“Será que Janelle me acha tão feio ou pensou que fosse um bandido?”. Foi a primeira coisa que passou na cabeça de Thomaz depois de ver a jovem disparar para dentro de seu apê.
Continuou seu caminho até chegar em casa, que ficava ali do lado, do outro lado da pequena ponte. Chegando, notou que Anthony estava sentado no sofá mexendo no celular provavelmente lhe esperando.
-Demorou hoje em, amor da minha vida. -Disse Anthony atormentando seu amigo.
-Haha, vou me trocar e já volto.
Thomaz subiu para seu quarto e não encontrou seu pai pelo corredor, nem sua irmã, com certeza não estavam em casa. Trocou sua roupa fechada por uma mais fresca, desalinhou um pouco seu cabelo e vestiu um chinelo confortável.
Depois de trocado, desceu e foi até a cozinha pegar uma garrafinha de água enquanto conversava com Anthony.
-E essa mancha na sua camisa? -Perguntou Thomaz enquanto observava a camisa do amigo.
-Um garoto derrubou em mim... Ele estava junto com uma moça, você ia gostar dela.
-Como ela era?
-Bom, parece que tinha acabado de sair do serviço, estava com um chinelo, o cabelo preso e uma roupa comum, eu acho.
“Mas Janelle trabalhava descalço, não poderia ser ela”. Como a garota não saia de sua cabeça, claro que tentou associar, mas as características pareciam não bater 100%.
-E seu pai, como está? -Perguntou Thomaz já que Anthony parecia tão bem.
-Quer dizer por que não estou com um roxo nos olhos, não é? Ele deve estar bem, eu acho, quase não vi ele hoje. E o seu?
-O de sempre.
Os dois sentaram no sofá e começaram a assistir qualquer filme que parecesse mais interessante.
Anthony não fechava a boca e insistia em falar sobre festas que precisavam ir e mais garotas que precisavam conhecer. Thomaz apenas concordava e ria de alguns comentários bem mal feitos do amigo.
Os dois quase caiam no sono quando a porta foi aberta e uma voz gritava alto os nomes, era Elis com várias sacolas na mão e algumas já jogadas no chão. A moça pedia por ajuda para levar as compras até a cozinha.
-Não fez compras esse dias? -Perguntou Thomaz curioso.
-A comida acaba rápido aqui, Thomaz.
Anthony muito participativo logo abriu o primeiro pacote de bolacha que viu pela frente e voltou ao sofá para comer e assistir o filme que já tinha até acabado.-Anthony, essa é minha bolacha! -Disse Elis enfurecida vendo seu doce sendo devorado.
-Não é mais, gata.
Elis apenas revirou os olhos ignorando a situação e subiu para seu quarto com pressa enquanto ligava o celular. Não demorou muito até Roberto chegar e cumprimentar os garotos.
-Aonde estava, pai? -Perguntou Thomaz desconfiado.
-Passei na casa de um amigo para entregar alguns papeis, nada demais.
-Elis está em casa? Trouxe esse vasinho de flor pra ela.
-Depois eu entrego pra ela, pai.
O homem passou na cozinha e bebeu um pouco de água, logo depois subiu para seu quarto para descansar depois do dia longo. Anthony continuava na mesma enquanto assistia e via o tempo passar.
-Thomaz, se quiser ir dormir, pode ir, eu fecho as coisas aqui depois.
-Então tá bom, mas vê se tranca mesmo, viu?!
-Pode deixar.
Com o recado dado ao amigo, Thomaz subiu para seu quarto levando a flor de Elis, provavelmente a moça não queria ser incomodada, então deixaria naquela noite em sua sacada.
Não era muito de dar as caras em sua sacada, por isso deixou a flor lá e voltou para dentro, mas se lembrou que plantas também precisavam de água.
Pegando sua garrafinha que ficava na cômoda, abriu e foi em direção a sacada, despejou na florzinha e notou a cortina de Janelle balançando como se tivesse acabado de aparecer ali, e seu pensamento não estava errado.No mesmo momento em que se virou, a moça surgiu por causa de sua movimentação, mas ignorou e voltou para dentro. Desencontrando por um acaso.
Voltando para sua escrivaninha, ficou por alguns segundos observando seu painel aonde estavam pregados vários desenhos de Janelle, colocava uma música que lembrava a moça e curtia o momento. Parecia tão estranho estar apaixonado por alguém que estava bem ali na sua frente mas não tinha coragem ou intimidade o suficiente para se declarar e terem algo juntos, nem que fosse uma amizade.
Na outra manhã, Anthony acordou assustado quando percebeu que não estava em casa, e sim na sala de Thomaz. Se levantou rápido, correu para cozinha e chupou a primeira bala que encontrou, saiu pela porta e trancou tudo como pediu o amigo. Talvez aquela fosse a quinta vez que vazia isso.
Atravessando a ponte, notou que o garoto do dia interior estava em frente a um estúdio de artes que ficava ali do lado, na verdade, no mesmo lugar de antes, parecia distraído enquanto conversava com alguém do lado de dentro. Passando em seu lado, deu um pequeno apertão em sua cintura e desejou bom dia, nem parecia que sua alma ainda estava presa naquele sofá.
-Oi! Bom dia, Anthony. -Desejou Isaac forçando uma voz calma, mas na verdade seu coração quase saia pela boca.
Depois dos comprimentos, Anthony seguiu seu caminho deixando Isaac pasmo e trêmulo.
-Janelle, Janelle, Janelle, você viu?
-O que, Isaac?
-Era ele, Janelle. Era o Anthony, ele me desejou bom dia.
-Que bom, meu querido. Agora só falta alguns amassos não, é?!
Os dois sorriram e continuaram no estúdio arrumando as coisas, enquanto esperavam o restante dos alunos chegarem para começar a aula.
-Bom dia, amigos. -Cumprimentou Neide para a dupla, abraçando cada um e escondendo em suas costas algo.
-Como prometido, aqui está Isaac, suas trufas. Precisei avisar no serviço que iria mais tarde só pra te entregar.
Isaac morreu de felicidade e logo engoliu várias. Neide trabalhava como empregada em uma casa grande que ficava alguns quarteirões dali, limpava tudo perfeitamente para agradar seus patrões.-Tenho quase certeza que Anthony irá apanhar hoje do seu pai, vi ele na rua agora pouco... -Disse Neide meio desanimada.
-Que Anthony? -Perguntou Isaac. -Um tatuado, cabelo castanho e olhos claros?
-Ele mesmo, trabalho lá na casa dele a um tempo já, não sabia?!
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Grafite da Lua
Roman d'amourTalvez para Thomaz, tudo tenha começado quando aquele caminhão de mudança chegou e uma voz indiferente pedia para que tomassem cuidado com seus bens mais preciosos. O mais impressionante, era que se tratavam de telas e pincéis sujos, bisnagas de tin...