Um conto de Flores e Espadas

A primeira ceia

O cheiro que dominou toda a sala quando Ariana colocou a grande panela de Bifun de porco na mesa de centro ia ficar gravado na mente dos irmãos ninja para sempre. Era tão maravilhoso e perfumado que Raphael sentiu toda sua boca se encher de saliva antes mesmo de servir o próprio prato.

"Uau!" Ariana exclamou, depois de chegar da cozinha acompanhada por Michelangelo, ainda com o avental que mestre Splinter costumava a usar amarrado na cintura "Você tem cara de quem não vê uma refeição de verdade faz muitos anos. "

"Pode apostar..." ele respondeu, já se servindo sem fazer nenhuma cerimônia.

Todos se serviram, April e seus irmãos começaram a comer mas as Filhas da Lua juntaram as mãos e fizeram uma reverência.

"Itadakimasu. Tabemashou!"

Ariana, que ainda estava em pé, tirou o avental e inclinou levemente o corpo antes de sentar.

"Itadakimasu!"

Mas Raphael não percebeu que aquelas mulheres ainda conservavam algumas tradições que seu pai havia tentado ensina-los, ele estava destraido demais comendo a melhor refeição da sua vida. O macarrão era macio e a carne suculenta, as vezes enquanto ele comia conseguia morder pedaços de cenoura e cebola crocantes, tudo isso coberto de um molho liso e perfumado. Só quando terminou o primeiro prato e foi se servir mais uma vez que notou o estranho silêncio que reinava na mesa. Percebeu que seus irmãos também comiam como se fosse a última refeição e as guerreiras Kunoichi se entreolhavam, segurando o riso.

Sem conseguir se conter, foi Naomi que começou a rir primeiro. Ela soltou uma risada baixinha e discreta, como se fosse uma princesa que ri por debaixo do leque na corte Imperial. Mas de nada adiantou sua discrição porque imediatamente depois Nikkia soltou uma risada alta e indiscreta. Todas as irmãs a acompanharam depois, sem tentar disfarçar.

"O quê?" Michelangelo perguntou, com a boca suja de soyu e as bochechas cheias de macarrão. Raphael olhou para seu irmãos e percebeu como todos eles pareciam esfomeados, sentiu um pouco de vontade de rir também.

"Nada..." Naomi respondeu, pegando um guardanapo da mesa "Não se preocupe com isso, Mike..."

Ela levantou o guardanapo e usou para limpar o molho da boca de Michelangelo. Por um milésimo de segundo, ele achou que ia morrer. Enquanto ela passou o papel em seus lábios, ele pode sentir o cheiro do seu cabelo e olhar para seus olhos. Sabia que estava vermelho mas ela pareceu não se importar, sorriu para ele com uma doçura que ninguém nunca o tinha oferecido e voltou a falar como se não fosse nada:

"Perdoem nossa gracinha, filhos de Hamato. Estávamos rindo porque Ariana sempre achou que nós não merecíamos sua comida... Bem, que nos não dávamos o devido valor. Ela sempre fala que comemos como... Passarinhos?"

Ariana sorriu e continuou comendo.

"Mas" continuou Naomi "Parece que agora ela achou os admiradores que encontrava!" E sorriu mais uma vez, para o encanto de Michelangelo.

"Nós fomos feitos um pro outro." Ari sorriu e deu uma piscadinha para Rafa, que, já acostumado com as provocações que ela fazia, revirou os olhos e percebeu ela rindo. Naquele segundo, Raphael sentiu que a amava. Não um amor romântico ou sexual, mas sim um amor fraternal e doce, como o que se sente por sua melhor amiga ou ainda mais, por sua irmã. Ele se perguntou se ela podia ver isso em seu rosto por conta da capacidade que tinha de ler emoções... Ela podia.

"Bem..." Naomi começou a falar "Acho que podemos discutir os pormenores do ensino  da April agora, já que ela não tem guardiões e estamos com sua família."

"Vou fazer um chá!" Ari se levantou rapidamente da mesa, Leonardo comia mais um pouco de macarrão direto da panela, lamentando que tinha que deixar uma parte daquela deliciosa refeição para a recuperação de Casey.