As estrelas já brilhavam no céu e a lua refletia toda sua beleza nas águas de Veneza. Thomaz comia sozinho na mesa de jantar, não era de seus pratos preferidos, mas estava delicioso, a empregada caprichava. O pai se amargurava na sala, tinha sempre suas recaídas em relação a morte de Elena, sua falecida esposa, mãe de Thomaz e Elis, qualquer bebida servia naquele momento, a mesma música sempre se repetindo, era a música preferida dela, mantinha sempre em um volume baixo, o choro conseguia ser mais alto.
Depois da refeição, o rapaz subiu para seu quarto, não queria ficar ali vendo aquela mesma cena de sempre, sabia que logo começaria uma discussão entre seu pai e sua irmã, não se davam bem. Elis foi adotada quando pequena por sua mãe, cresceram como irmãos, mas Elena privou a garota de chama-lo de pai já que o homem nunca optou por “filhas”, depois da morte da mulher, a garota se vê perdida por não ter mais nenhum apoio.
Enquanto ajeitava suas folhas de papel e alguns lápis pequenos, Thomaz ouviu a porta da sala abrir, se tratava de Elis que chegava de mais uma festa com suas amigas, usava aquilo como fuga para não ficar em casa e observar o sofrimento de Roberto, “seu pai”.
-Aonde estava, Elis? Isso não é hora para garotas estarem na rua! -Dizia Roberto, um pouco já bêbado e amargurado. -Não quero que filha minha fique por aí nesse escuro.
-Você não é meu pai, e age como se fosse minha primeira noite saindo, saio todos os dias e... Está bêbado, não é? Imaginei. -Respondeu Elis, ignorando aquela situação e subindo para seu quarto.
O quarto da garota ficava um pouco a frente do de seu irmão, quando chegava, sempre passava ali para deixar seus beijos e desejar uma boa noite. Thomaz pode ouvir as batidas da porta e logo abriu, já sabia de quem se tratava. Com um abraço longo, perguntou a sua irmã como tinha sido sua noite e se estava tudo bem, a garota afirmou com um sorriso no rosto, os dois se falavam no corredor já que o garoto não deixava ninguém entrar em seu quarto.
Se despedindo, Elis partiu para seu quarto e Thomaz voltou para o seu, aquela era a parte preferida de seu dia, quando arrumava suas cortinas e diminuía as luzes para observar Janelle, sua musa dos desenhos, a garota mais linda que viu em toda sua vida, sabia dos horários em que a moça fechava seu estúdio de arte e subia para o segundo andar. A janela da moça tinha uma pequena sacada que dava de frente para a sua, mas evitava sair e se mantinha na surdina. Da janela, enxergava uma pequena geladeira e um fogão logo do lado, ali era aonde Janelle fazia seus refeições e as vezes se divertia dançando.
Hoje se dedicaria a desenhar seu sorriso e seus cabelos ondulados.Do outro lado, sem saber que estava sempre sendo observada, Janelle esperava cozinhar um macarrão pronto enquanto falava no telefone com Isaac, um de seus alunos e um de seus melhores amigos, que não largava de jeito nenhum de seu pé.
-Você não vai acreditar em quem eu vi hoje perto daquela floricultura... -Fofocava Isaac, adorava fazer aquilo principalmente quando estava com sua amiga.Antes de responder, Janelle ouviu batidas em sua porta e pediu 1 minuto para Isaac, deixando no viva voz caso fosse algum bandido, assim o amigo teria provas do suspeito. Mas se tratava de Neide, sua outra melhor amiga. A jovem morava no apê da frente e trabalhava quase o dia inteiro para garantir seu sustento, gostava de ser muito batalhadora apesar de ser tão nova.
A amiga vinha trazendo algumas trufas em sua bolsa, sabia que eram as preferidas da amiga e enquanto voltava do trabalho, passou e comprou algumas. Janelle logo convidou a jovem para entrar, ela aceitou mesmo dizendo que ficaria pouco, Isaac reconhecendo a voz, cumprimentou Neide.
-Também quero trufas, viu, Neide?! -Dizia Isaac, sorrindo e zombando da amiga.
-Compro algumas pra você depois, Isaac. -Respondeu Neide muito simpática e fazendo sua promessa do dedinho.
Os três conversaram por algum tempo, até mais do que esperavam. Com o celular de Janelle descarregando, Isaac se despediu e Neide foi para seu apê, ambos precisavam descansar, até mesmo o macarrão que ficava pronto, esfriou.
Organizando as coisas, Janelle pegou uma cadeirinha e colocou em sua sacada, para finalmente poder jantar mesmo que a janta já estivesse fria. Comia enquanto observava as estrelas e a lua, que visão maravilhosa. Ali era um corredor de água, por isso uma brisa fresca sempre insistia em bagunçar alguns fios de seu cabelo, que naquela da noite, já estava preso para cima e em seu corpo, vestia uma camisa grande como pijama.
Estava quase pegando no sono naquela cadeira, se levantando, recolheu a vasilha aonde tinha comido, partiu para dentro pra finalmente dormir já que tinha aulas no outro dia. Antes de trancar sua janela, ouviu algo cair no chão, vinha da sacada em frente, parou por alguns segundo mas não havia ninguém, as cortinas já estavam fechadas. Ignorou, fechou as trancas e se jogou na cama macia que ficava no canto.
Na manhã seguinte, Thomaz acordava como sempre cansado, mas sua motivação ficava logo ali na frente, mesmo que fosse pequeno ou quase nada, sempre sorria. Se levantando, partiu para o banheiro para tomar um banho quente e se trocar para ir trabalhar junto a seu pai, a família mexia com os negócios das embarcações que navegavam ali. Depois de terminadas suas higienes, desceu até a cozinha e bebeu um pouco de suco, cumprimentou os empregados e saiu a pé junto a Roberto, já que a empresa não ficava muito longe dali.
Sua sorte era que passava em frente ao estúdio de Janelle, que era aberto logo cedo. Naquela manhã, a moça regava suas plantinhas e não pôde notar que Thomaz passava por ali, na verdade, não sabia que o rapaz era seu vizinho ou de quem se tratava.
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Grafite da Lua
RomanceTalvez para Thomaz, tudo tenha começado quando aquele caminhão de mudança chegou e uma voz indiferente pedia para que tomassem cuidado com seus bens mais preciosos. O mais impressionante, era que se tratavam de telas e pincéis sujos, bisnagas de tin...