Capítulo 2

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         Ayanna estava tão abalada ao ponto de nem perceber que não sabia onde estava, aqui rua onde estava não era conhecida para ela, no entanto ao invés de seguir rumo a sua casa, ela apenas levantou-se e passou a caminhar adentrando ainda mais no desconhecido. Estava agindo no automático. Sua mente girava em mil pensamentos. Até poucas horas atrás tinha certeza de tudo em sua vida, agora tudo parecia vago. Uma oração silenciosa se iniciou.

"Pai obrigada por me livrar disso. Eu estou perdida, submersa em puro desespero. Ele tentou me forçar, não isso é pouco, ele realmente me violaria se eu não fugisse. Como eu não percebi quem ele realmente era? Como pude me entregar a essa relação sem ter certeza do que você queria? O que vai acontecer agora? O que será de mim? Me dá socorro, me da alívio."

         Sem se dar conta Ayanna entrou em um bairro nobre, a noite já caia, mas antes que pudesse pensar direito sobre o que fazer o céu rapidamente se fechou e tão rápido como um ascender de luzes a chuva começou separar sobre ela, e eram pingos grossos e violentos. Raios ressoavam alto a fazendo estremecer de medo, o frio sobre a pele arrepiou. Sendo tomada por aquela impetuosa água vinda do céu, acordou de seus mais profundos pensamentos. Olhou para todos os lados mas a rua extensa estava vazia, não havia nem mesmo onde se esconder. Com as mãos sobre os braços tentando em vão aliviar o frio começou a dar passos largos na tentativa de se achar e voltar para casa. O desprezo tomou proporções extremas ao perceber que seu choro não era mais silencioso. Tudo estava desmoronando, naquela altura nem mesmo pensou ter alguma saída para ela, pensou que talvez seu fim se daria ali mesmo. Jogada na tempestade, prostrada, como uma menina no mundo jogada.

"Não, não mesmo. Me recuso a aceitar isso eu vou conseguir sair dessa eu sei que vou." bradou dentro de si.

         Passou a repetir diversas vezes para si mesma um versículo bíblico que amava "Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará.

***

         Perto dali estava aquele dos olhos sombrios e enigmáticos. Debaixo da sacada observava a chuva, que ia ficando cada vez mais forte. Na sua infância Matteo experimentou o medo dos trovões e da chuva forte, ela ainda o incomodava, mas logo após perder o pai decidiu que nada mais o faria temer. Queria lutar contra tudo que despertasse qualquer sentimento contraditório nele. E jamais ninguém saberia sobre seus temores, para todas as pessoas ele não tinha medo de nada, e assim ele deixaria seguir.
Gotas fortes respingavam sobre ele, que nem mesmo se importou, era uma afronta contra a chuva, como se ela pudesse ouvir seus pensamentos sinicos dizendo: "Não tenho medo de você"
         Mas algo chamou sua atenção. No meio daquele deserto, debaixo daquela raivosa chuva que descia sem parar alguém estava se movendo. Olhos atentos e curiosos forçaram para enxergar mais, e ele a viu. Não dava para ver nada de seu rosto, mas pela estrutura logo percebeu ser uma mulher.
"O que diabos essa louca está fazendo" foi seu primeiro pensamento, mas ainda observando ela se mover algo dentro dele gritava, sem saber porque estava se importando tanto seu coração implorava para que ele fosse até ela.
         Uma batalha entre razão e emoção (até então escondida a sete chaves) começou a se travar dentro dele, nada fazia sentido. Se alguém queria estar na chuva correndo riscos de gripe, febre e até mesmo ... que seja, morra lá, mas ao mesmo tempo, algo dentro dele aplicava para fazer algo sobre isso. Tomado por um impulso ele saiu o quarto, desceu as escadas correndo, e numa velocidade indecifrável estava do lado de fora da mansão. Os seguranças do local estavam se questionando sobre o que ele faria. Um corajoso tomou a palavra e gritou:

— Senhor Walker está tudo bem? A chuva está forte, não seria melhor esperar ela passar para sair?

         O coração de Matteo não permitiu dar ouvidos ao que lhe foi falo, ele apenas continuou seguindo ignorando tudo a todos, inclusive a chuva. Ao passar pelos enormes portões, pode avistar a moça agora mais próxima, parecia apenas uma pequena jovem. Com rapidez correu até ela.

— Ei garota, o que está fazendo nessa chuva? A tempestade está forte, volte para casa.- Seu tom de voz era de imposição, mas nada aconteceu, a garota permaneceu andando.

— Você está me ouvindo? Saia já dá chuva.- impaciente voltou a falar — Você é surda? Eu disse para sair dessa tempestade.

         Matteo se adiantou e segurou o braço dela, mas ao tocá-lo ela paralisou.

— Venha para dentro.

         Ao se mover em direção aos grandes portões, ela puxou seu braço e ele por impulso segurou mais forte. Mas se assustou ao ouvir o grito vindo dela.

— Me solta!

— O que...— Antes que pudesse terminar a frase notou que aquela probre moça estava chorando.

— Chega por favor, não faça isso. Vocês homens podem ter tantas mulheres que os querem, não tem que forçar. Moço eu estou te pedindo por favor não faz isso, eu imploro me solta e me deixar ir, eu juro você nunca mais vai me ver em toda sua vida.

         Ao perceber sobre o que aquela estranha mulher falava ele logo disparou.

— Eu não pretendo fazer nada a você, estou apenas querendo ajudá-la. Vamos sair do meio dessa tempestade.

         A essa altura ele também já estava com suas roupas sociais completamente exarcadas, o cabelo gritava em seu rosto mas sua maior preocupação não era com ele e sim com ela.

— Por favor não.

         Ao notá-la resistindo ele não viu outra alternativa, com agilidade a pegou no colo e antes de ir em disparada para dentro disse:

— Vai ficar tudo bem, eu não vou fazer nada com você.

         Ao verem o Walker se aproximando alguns seguranças esperam com toalhas nas mãos, que habilmente foram colocadas sobre aquela moça desconhecida.

— Chamem a Marta, diga que espero em meu quarto.— Disse rispidamente, adentrando aquela enorme casa, naquele momento pensou o quão irritante era ter que passar por vários cômodos até chegar em seu quarto.

         A garota que até então só chorava, parecia inerte, Matteo tocou em sua testa e apesar de aparentar gelada por estar molhada se encontrava fervendo, rapidamente subiu os degraus da escada que parecia gigantesca. Ao adentrar o quarto, depositou-a na cama, e passou a toalha de forma leve pelo seu rosto. Poucos segundos depois uma senhora nos seus 60 anos entrou em disparada, espatanda questionou.

— O que houve querido?

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