Zero três quartos e um pouquinho

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Son acordou com as inúmeras batidas estrondosas em sua porta. Seja lá quem fosse, estava com bastante pressa.

Levantou devagar, diferente da pessoa que estava batendo na porta e tocando a campainha sem parar, não tinha pressa nenhuma.  As pancadas na porta pareciam mais altas cada vez que se aproximava. Olhou pelo olho-mágico e bufou.

ㅡ O que vocês querem? ㅡ perguntou Son, sem abrir a porta.

ㅡ Chaeyoung, abre logo essa porta! Faz uma semana que você nos evita ㅡ disse Tzuyu, o tom impaciente de sua voz era perceptível.

ㅡ Vou evitar por quantas semanas forem necessárias. Não tá óbvio que não quero ver ninguém?!

ㅡ Você não pode se esconder das pessoas pra sempre ㅡ disse Kim.ㅡ Uma hora ou outra você vai ter que sair daí.

Chaeyoung bufou. Abriu a porta e deixou que as duas entrassem. Respirou fundo, preparando-se para ouvir vários sermões sobre seu estado.

ㅡ O que aconteceu aqui? ㅡ Tzuyu andou até o canto da sala.

A casa de Son estava tão acabada quanto a dona; completamente bagunçada, tinha garrafas de uísque vazias por todo canto, caixas de fast-food espalhadas pela cozinha, o chão estava coberto por poeira. Parecia uma casa abandonada.

ㅡ Chae... Olhe pra você; está péssima.

Dahyun tentou abraça-lá, mas a menor à afastou.

ㅡ Você tá se alimentando bem? Parece tão... Magérrima.

Chaeyoung não respondeu, andou até a geladeira e abriu-a. Tirou uma jarra d'água e bebeu direto da mesma.

ㅡ Son Chaeyoung, não pode nos ignorar pra sempre! A gente só quer te ajudar.

A menor mordeu os lábios antes de começar a chorar. Dahyun abraçou-a, tentando passar algum tipo de segurança ali.

ㅡ Tudo bem.. Entendo como de sente.

Son empurrou a mais velha. Não acreditava no que ouviu.

ㅡ Você entende? ㅡ debochou. ㅡ Não, não entende. Foi a Tzuyu que morreu?! Foi a sua mulher que morreu?!

Chou tentou falar algo, mas foi interrompida.

ㅡ Você não entende como me sinto! Nenhuma das duas entendem! Sabe por quê? Porquê não foi a garota de vocês que morreu. Caralho, por que não me deixam em paz? Quero ficar sozinha. Pra sempre se possível...

ㅡ A gente só quer te ajudar ㅡ Chou se pronunciou ㅡ, pra quê descontar tudo na gente? Não foi nossa culpa do ônibus ter batido no carro dela...

Chaeyoung fungou e sentou no sofá. Apoiou os cotovelos em seuas coxas e cobriu seus olhos.

ㅡ A culpa foi minha...ㅡ resmungou baixinho.

ㅡ Não foi sua nem de ninguém, ok? Pare de se culpar, essa culpa toda tá te destruindo do pior jeito, Tigrinho...ㅡ Kim passou a mão pelos cabelos da mais nova.

Sentou e fez com que Son deitasse com a cabeça em seu colo. Acariciava os fios da mais nova sem se importar se estavam oleosos, queria ser o mais compreensiva possível.

Nem Chou nem Dahyun perguntaram sobre os quadros quebrados no meio da sala.

Todos eles eram pinturas de Mina, que Chaeyoung destruiu em um ataque de raiva, não aguentava vê-los sem sentir rancor de si mesma.

Chou levou-a ao banheiro. Deu um banho na mais velha, tentando ignorar o estado que se encontrava seu corpo.

Son estava tão magra que seus ossos marcavam em sua pele; estava frágil, suas unhas quebradiças; tão pálida que poderia ser confundida com um fantasma. Tinha a aparência de uma pessoa doente, muito doente.

Era tão difícil vê-la daquela forma. Quem à visse daquele jeito, nunca à reconheceria. Chaeyoung, aquela garota tão alegre, que vivia sorrindo e falando pelos cotovelos, aquela que nada parecia à abalar... Estava tão frágil e sem vida.

Fizeram uma comida para ela, fast-food durante um mês não era nada saudável.

ㅡ Não quero, estou sem fome. Mas obrigada ㅡ empurrou o prato.

ㅡ Chae, por favor, vai acabar morrendo se continuar assim.

A menor cedeu. Enquanto comia, Tzuyu e Dahyun colocavam tudo em seu devido lugar, arrumaram a casa por completo, mesmo Son dizendo que não precisava.

Apesar de estar se fazendo de difícil, estava tão agradecida por toda essa ajuda.

Não sentia-se merecedora de amigas tão incríveis. Isso à fazia com um peso muito maior em suas costas, por que elas estavam à ajudando? Chaeyoung era uma idiota grosseira que descontava sua raiva e tristeza em qualquer um. Não se importava se as outras pessoas se preocupavam com sua saúde mental e física.

Queria sumir pra sempre, ir para bem longe, subir no monte Everest e pular lá de cima.

Ou talvez merecesse mais que isso. Sentia-se merecedora de uma morte lenta e dolorosa, queria sofrer. Ela era a culpada da morte de Mina.

The angelOnde histórias criam vida. Descubra agora