A festa

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Depois que Michelangelo tinha tomado coragem e convidado Naomi para um encontro, a festa correu normalmente. É claro, tirando o brinde bem alto e indiscreto que Raphael tinha feito em homenagem à coragem de Mikey, que achou que seus irmãos fizeram tanta festa e o provocaram tanto que talvez Naomi até mudasse de ideia. Ela não mudou - ainda bem, ele pensou mais tarde quando foi dormir - Mas achou que talvez eles tivessem passado da conta.

A verdade mais honesta que pode ser dita daquela noite é que eles ficaram muito bêbados muito rápido. Principalmente Leonardo e Donatello, que se envolveram em muitas apostas durante a celebração. Eles descobriram, infelizmente, que as Filhas da Lua tinham um costume terrível de fazer apostas por tudo e qualquer coisa. Apostavam quem equilibrava melhor a colher no nariz, quem podia comer uma pizza mais rápido, quem segurava o ar por mais tempo e toda aposta envolvia que o perdedor engolisse doses exageradas de álcool. Naquela brincadeira de criança, todos acabaram passando da conta.

Em determinado momento, já depois de altas horas da noite, Leonardo provocou as guerreiras Kunoichi.

"Essa história de que todas vocês tocam piano como mestres... Não sei não."

Nikkia tomou partido e sentiu -se ofendida, então logo respondeu:

"Você duvida das minhas habilidades, mortal?"

Leonardo e Nikkia pareciam se divertir mais do que todos com as apostas. Eles riam um do outro por qualquer bobagem e durante vários momentos April achou que eles fossem se beijar, de tão próximos que ficavam para provocar um ao outro, com a aposta do piano, não foi diferente.

"O que eu vou ganhar quando provar para você todo o meu talento com as mãos?"

Todos desataram a rir quando ela se levantou graciosamente e fez um gesto imitando um maestro ao se sentar ao piano. O instrumento, por sua vez, era um simples piano de parede que os irmãos Hamato tinham conseguido pois esse era um dos requirimentos para o aprendizado de April. A principio, Savana tinha explicado muito antes da festa começar, toda filha da Lua tem  que saber tocar com primazia dois instrumentos e todas elas sabiam tocar o piano.

"Eu aceito o meu pagamento em boquetes" Nikkia respondeu, depois de terminar de tocar.

Ela tocou magestosamente, como Leo imaginava que apenas um grande pianista pudesse tocar, tinha se sentado ao piano e apenas em alguns minutos tinha feito toda a sala ficar silenciosa diante de seu talento. A música que tinha escolhido era muito rápida e seus dedos percorriam as teclas com uma velocidade que não parecia nem um pouco prejudicada pela bebedeira. Era, de fato, espetacular. Todos os irmãos Hamato tinham desacreditado e agora tinham perdido a aposta de 100 dólares, que, ao que parecia, podiam ser pagos em boquetes.

Eles riram em uníssono. Mikey ria alto, seu sorriso era imenso e apoiado na bancada da cozinha, segurava uma caneca de cerveja na mão. Ao seu lado, Donatello estava debruçado sobre a mesa acompanhado de Savana e Ariana. As duas também bebiam, mas em ritmos bem mais lentos se comparadas a Raphael e Nikki, que agora tiravam sarro um do outro do outro lado do cômodo. Sentada perto deles, Noami lutava para desviar das garrafas de cerveja que cada um carregava e eventualmente da cerveja que eles derrubavam ao redor.

"Ora, ora, ora, o que mestre Splinter diria desse comportamento, Raphael Hamato!"  Michelangelo provocou, rindo.

"Pergunte ao herdeiro nato clã, Mestre Leonardo Hamato." ele disse, apontando os braços para o irmão, como num circo ou teatro.

Leonardo se levantou e em tom de provocação, ergueu os braços delicadamente pouco acima dos ombros e enquanto suas mãos flutuavam, começou:
"Meu filho: não deixe seu mundo animal controla-lo. Devemos ser como mentes tranquilas e equilibradas, sem nunca deixar nossos instintos dominar-nos"

Nesse momento, Ariana soltou uma gargalhada que a fez espirrar cerveja pelo nariz e a piada cresceu dez vezes mais. Leo ria tanto que sua barriga doía e seu maxilar já estava cansado. Num breve instante, talvez um milissegundo, percebeu que já fazia um longo tempo que se não se sentia tão a vontade, tão leve, tão feliz.

~~

Na manhã seguinte, April acordou e percebeu que estava deitada no chão do covil, ainda com as mesmas roupas da festa, com uma terrível dor de cabeça e um gosto amargo na boca. Ela se arrastou até o sofá e deitou ao lado de Savana, que parecia igualmente desmaiada. Antes de dormir, ela contou os corpos na sala e deu falta de três pessoas: Leonardo, Nikkia e Naomi. Ouviu um assobio tranquilo vindo da cozinha e concluiu que devia ser Nomi antes de se lembrar que a festa tinha terminado com Kiki e Leo apostando para ver quem ganhava uma corrida por Nova Iorque.

~~

Leonardo acordou com uma dor de cabeça insuportável. Insuportável era realmente a palavra, porque achou sinceramente que não ia conseguir abrir os olhos nunca mais.

Sentia uma pontada terrível que atravessava a tempora por trás dos olhos, um gosto amargo e pegasojo na boca e suas mãos estavam formigando. Ele teve que se levantar muito lentamente para garantir que não ia vomitar imediatamente. Enquanto fazia isso, percebeu que estava deitado em uma cama, uma cama grande e muito macia, em um apartamento que ele não reconheceu. Olhou para os lados para tentar examinar melhor o espaço mas a sua direita a luz do dia fez ele tremer de dor. Colocou a palma da mão no rosto para evitar a radiação e olhou para o outro lado.

Do seu lado, deitada absolutamente sem um par de roupas estava Nikkia, que dormia profundamente abraçada no travesseiro. Leonardo sentiu o estômago afundar. Olhou para sí mesmo e percebeu que também não vestia os trajes de luta que costumava.... E então, se lembrou.

Não de tudo, mas de alguns fragmentos. Os dois lutando no topo daquele prédio, já absolutamente embriagados, rindo e constrangendo um ao outro. As mãos dela no seu pescoço quando ela caiu por cima dele e lambeu seus lábios. A sensação maravilhosa da sua língua contra a dela. O gemido que ela deu quando eles invadiram o apartamento vazio e deitaram no chão. Lembrou que a boca dela tinha um gosto terrível de gin e limão e que ela beijava rindo. Que tinha um corpo maravilhosamente macio e cheio de vigor...

Ele teve que conter suas memórias, porque sentia que ia ser estimulado de novo só pela lembrança do contato dos seus corpos. Olhou para ela, deitada entre os grossos cobertores cor de musgo e sentiu uma vontade incontrolável de abraça-la. Não o fez, principalmente porque tinha receio da reação mas também porque ouviu ela gemer ao acordar.

Ela se levantou com muito menos dificuldade do que ele. Ergueu o corpo e se sentou na cama, olhou para os lados coçando os olhos e encontrou os dele. Achou que talvez ela tivesse ficado um pouco envergonhada e sentiu um resquício de timidez no seu olhar, mas antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela bufou e caiu com a cabeça de volta no travesseiro.

"Ai... Caralho..."

Ele coçou a parte de trás do pescoço e começou a tentar ensaiar uma resposta quando ouviu ela terminar:

"De novo não."

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⏰ Última atualização: Feb 03, 2020 ⏰

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