Nossos Mundos

Capítulo 4

       
         Cinco dias haviam se passado desde que voltara para sua casa, Ayanna tinha tirado aqueles dias para se recuperar, estava entre o trabalho e sua casa. Decidiu que esses últimos dias estaria em um contato mais íntimo com Deus procurando por respostas, era óbvio que seu relacionamento havia chegado ao fim, poderia prosseguir com ele mas sabia que mais na frente seriam apenas mais dores de cabeça e choros intermináveis. Após abrir a bíblia pedindo a Deus para que falasse claramente com ela tudo indicava o fim.

Para tudo há um tempo certo; Há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu.
- Eclesiastes 3:1

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
- Romanos 12:2

Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.
- Efésios 5:17

         Ler essas palavras que já eram conhecidas por ela de alguma forma a fez compreender que esse relacionamento não estava na vontade de Deus, ela já tinha visto sinais disso antes, mas uma parte de sua mente preferiu ignorar, isso porque depois de tanto tempo sozinha e tanto sofrimento acumulado para ela era melhor ter alguém não tão bom do que ficar sem ninguém, e sem se dar conta caiu no pior tipo de relacionamento que alguém como ela (cristã) poderia estar, se iludiu ignorando todos os sinais claros que estavam bem na sua frente. Se sentia culpada, tanto que ouviu de seus pais e de seu pastor sobre os enganos do relacionamento precipitado. Agora enfim entendia.
          Algumas decisões precisavam ser tomadas e algumas atitudes tinham que acontecer. Primeiro precisava encerrar de uma vez por todas esse relacionamento fadado ao fracasso. Não é como se ela não estivesse sofrendo, ela estava , e muito, todo término é sofrido, principalmente se as coisas sucederam como no caso dela. Os dois primeiros dias foram os piores, ela só chorava, a dor dilacerava seu coração, no terceiro de alguma forma amanheceu melhor, talvez o fato de este namoro não ter sido vontade de Deus ela não esteja sofrendo tanto, no fundo sabia que recebeu conforto vindo do céu. Estava a cada dia que se passava mais certa sobre o que não queria para sua vida e certamente Lucca estava no centro disso. Precisava ir ao encontro dele para encerrar tudo, porém tinha medo do que poderia acontecer.
          Decidida ligou sua internet pela primeira vez depois do terrível acontecido. Várias mensagens inundaram seu celular, mensagens dele inclusive. 

   "Anna me desculpe pelo que aconteceu eu estava fora de mim."
   "Anna vamos conversar."
   "Onde você está?".

          Era final de tarde e sabia que a praça em que costumavam se encontrar perto de sua casa estaria razoavelmente cheia a essa hora. Enviou para ele uma mensagem:
   "Lucca preciso conversar com você, me encontre em meia hora na praça perto de casa"
      
          Após trinta minutos depois lá estava ela, em pé esperando por ele que não demorou muito em aparecer, seu semblante estava abatido, ele parecia triste. Mas ver isso não foi suficiente para Ayanna amolecer, estava certa do que tinha que fazer. Não esperou ele se aproximar muito e já foi falando.

— Não temos muito o que ser dito, eu quis encontrar você apenas para deixar claro o que obviamente precisava acontecer... — Antes que ela pudesse terminar, ele interrompeu aflito.

— Anna por favor não. Me escuta tá legal? Eu errei com você e admito isso, mas nós só precisamos de um tempo para nós acertar, não precisa nada extremo. Isso tudo foi culpa do álcool. Eu jamais forçaria nada com você se não fosse por isso. Foi apenas um deslize.

— Escute bem o que vou te dizer Lucca — Tomada por um impulso de coragem e valentia ela disse sem parar. — Vamos esclarecer umas coisas, primeiro nós não precisamos de tempo nenhum para nós acertar porque eu não quero, entendeu? Eu não quero mais nada ligado a você, segundo, você não deveria me forçar a nada nunca, nem com álcool e nem sem ele, você já começou errando ao ingerir bebidas alcoólicas, depois em querer sexo comigo e para completar ao querer me forçar a isso. Você tem uma falha de caráter e isso só foi revelado e acentuado por causa do álcool, e por sorte eu descobri isso logo, ou então meu sofrimento seria pior. Não existe mais nada entre nós, nossa história se encerra aqui.

          Ela deu mais uma última olhada afiada para ele antes de erguer sua cabeça e se virar para sair, mas foi impedia por uma mão que segurava seu braço tão forte quanto pôde.

— Nós ainda não terminamos de falar, você não vai sair. — O olhar de Lucca era desafiador e mal. Ela pode sentir isso.

— Você quer mesmo fazer uma cena bem aqui? Na frente de todas essas pessoas? — Sentiu o aperto em seu braço afrouxar. — E sim nós terminamos de falar tudo. Por quê eu não tenho mais nada para falar com você e também não quero ouvir mais nada. E agora eu vou sair.
      
         Dito isso ela puxou seu braço e caminhou o mais rápido que pôde para longe dali. Ela não percebeu mas deixou para trás um homem enraivecido e decidido a não deixar as coisas terninarem por ali. Ao sair da vista de Lucca ela conseguiu finalmente respirar, lágrimas caíam de seu rosto sem que ela conseguisse controlar. Ao chegar em sua casa disse a si mesma que essa era a última vez que choraria por isso, por ele, e então desabou.

***

         No dia seguinte Ayanna estava decida a mudar o rumo de sua vida completamente, se arrumou para ir ao que seria seu último dia de trabalho. Ao chegar lá conversou com o gerente do restaurante e pediu suas contas. E no final do dia quando enfim recebeu seu pagamento pelo tempo que trabalhou, deixou aquele lugar se sentindo livre. Talvez esteja na hora de voltar para sua cidade natal por um tempo e ver quais são os planos de Deus para sua vida. Ao sinal do dia já de volta a sua casa estava em uma ligação com sua mãe, estava contando tudo o que aconteceu, não queria falar nada com sua família até ter uma certeza.

— Sim mãe, mais uma vez eu digo, eu estou bem, nada me aconteceu, eu demorei um pouco mas consegui me recompor e agora estou bem.

— Querida eu gostaria muito de estar perto de você, para te consolar, não consigo nem imaginar o que poderia ter acontecido a você. Eu jamais me perdoaria por deixá-la sozinha se aquele maldito tocasse em você.

— Mamãe eu já disse, agora está tudo encerrado, eu planejo ir passar alguns dias com vocês, então nós falaremos melhor está bem? Beijo. Te amo.

        Ela não contou todos os detalhes a sua mãe, sabia que estaria preocupando ela atoa. Ao encerrar a ligação pegou uma pequena mala E começou a colocar algumas roupas dentro, amanhã compraria uma passagem e iria de encontro a sua família.

***

         Seis dias. Seis dias que a vida de Matteo voltou ao normal. Era isso o que ele dizia, mas a verdade estava longe de ser essa, Ayanna não saia de seus pensamentos, ele lutava mas era impossível, aquelas manchas em sua pele, seu olhar triste, e o questionamento de o porque ela estava naquela tempestade impediam ele de conseguir seguir em frente, estava a ponto de enlouquecer, como se já não tivesse problemas o suficiente, ainda tinha esse: ela.
        Cansado de mais uma tentativa inútil de se concentrar em seu trabalho, desistiu, estava em sua casa trabalhando em seu escritório, ou ao menos tentando. Desceu as escadas, entrou em um ponto escondido atrás da sala de jantar, desceu mais um ramo de escadas e se encontrou de frente para a porta que levava para seu submundo, uma sala de treinamento, tirou a camisa que estava e colocou as luvas de boxe, e passou a golpear o saco, enquanto disparava diversos socos sua mente viajava, todos aqueles sentimentos reprimidos estavam ali, ele queria entender o porque de repente aquela garota passou a fazer parte de seus pensamentos, mesmo quando fazia de tudo para não pensar nela sua mente sempre voltava para sua imagem, isso o irritava, passou tanto tempo para se fechar emocionalmente e em apenas um olhar se viu preso novamente. Depois de algumas horas sentiu seu corpo esgotado, subiu para seu quarto, tomou um banho frio, e após se jogar em sua cama apenas um pensamento rodava, ele iria procurá-la, esta era a única certeza que tinha, de alguma forma precisava encontrar ela.