Capítulo 10- Um Amigo

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6 Anos depois ~

Kelly estava na fila, como todas as outras crianças. Ela olhava para frente, nunca para os olhos daqueles que passavam, como foi instruída a fazer. Ela tinha apenas que esperar.

O casal que examinava as crianças foi se aproximando passo a passo de onde ela estava. Ela discretamente puxou um pouco mais a manga da blusa, escondendo as marcas vermelhas em seu braço. De canto de olho, viu Vanessa sorrir-lhe algumas crianças à frente, e teve que se segurar para não avançar na garota, como sempre fazia.

Eles se aproximaram mais e mais, então passaram direto por ela, indo direto ao fim da fila. Kelly quase suspirou. Por fim, eles se viraram e olharam para a freira posicionada perto da porta, que aguardava a decisão do casal.

- Acho que gostamos daquele menininho no fim da fila. - O homem disse. - Ele é pequeno ainda, e definitivamente muito educado.

A freira sorriu.

- Timmy realmente é uma criança muito boa, senhor e senhora García. Por aqui por favor, para assinar os documentos. - Ela indicou a porta atrás dela, e eles saíram.

Assim que a porta se fechou, todos suspiraram coletivamente - alguns de alívio, outros de decepção. Kelly estava em algo entre os dois. As crianças saíram pela porta oposta à que os adultos saíram e se dirigiram à sala de aula, exceto o pequeno Timmy, que saiu saltitando alegremente para os dormitórios para arrumar suas coisas e ir para sua nova casa.

Casa.

A quanto tempo não se sentia em casa.

Kelly se arrastou atrás das outras crianças de sua idade, e entrou na sala cinzenta e abafada onde eles teriam as aulas do dia. Sentou-se em sua carteira no fundo, e não ficou surpresa ao ver as palavras "Demônio", "Maluca" e "Doente" escritas em sua carteira. Estava apagando as inscrições quando irmã Amélia entrou marchando na sala, fechando a porta atrás de si.

Seu olhar desviou de todas as crianças conversando e fazendo bagunça e recaíram-se sobre Kelly, ainda passando a borracha na mesa, sem levantar o olhar. Ela sorriu.

- Ora, ora, senhorita Anderson, escrevendo na mesa novamente? Acho que terei que te ver depois da aula. - Cantarolou.

As outras crianças riram, ao que Kelly apenas assentiu. Estranharia se aquilo não acontecesse.

Irmã Amélia sentou-se em sua mesa e fez umas anotações em sua lista de chamada, antes de por fim pedir silêncio à turma.

- Bom, crianças, antes de iniciarmos a nossa aula, gostaria de lhes informar que teremos um novo colega aqui no Saint Marie. Digam oi ao William.

Kelly demorou para processar a informação - estava acostumada com a sua rotina monótona no orfanato, então qualquer coisa fora do normal a surpreendia -, e levantou a cabeça, se esticando como os outros para ver a criança nova.

Seria gorda? Seria magra? Seria estranha, assim como ela? Ou seria popular e arrogante como Vanessa? No entanto, olhando para o rapaz na frente da sala, ela não soube dizer que tipo de criança ele era.

Era um rapaz alto e magro, mas não exageradamente, com cabelos pretos como a noite e olhos azuis brilhantes e vivos. Sua pele era bem pálida, destacando as olheiras embaixo de seus olhos, mas, de alguma forma, ele não parecia cansado - na verdade, parecia estar bem ativo. Usava calças, botas e casaco pretos, com um cachecol longo e vermelho em volta do pescoço. Ele não parecia se encaixar em nenhuma das categorias que Kelly definiu.

Ele olhou ao redor rapidamente, e seus olhos pousaram em Kelly. Eles se encararam por alguns segundos, até que Kelly desviasse o olhar e fingisse estar escrevendo algo em sue caderno. Ela ainda sentia o peso de seu olhar em si quando a irmã Amélia voltou a falar:

A História De Kelly AndersonOnde histórias criam vida. Descubra agora