CAPÍTULO 03

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— Nicolly, espera! — Profere levantando-se da cama e deixando o seu celular cair no chão.

Movo-me em passos acelerados, descendo os andares. Vejo que Kaique me segue, implorando para que eu o ouvisse, mas eu finjo não ouvir. Chego na porta de saída, mas o meu braço é puxado com força para trás. Kaique me vira, fazendo-me ficar cara a cara com ele. — Você está me machucando. Dá para me soltar?

— só se você prometer me ouvir. — Responde enquanto tenta manter o contato visual comigo.

— Okay. — Minto. Kaique começa a soltar meus braços lentamente, olho de relance para o meu braço e bufo, vendo que ele me deixou com manchas vermelhas sobre a pele. Não espero que ele comece a falar, acerto um tapa de cheio em seu rosto. Kaique segura na parede a fim de não cair. Dou um impulso no seu peitoral e corro em direção ao carro preto. Escuto o próprio gritar pelo meu nome, mas eu não paro. Abro a porta do carro preto e me adentro. Ligo o carro e tento dá partida, mas Kaique se joga contra o carro, bufo. Ele começa a andar, vindo até o espelho em que eu me encontrava.

— Precisamos conversar com calma. — Ele profere. Começo a gargalhar da sua cara vendo que o próprio já estava irritado. Encho minha boca de saliva sem que ele perceba e cuspo em seu rosto.

— Conversa com a Mary, babaca! — Dou partida no carro com a maior velocidade. O ódio irradiava-se sobre todo o meu corpo. Eu ainda me pergunto porque eu vim a esse encontro? Agradeço aos céus quando percebo que eu já estava na pista. A nevoada ainda caía naquela área. Depois do ódio que eu passei logo mais, a minha fome falou alto, mas eu não poderia cessar a minha trilha agora. Procuro por algo que eu possa degustar no carro, sorrio ao ver que tinha diamante negro. — como eu não tinha visto isso antes? — resmungo. Coloco uma música qualquer no rádio.

***

Enfim chego em casa, paro o carro e vejo que horas são no meu relógio de pulso de cor dourada, — Ainda são 23:20. — Digo enquanto abro a porta do carro para poder sair. Fecho a porta do carro e vou em direção a entrada da minha casa. Estremeço ao perceber que a porta está entreaberta. — Minha mãe está acordada à essa hora? Mas ela estava dormindo. — Digo para mim própria enquanto adentro em minha casa. Olho pelos cantos e percebo que a televisão e a caixa de som sumiram, meu nervosismo só volta a crescer. Entro na cozinha, mas vejo que está tudo normal.  — Mamãe uma vez tinha me dito que ia vender a televisão, a caixa de som e outros objetos de utilidades. Ela disse que queria renovar a casa, dar um tom mais moderno para ela. Mamãe é doida! — Sorrio enquanto subia as escadas que davam acesso ao quarto da minha mãe. Abro a porta do quarto lentamente para que não acordasse ela. Percebo sangue no chão e começo a chocar meus dentes.

— Mamãe! — Grito quando vejo ela caída no chão, com a testa coberta de sangue. — O que fizeram com você? — Profiro sentando-me ao seu lado e passando minhas mãos sobre o seu rosto meio roxo. Vejo uma faca ensanguentada em sua mão direita. Talvez fosse um assalto, não sei. Coloco meus dedos sobre o seu pescoço afim de sentir a sua pulsação, comemoro em lágrimas ao perceber sua respiração. — Ficará tudo bem, eu te prometo. — Levanto-me e vejo que a janela está aberta com sangue nas bordas, confirmo a mim mesmo que foi um assalto. Procuro pelo celular da minha mãe mas não encontro. Então decido pegar o meu e ligar para uma emergência.

— Alô? Tenho uma mulher ferida aqui comigo... okay, não demorem, por favor! Ela está muito ferida. — Dou a localidade de onde eu me encontrava, a ligação é desligada. Olho para todos os ângulos da casa, mas vejo que está tudo perfeitamente em seu lugar. Testemunho uma caixa de sapato, com enfeites, entreaberta em cima da cama, decido pegá-la. Na tampa da caixa tinha o nome "lembranças do passado". Começo a vasculhar tudo que havia ali dentro. Lágrimas começam a escorrer pelo rosto instantâneamente, eu não conseguia conter. — Papai! — Acariciava uma foto em que havia um cara barbudo, pele branca e cor dos olhos escuro. Estaba com umas de suas mãos abraçado em minha mãe, que segurava um bebê em seus braços, talvez fosse eu. Coloco a fotografia sobre a cama e volto a vasculhar tudo. Sobressalto ao ver uma carta em que havia o nome de minha mãe, "Tácia". Pego uma folha que estava dentro da carta e abro.

Na folha havia escrito:

"𝑂 𝑚𝑒𝑢 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑙𝑒𝑚𝑎 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑓𝑜𝑖 𝑜 𝑏𝑒𝑏𝑒̂, 𝑎 𝑛𝑜𝑠𝑠𝑎 𝑓𝑖𝑙𝘩𝑖𝑛𝘩𝑎. 𝑉𝑜𝑐𝑒̂ 𝑠𝑎𝑏𝑒 𝑒𝑥𝑎𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑚𝑜𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑢 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑟 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑖𝑛𝑑𝑜."

Mais lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Sinto com os meus dedos mais uma folha de papel dobrada dentro da carta, pego-o. Desdobro a folha de papel e vejo que a própria foi rasgada tempos atrás, comemoro ao perceber que dava para ler o que estava escrito.

"𝑀𝑢𝑑𝑎, 𝑝𝑒𝑙𝑎 𝑛𝑜𝑠𝑠𝑎 𝑓𝑖𝑙𝘩𝑖𝑛𝘩𝑎. 𝐸𝑙𝑎 𝑎𝑔𝑜𝑟𝑎 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑎𝑟𝑎́ 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑎 𝑎𝑗𝑢𝑑𝑎. 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑚𝑢𝑑𝑜𝑢, 𝑠𝑎𝑏𝑒𝑟𝑎́ 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑚𝑒 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑟."

"𝐷𝑜 𝑠𝑒𝑢 𝑎𝑛𝑡𝑖𝑔𝑜 𝑒𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑟, 𝐽𝑢𝑎𝑛𝑜".

Eu não estava conseguindo conter minhas lágrimas. Mais uma vez, tudo veio por água abaixo. Olho para minha que ainda estava desacordada no chão. — Por que isso mamãe? — indago limpando minhas lágrimas com os dedos. Escuto a zoada do que deve ser um Samu, me ausento do quarto e vou de encontro à porta de entrada.

***

Faz alguns minutos que eu estou no hospital. Minha mãe ainda não teve nenhuma reação, o que me deixava preocupada. Olho no meu relógio e vejo que já são 00:50, seguro nas mãos de minha mãe e vejo a própria mechendo os olhos. Sorrio ao vê-la abrir seus olhos lentamente.

— Aond... eu est... — Indaga com a voz falhando.

— Calma mamãe, estamos no hospital. Já está tudo bem. — Respondo depositando beijos em seu rosto.

— Que horas sã... minha querid...

— Já vai dar 01:00, mamãe.

— Meus parabén... amor. — Minha mãe fala. Não consigo conter minhas lágrimas mais uma vez. Eu nunca pensei que algum dia eu viria passar meu aniversário num hospital. — Desculpa minha querid... Não queria que você passasse o seu aniversário aqui. — Declama enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas.

— A culpa não foi sua, mamãe! — Tento confortá-la fazendo carícias em seu rosto. Eu estava com muita ansiedade de perguntar o que realmente aconteceu com o meu pai, mas eu não queria transtornar a minha mãe no estado em que ela se encontrava. O choro de minha mãe ecoa por todo o quarto.

— Eles levaram o dinheir... do aluguel da casa. Eu não sei como vou arrumar dinheiro para pagar o aluguel.

— Calma mamãe, não fica assim, nós vamos dar um jeito. — Profetizo beijando sua testa mais uma vez. Afasto-me da maca em que minha mãe estava e começo a andar de um lado para o outro, à procura de alguma ideia. Lembro-me de uma pessoa de anos atrás que prometeu me ajudar quando eu estivesse precisando de dinheiro. Me ausento do quarto do hospital e vou até o corredor. Pego o meu celular e Procuro pelo número da pessoa. Consigo remomerar o número. A ligação está sendo feita, por fim alguém atende.

— Alô? — A voz masculina grossa e rouca adentra em meu ouvido.

— Niih aqui? Aquela proposta ainda está de pé?

Talvez Não Exista Um "amanhã".Onde histórias criam vida. Descubra agora