Capítulo 6 - Premonições

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Dois anos se passaram desde aquele primeiro dia de aula.

Kelly não mudara muito: continuava aquela menina quieta e sem amigos que todos conheciam. Ela sempre dizia para si mesma que só o amor e a atenção de seus pais bastava, mas admitia que ela se sentia meio vazia quando ia à escola.

Felizmente, ela tinha descoberto um novo hobbie para esquecer a solidão: livros.

Quando estava passeando no shopping com seu pai, quando tinha quatro anos, eles passaram por uma livraria aberta cheia de livros coloridos. Ela se interessou especialmente por uma que continha vários livretos infantis com desenhos nas capas (ela não podia fazer nada, ela era uma criança), e correu para ver melhor.

Ela pegou um dos livros e o abriu, vendo vários desenhos de bichinhos coloridos; mas ela não conseguia entender as palavras direito - ela tinha aprendido algumas palavras na escola  e já sabia escrever a maioria delas, mas não era bem uma especialista de leitura.

- Filha, o que houve? - Stephan parou e olhou para ela, vendo que não estava andando com ele.

Ela mostrou o livro para ele, e Stephan suspirou.

- Você quer o livro, filha? Mas você nem sabe ler direito.

Cabisbaixa, Kelly devolveu o livro à estante e continuou a andar com o pai pelo shopping, deixando Stephan com um enorme peso na consciência.

Alguns dias depois, quando Stephan estava voltando do trabalho e passou pelo shopping, ele se lembrou do desejo da filha e teve uma ideia. E pensa na surpresa e alegria de Kelly quando ele apareceu em casa com o tal livro e um dicionário.

- Ei, calma lá! - Stephan levantou o livro quando Kelly tentou agarrá-lo. - Primeiro, você precisa aprender a ler, e eu vou te ensinar, aí eu te entrego o livro. Certo?

Kelly assentiu, empolgada. E assim, ela passou os meses seguintes tendo aulas de leitura e escrita com Stephan.

Ela aprendeu surpreendentemente rápido, e antes do fim do ano já conseguia ler livros de 100, até 200 páginas. Isso também melhorou seu desempenho nas aulas, fazendo com que Kelly recebesse constantes elogios das professoras e olhares tortos de outros alunos, principalmente de Laura.

Agora, ela passava a maior parte de seu tempo livre lendo, para orgulho dos pais. Até mesmo tinha um novo lugar favorito depois de sua casa: a biblioteca da cidade, que ela descobriu quando o pai cansou de comprar livros novos toda vez que ela terminava um.

- Na biblioteca, você pode pegar um livro de graça para ler, desde que devolva. - Stephan explicou.

Para Kelly, era a definição do Paraíso.

Por sorte, a biblioteca ficava a poucas quadras de sua casa, e como a região era bem segura, os pais deixavam ela ir andando até lá nos fins de semana, onde ela ficava por horas e horas a fio.

E foi em um desses dias que aconteceu.

Era uma tarde de sábado quente, e Kelly, como sempre, estava se dirigindo para a biblioteca. Ela passou pelos mesmos lugares de sempre - o parque, a padaria, as  casas dos vizinhos -, até avistar o prédio cinzento com fachada de madeira na frente.

Ao contrário da escola, esse lugar não dava angústia em Kelly, mas sim tranquilidade; um dos poucos lugares em que ela se sentia segura e não vulnerável.

Ela abriu as portas duplas de carvalho da biblioteca, recebendo uma lufada de ar fresco no rosto. Havia dois andares repletos de estantes e mais estantes de livros de todos os tipos, tamanhos e idiomas. Algumas poucas pessoas estavam sentadas nas mesinhas entre essas estantes, a maioria velhos ou estudantes de faculdade.

A História De Kelly AndersonOnde histórias criam vida. Descubra agora