamente por Kaique.

— Olha aqui seu babaca! deixa ela em paz... Eu não quero saber... Quem eu sou? Eu sou o cara que vai acabar com sua vida se não deixá-la em paz... Não, era só isso que eu tinha para dizer... tenha um bom dia. — Kaique desliga a chamada e me entrega o celular.

— Você tem problema! Como você foi capaz de fazer isso? — Profiro batendo em seus peitos.

— Não quero que ninguém se envolva contigo com más intenções. — Coloca a caixinha sobre minha coxa.

Antes que eu pudesse começar a xingá-lo, a maçaneta da porta do meu quarto começa a ser girada. Pego a caixinha e escondo debaixo do meu travesseiro. Me ajeito na cama.

— Desculpa a demora minha filha. É que sua mãe quis pedir uma pizza. Quem come pizza pela manhã? — Começo a rir sem graça. Minutos depois mamãe entra com a pizza em suas mãos. Degustamos do bolo e da pizza, enquanto conversávamos e sorriamos.

***

14:09. Kaique teve que ir embora, disse que ia para uma espécie de culto dos jovens. Ficara me convidando a todo instante para que eu fosse consigo, mas eu não estava disposta naquele momento, muito menos para ele. Levanto-me da cama e vou até a gaveta do meu guarda-roupa, abro e pego a fotografia que havia o meu pai, Juano. Opto por guardar a fotografia no bolso de meu short. Desço para a cozinha e ponho uma xícara de café. Encaro o vapor do café sair da xícara, pensando se esse seria o momento exato de falar sobre o meu pai, com mamãe. Pego a xícara de café e me adentro na sala. Vejo que mamãe estava sentada na poltrona de cor marrom, lendo um jornal da sua época. Ela amava ler coisas antigas, disse que gosta de relembrar o passado. Vou de encontro à ela.

— Oi, mamãe! — Digo sentando no sofá que ficava de á sua poltrona. — Onde está a minha tia?

— Ela disse que ia no supermercado. — Sorri ajeitando os óculos em seus olhos, com olheiras aos arredores.

— Entendo. Vejo que a senhora melhorou bastante.

— Sim, foi só um susto. — Ela sorri e volta a ler o jornal.

— Ainda bem. — Sorrio tomando um gole de meu Café. — Juano, nome incrível! — Digo idolatrando o nome do meu pai. Tomo mais um gole do meu café ao vê-la abaixando o jornal. Seu olhar assustado vem de encontro ao meu, era perceptível ver que ela já sabia do que se tratava.

— O que significa isso? — Minha mãe indaga com fingimento.

— Chega mamãe! Eu já sei que o nome dele é Juano! — Falo colocando a minha xícara sobre a mesinha que ficava entre o sofá e a poltrona.

— Você mexeu nas minhas coisas? — Pergunta com expressão de raiva em seu rosto.

— Tinha uma caixa em cima da cama. Quando eu fui ajudar a senhora, comecei a olhar para todos os cantos para ver se eles haviam roubado algo mais. Porém meus olhos caíram sobre essa caixa. Eu decidi bisbilhotar. — Pego a fotografia em meu bolso enquanto meus olhos começavam a lacrimejar. Entrego-lhe a foto para que ela pudesse ver. Expressão de medo forma sobre o seu rosto pálido.

— Esse é seu... tio. — Responde balbuciando.

— Já chega com mentiras, Tácia! — Grito levantando-me do sofá com impulso. — Eu sei que esse é o meu pai. Eu li uma carta em que ele se despedia de você.

— Você não tinha o direito de... — Grita chorando, também se lavrando num impulso, mas eu a intercepto.

— E a senhora tinha o direito de mentir para mim durante todos esses anos? Mamãe, foram vinte e dois aniversários sem ele. Eu não me sinto completa, eu precisava dele ao meu lado, preciso. — Respiro fundo e pego em suas mãos que soavam frio. — Mamãe, eu preciso saber a verdade, já chega de mentira. — Ela solta de minhas mãos e começa a andar em direção a janela que ficava por detrás de mim.

— A única verdade é que eles nos abandonou. Tem como você aceitar essa verdade? — Junta suas duas mãos e as colocam sobre a borda da janela.

— Se essa é a verdade, porque na carta ele tinha dito que você devia mudar o seu jeito por mim? E a senhora sabe onde ele está. Isso também estava escrito na carta. — Respondo aproximando-me de si.

— Já chega Nicolly, não quero mais falar sobre isso. Eu me machuco com esse passado! — Profere em lágrimas, colocando suas mãos na cabeça com força e afastando-se novamente de mim.

— E eu me machuco com esse presente. — Digo cabisbaixa.

A porta de nossa casa é destrancada. Minha tia entra e para na sala. — Aconteceu algo? — Não respondo nada, apenas me ausento da sala, indo para o meu quarto. — Qual é o problema, Tácia.

— Ela! Ela é o problema! — Profere abraçando a sua irmã. — Nicolly agora cisma em saber sobre o seu pai. Ela agora insiste em trazer o passado de volta, o passado que destruía com minha vida. Você sabe o quanto eu sofri para sustentar ela, sabe o tanto de problemas que eu enfrentei por ela. Agora que eu consegui reerguer à minha vida, ela vem tocar em assuntos do passado. Eu não aguento! — Comprimi com força a costa de sua irmã, fazendo com que ela solte um leve gemido.

— Calma, minha irmã. Eu conversarei com ela. — Responde tentando tranquilizá-la. — Mas eu ainda acho que você deveria contar a verdade para ela. Nicolly iria entender. — Tácia solta de meu abraço e começa a me encarar.

— Ele não iria entender, você não percebe o jeito patricinha dela? Ela gosta de ostentar suas coisas, o seu jeito de se vestir já fala por si próprio. Olha aqui, Tarcilia! Se você se atrever a contar qualquer coisa do meu passado para ela, esqueça que teve uma irmã! — Profetiza exasperada.

***

Me desabo em lágrimas, deitada em minha cama. Sinto as gotinhas de lágrimas pingarem o tecido rosa do meu colchão fofo. Porque ela persiste em esconder o passado de mim? Porque ela mente tanto? E o que realmente houve para que o meu pai fosse embora? Ouço batidas na porta mas finjo não ouvir, sinto ela sendo aberta.

— Sou eu, minha querida. — Minha tia fala vindo de encontro à minha cama. — Conversa comigo.

Eu não queria, mas talvez eu conseguisse tirar informação por ela. Tiro o pano que cobria o meu rosto e olho para ela. — Porque ela não me conta a verdade?

— Olha meu amor. — Senta-se sobre minha cama. — Sua mãe já sofreu demais por conta de seu passado. Ela... — Interrompo-a falando num tom alto.

— Eu não me importo, Tia. Eu só quero saber o que houve com o meu pai? Se a senhora não pode me ajudar nisso, peço que se retire. — Ela não fala mais nada, apenas levanta-se, indo para a porta do quarto em passos lentos. Mas antes que ela pudesse sair, chamo pelo seu nome.

— Tia Tarcilia? Só me diga qual era o sobrenome do meu pai. — Vejo que ela respira fundo antes de me dar uma resposta.

— Fonseca. Juano Fonseca.

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