As quatro Filhas da lua

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"Muito bem." Ela continuou, um pouco tímida, porque os meninos tartaruga olhavam para ela quase sem piscar "Vou falar tudo que sei."

April se sentou entre eles. Estavam todos sentados no extenso sofá que tinham no covil e o silêncio que seguiu as palavras dela fazia os túneis subterrâneos de Nova Iorque parecerem especialmente vazios. Ela abriu novamente o grosso livro que tinha ganhado de presente, aquele que havia chamado de "Dicionário da arte Kunoichi" em uma página com uma ilustração.
"As quatro Filhas da lua são assim chamadas por causa de suas semelhanças com o astro: elas são silenciosas, noturnas e perpétuas."

"Perpétuas? Tipo.... Imortais?" Michelangelo interrompeu, com a boca cheia de pizza. Ele tinha chegado em casa e visitado seu estoque de caixas e caixas de pizzas de calabresa, Que guardava unicamente para ocasiões de emergência. Comia para conseguir se acalmar, mas cada pedaço acabava com duas mordidas.

"Não imortais." April respondeu " Seus corpos são mortais, como os de todo mundo... diz a lenda que são suas almas que são perpétuas... Cada vez que uma das Filhas da lua morre, ela renasce em um outro corpo. As quatro, na verdade, sempre renascem juntas, sempre como irmãs." Ela virou a página do livro, nenhum dos irmãos conseguia ler o que estava escrito " Sem nenhuma lembrança das vidas passadas, cada geração de irmãs acontece aleatoriamente pelo mundo, como o nascimento de um novo Buda. E cada time acontece sempre com a mesma estrutura."

Ela virou o livro mais uma vez e na página que seguiu todos puderam ver a bela ilustração de uma guerreira japonesa, ainda da época do Japão Imperial, segurando uma cesta de pêssegos com uma flor de Sakura no cabelo.

"A chamada Primeira Irmã, a Primogênita da lua, era conhecida por sua capacidade inumana de enxergar através das pessoas.... Ela era tão sensível e cheia de compaixão que era impossível mentir para ela. Com um olhar, ela saberia dizer se seu adversário mentia, se estava com raiva ou magoado, quais eram seus desejos e suas intenções. Aqui no livro tem várias histórias de como ela sozinha evitou várias guerras, só com sua capacidade de decifrar seus guerreiros."

Ela virou a página mais uma vez. A próxima guerreira tinha uma tocha na mão e um balde com água na outra "A Segunda Irmã era conhecida por sua capacidade milagrosa de curar qualquer ferida e sarar qualquer doença. Suas capacidades curativas eram tão intensas que algumas culturas as consideravam divinas... Reza a lenda que ela é guardiã do segredo da imortalidade."

"Não é o que parece. " Raphael respondeu sarcasticamente. April o ignorou e virou a página mais uma vez. A ilustração mostrou uma guerreira esguia e muito alta, com as vestes cheias de sangue e duas katanas em posição de ataque.

"A Terceira Irmã era conhecida por ser tão precisa e inclemente que era como uma máquina de matar." April parou e ficou olhando a ilustração, em seu semblante havia uma clara mistura de preocupação e medo. "Não houve nenhum guerreiro que desafiou sua honra e sobreviveu. Ela é responsável pela proteção das outras três irmãs e por isso existe uma mitologia que diz que ela é sempre a última a morrer, na maioria das vezes de velhice."

April virou a página do livro pela última vez, a quarta e última ilustração mostrava uma guerreira com trajes largos e transparentes, de mãos vazias e olhos tão brilhantes que parecia que o ilustrador tinha trocado suas pupilas por duas grossas pepitas de ouro.

"A Última irmã, a caçula das quatro, tinha a capacidade exclusiva de se comunicar com o espírito da lua. Com esse dom, conseguia acessar passado e futuro, e suas previsões eram temidas por serem sempre exatas. Ela era objeto de desejo e inveja por onde quer que passasse."

Com essa última frase, ela fechou o livro. Uma nuvem grossa de poeira se formou em volta dela enquanto ela dizia:

"Juntas, as Filhas da Lua formam o time perfeito, pois cada uma tem completamente desenvolvido o que são considerados as quatro principais características de uma guerreira Kunoichi: capacidade de compreensão de outro, de cura do corpo físico, de dano ao corpo físico e de acesso ao plano espiritual, chamado "não fisico". Juntas, são absolutamente imbatíveis e só conseguiu desafiar suas proezas aqueles que conquistaram seus corações e as traíram."

Orgulhosa por ter conseguido resumir tudo tão bem, April limpou as mãos e completou: "Bom, isso é tudo que eu sei."

"Tá, April...." Raph começou a falar, a ansiedade o deixava tagarela e nessa noite ele estava especialmente falante. "Que ótimo esse negócio aí de guerreiras, mas sinceramente... foda-se. Porque as quatro são mutantes e como as quatro podem ser tartarugas.... É pra essa parte que eu quero explicação."

"Bom..." Ela respondeu "Isso eu não sei."

"Isso tudo me parece conveniente demais." Donatello finalmente disse, depois de se esforçar muito para ficar calado durante a explicação. "O que garante que tudo isso não é uma belíssima armadilha? Quais são as chances de uma coincidência dessas? Porque elas estão tão interessadas em tirar você de nós?"

O silêncio se seguiu. A última frase de Donnie ficou pesada no ar. Mas ele não ligava, já fazia um tempo que tinha parado de disfarçar seu interesse por April. Foi ela quem respondeu:

"Elas não querem me tirar de vocês, Don... Elas querem me ensinar a lutar melhor. Só isso... Permitir minha independência. Para que eu seja capaz de escolher."

"Bom..." disse Leonardo, se prontificando a quebrar a tensão "sobre a armadilha... Não sei se acredito muito nisso. Fazem quase cinco anos que o Clã do Pé foi derrotado, não temos nenhum inimigo vivo. Para ser sincero, acho que o mundo se esqueceu de nós. " havia uma certa tristeza na voz dele ao dizer essas palavras "Talvez seja realmente apenas uma grande coincidência."

"Talvez sejam nossas irmãs!" Mikey exclamou, ainda com uma pizza na boca. Raphael olhou para ele e pensou pelo milionésima vez como seu irmão mais novo ainda não tinha ficado obeso. A verdade era que ele ainda era o menor deles e conservava o mesmo corpo esguio.

"Improvável." Donatello respondeu " A mutação delas é muito diferente. Elas têm cinco dedos e o casco não se preservou completamente. Além disso... acho que elas podem ser uma espécie inteiramente diferente de tartaruga."

"Então, o que sabemos até agora é que April as convidou, já que ao que parece elas são as herdeiras dessa antiga tradição que... reencarna guerreiras?" Disse Leo.

"Sim... É, mais ou menos." April respondeu, sem paciência para repetir os detalhes.

"Puta coincidência desgraçada." Raphael concluiu, pegando ele mesmo um pedaço de pizza.

"Você devia chama-las até aqui." Leonardo respondeu. Michelangelo e Raphael engasgaram simultaneamente com seus pedaços de pizza.

"Chama-las??? Você está louco! Não sabemos nem se podemos confiar nelas!" Foi Donnie que respondeu, com o rosto verde completamente tomado por um cor profunda de vermelho.

"Mas essa é a solução. Traga-as aqui. Deixe elas provarem que são quem pensamos que são... Que mal pode fazer!? Estamos na nossa casa, somos um time de guerreiros treinados. Se forem impostoras, não terão a menor chance." Ele disse, pegando um pedaço de pizza para si "e se não forem, April... Elas podem fazer o que vieram fazer: te dar o presente de mestre Splinter."

Um breve silêncio.

"Acho uma boa." Mikey comentou, imediatamente mudando de idéia ao imaginar a perspectiva de ver todas aquelas mulheres de novo.

"Eh... acho que tanto faz. Estamos precisando mesmo de uma abalada por aqui..." Raphael respondeu e deu de ombros.

"VOCÊS SÃO TODOS LOUCOS" Donnatello até tentou gritar, mas o grupo já tinha se dispersado e April se preparava para chamar as novas visitas para dentro do Covil.

Um conto de Flores e EspadasOnde histórias criam vida. Descubra agora