Capítulo 3

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        Matteo ficou alguns segundos parado apenas olhando aquela garota, até que por fim virou-se para a mulher que ainda espantada olhava para aquela cena sem entender nada, já que nunca vira uma moça entrar naquela casa.

— Ajude-a se secar.— Foi tudo o que ele disse antes de sair.

        Ao ver aquela senhora ali no quarto, Ayanna conseguiu enfim respirar melhor, seu medo se esvaiu por pouco. Até que novamente sentiu as lágrimas em rosto, sentia raiva, medo, nojo, repulsa. Eram tantos sentimentos ruins que mal poderia descrevê-los. Seu estômago embrulhou, sentia queimar tudo dentro de si, olhou ao redor e viu três portas dentro daquele imenso quarto.

"Qual será o banheiro?"

         Sem muito pensar levantou-se em direção a primeira porta que vira e por sua sorte era mesmo o banheiro, correu até o vaso e despejou tudo que havia em seu estômago para fora. Suas pernas tremiam e não era por causa do frio, estava mole e longe, sua cabeça girava. E tudo o que conseguiu pensar foi um pedido de ajuda a Deus. Marta foi atrás dela e em todo momento falava palavras de calma e conforto para ajudá-la.

        Do outro lado Matteo havia substituído suas roupas molhadas por roupas secas. Seu coração queimava por saber mais sobre aquela garota, não que ele se importasse mas realmente queria ter a certeza que ela estava bem. Pegou um pijama que pertencia a sua mãe em um dos quartos, e parou na porta de seu quarto. A mão na maçaneta, e sua mente se perguntava se deveria ou não abrir a porta. Batidas ecoaram, mas nenhuma resposta foi ouvida. Sua mão deslizou e abriu a porta adentrando o quarto, girou seu olhar até parar na cama e perceber que ela não estava lá. Sem tempo para pensar ouviu um barulho vindo do banheiro que estava com a porta aberta. Em passos lentos andou até lá, e a viu tão frágil. Marta estava no banheiro segurando seu cabelo enquanto ela vomitava.
         Ayanna levantou-se mas estava sem forças. Aconteceu muito rápido, quando pensou que cairia sentiu braços fortes segurar seu corpo, tudo o que viu foi um borrão antes de cair em sono profundo.

***

        Algumas poucas horas de passaram quando Ayanna se remexeu na cama, ao abrir os olhos sua primeira visão foi ele, que fora o último a quem ela viu. Ao lado dele estava aquela bondosa senhora com o olhar preocupado. Ela logo exclamou.

— Graças a Deus querida, você acordou, como se sente? Está sentindo alguma dor?

        Ayanna apenas balançou a cabeça em negativa mesmo que aquilo não fosse verdade. Percebeu que estava com um pijama quente, e se sentiu envergonha ao pensar que alguém a trocou, alguém a viu sem roupa e alguém viu que falava algo nela. Olhou ao redor e parou os olhos nas duas portas que davam acesso a sacada, estavam abertas, pôde ver que ainda era noite.

— Venha querida, sente-se eu trouxe um chá quentinho e remédios para que você possa melhorar.

         Matteo levantou-se de súbito e saiu apressado daquele cômodo, deixando dois olhares curiosos e questionadores para trás. Entrou em seu escritório atordoado. O que seria aquilo? Por quê depois de tanto tempo sentimentos estranhos estavam surgindo? Por quê tinha compaixão e preocupação com aquela garota? Ele não queria isso, queria continuar sua vida trancando todos os sentimentos dentro de si, e os fazendo inexistentes. Mas lá estavam eles, entrando e o cortando por dentro.
         Enquanto Ayanna comeu e tomou o chá junto dos remédios, Marta deixava tudo pronto para que ela tivesse uma noite tranquila, ela ainda não entendia o porque o Sr. Walker deixou aquela menina em seu quarto. Aquele lugar era intocável para qualquer outra pessoa que não fosse ele. Até mesmo a limpeza tinha que ser monitorada por Marta. Ser governanta por anos naquela casa a fez conhecer bem Matteo, e isso queria dizer que ela sabia que nenhuma mulher jamais entrou naquele quarto e deixou naquela cama. Era surreal o que estava acontecendo. Marta saiu e deixou a menina deitada.
         Não muito distante dali Matteo travava uma batalha em seu íntimo, seu coração pedia para ir ver aquela pequena mulher, sua mente dizia "não, isso é loucura". Por fim adentrou em dos quartos de hóspede, disposto a dormir, mas não conseguiu passou a noite toda se remexendo na cama. Dizia para si mesmo "amanhã ela irá embora e tudo voltará ao normal".

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